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    Empreendedor ismo: empreenaedores eproprieterios-qerentes de pequenos neg6cios

    Lou is J a cques F il ion

    "Je suis mal-aise d esbranler;mais estant avoye, je vais tant qu'onveut. J'estrive autant aux petitesentreprises qu'aux grandes ... "

    Michel de Montaigne, EssaiQualquer discussao sobre pequenas empresas deve, necessariamente,

    ser precedida por uma discussao em tome do conceito de proprietarios-gerentes de pequenas empresas, e nao se pode falar nisso sem tambemfalar sobre 0 conceito de empreendedor. As abordagens e os metodosusados tern variado bastante em diferentes paises e mesmo continentes. NaGra-Bretanha, por exemplo, de Bolton (1971) ate os anos 80, muito foi ditosabre proprietanos-qerentes (Stanworth et alii, 1982; Stanworth & Gray,1991), mas desde entao as atencoes tem-se voltado cada vez mais para osempreendedores (Burns &Dewhurst, 1989; Birley, 1989; Deakins, 1996).Nos Estados Unidos, ambos vern sendo tratados com atencao, mas os em-preendedores tern sido favorecidos como campo de pesquisa (Kent, Sexton& Vesper, 1982; Sexton & Smilor, 1986; Sexton & Kasarda, 1992).

    Mais de mil publicacoes surgem anualmente no campo do empreen-dedorismo, em mais de 50 conferencias e 25 publicacoes especializadas.Areas de especializacao tern sido criadas, em numero consideravel, inclu-indo inovacao e criatividade, criacao, inicio, novos empreendimentos,abertura e fechamento de empresas, crescimento de empresas, auto-emprego e microempresas, franquias, bern como as varias dimensoesdos empreendedores (comportamentos, sistemas de atividade, processosempreendedoristicos, fntrapreendedorlsmo'U e empreendedorismocorporative, tecnoempreendedores), 0desenvolvimento regional, 0 em-preendedorismo etnico, os sistemas de apoio ao empreendedorismo e aspoliticas govemamentais, 0empreendedorismo cooperative, a formacaoem empreendedorismo, os empreendedores do sexo feminino e, final-mente, a pesquisa de pequenos negocios e conseqilentemente suas abor-dagens funcionais, incluindo financas, marketing, gerenciamento de ope-racoes, gerenciamento de recursos humanos, sistemas de informacao eestrategia.

    T ra du ~a o d o in gle s fe Ha p or M ar ia L etic ia G aliz zie P au lo L uz M ore ira e re visao fina l da tra du ~a o

    pe lo P ro fe sso r F ern and o D ola be la d aU niv ersid ad e F ed era l d e M in as G era is.

    R ec eb id o e m d ez em b ro /9 72' v e r s a o em s e t e m b r o / 9 8

    L ou is J ac qu es F ilio n e P ro fe sso r r esp on sa ve l p elaC ad eira de E n tr ep re ne ur sh ip M a cle an H u nte rd aH EC , F acu ld ad e d e Ad min istra ~a o d a Th eU n iv er sity o f M o nt re al B u sin es s S c ho ol e m em brod o C on se lh o In te rn ac io na l p ara P eq ue no s N eg 6c io s( ICSB ) .E -ma i l : Lou isJaques .F i l i on@hec .ca

    Revista de Adm i n is tr a cao , Sao Paulo v.34, n .2 , p .0 5 -2 8 , abril/junho 1999 5

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    L ou is J ac qu es F ilio nEste artigo destina-se tanto

    a iniciantes quanta a especialis-tas (ver tambern Filion, 1997;1998a; 1998b). Obviamente,nao se tenta cobrir todos os as-pectos Iistados, os quais consti-tuem 0 campo do empreende-dorismo. 0objetivo e descrevere discutir os elementos centraisdo conhecimento atual sobreempreendedores e pro prieta-rios-gerentes de pequenos ne-qocios. Inicia-se 0 texto exami-nando 0universe do empreen-dedor, como visto pelos pionei-ros do campo, os economistas, e depois pelos behavioris-tas, que tern mostrado, atraves dos anos, consideravel inte-resse no assunto. Apes descreve-se, com exemplos, a ex-pansao do campo alem de suas fronteiras e sua conseqlien-te expansao para praticamente todas as disciplinas da areade ciencias humanas e gerenciais. Nos topicos posterioressao examinadas algumas tipologias de proprietarios-qeren-tes, propondo-se uma nova, produto de uma taxonomia.Em seguida, os impactos da tipologia proposta sobre a es-trateqia de pequenos neqocios sao brevemente analisadose algumas propostas teoricas, principalmente da decadepassada, sao consideradas e comentadas. Finalmente, eproposta uma definicao de empreendedor, representativadas tradicionais tendencies de pesquisa na area.

    Nos anos 80, 0campo doempreendedorismoexpandiu-se eespalhou-sE~para varias outras discip/in~rs.

    Organiza~6e$il sociedadeisforam for~adasabuscar nOll'asabordagens paraincorporarem as rapidasmudan~astecno/Dgicasa sua dinamica.

    o UNIVERSO DO EMPREENDEDORNa Iiteratura sobre empreendedorismo ha nivel nota-

    vel de confusao a respeito da definicao do termo empre-endedor. Neste artigo prefere-se falar de diferen~ nolugar de confusao, Pesquisadores tendem a perceber edefinir empreendedores usando premissas de suas propriasdisciplinas. Por esse ponto de vista, a confusao talvez naoseja tao grande quanta querem fazer crer, porque seme-lhancas na percepcao do que seja urn empreendedor sur-gem em cada disciplina. Por exemplo, os economistasassociam 0 empreendedor com inovacao, enquanto oscomportamentalistas se concentram nos aspectos criativoe intuitivo. Os do is pontes de vista serao analisados maisdetalhadamente a seguir.Os economistas

    Primeiramente e necessario avaliar a crenca popular deque 0empreendedorismo surgiu so das ciencias economi-cas. Leitura atenta dos dois primeiros autores normalmenteidentificados como pioneiros no campo - Cantillon (1755)e Say (1803; 1815; 1816; 1839) - revela que eles nao

    estavam interessados somenteem economia, mas tambem emempresas, criacao de novas em-preendimentos, desenvolvimen-to e gerenciamento de neqo-cios. Cantillon era basicamenteurn banqueiro que, hoje, pode-ria ser descrito como urn capita-Iista de risco. Seus escritos reve-lam urn homem em busca deoportunidades de neqocios,preocupado com 0 gerencia-mento inteligente de neqocios ea obtencao de rendimentos oti-mizados para 0capital investido.

    Verin (1982) examinou a origem e a evolucao da pala-vra entre-preneur, revelando que ela adquiriu seu signi-ficado atual no seculo XVII. Embora 0 termo fosse usadoantes de Cantillon, esta evidente, como Schumpeter(1954:222) apontou, que ele foi 0 primeiro a oferecerclara concepcao da funcao empreendedora como urn todo.

    Alguns autores tern associado Cantillon a uma ou outradeterminada escola de pensamento. Entretanto, Cantillonera urn individualista e e improvavel que tivesse qualquerfiliacao a corrcntes de pensamento desse tipo. Ele, semduvida, mostrou preocupacao com as mesmas questoeseconomicas e necessidades de racionalizacao que seus con-temporaneos europeus, ainda que nao tenha se assentadoem pais algum em particular, por circunstancias de sua vidapessoal. A familia Cantillon, originaria da Normandia, emi-grou para a Irlanda durante 0 reinado de William, 0Con-quistador, que nomeou membros da familia para 0governode urn pequeno territorio quase do tamanho de urn munici-pio. Eram, portanto, pessoas da classe alta. Richard, cujadata de nascimento e ignorada (e que tampouco pode serconfundido com 0tio, cavaleiro Richard Cantillon, que tam-bern viveu em Paris), fugiu da Irlanda para Paris em 1716,apes a queda dos Stuarts na Gra-Bretanha, Paris possuiagrande comunidade de imigrantes irlandeses e Richard Can-tillon logo se tornaria urn de seus patronos. Vivia de rendase buscava oportunidades de investimentos. Tambem viajoumuito (suas descricoes das plantacoes de cha da India saomemoraveis). Era capaz de analisar uma operacao identifi-cando nela aqueles elementos que ja eram lucrativos e osque poderiam vir a ser ainda mais. Seus escritos colocam-no, de certa maneira, como urn pioneiro do taylorismo(2).No inicio do seculo XVIII, investiu ate mesmo em opera-coes de comercio no vale do Mississippi-". Cantillon eraconhecido por ser mao-fechada e ate mesmo pao-duro.Corriam boatos entre seus contemporaneos de que 0cozi-nheiro que causou urn incendio em sua casa, em Londres,o fez deliberadamente, apos suas constantes recusas emdar-lhe urn aurnento. 0incendio causou sua morte em 1734.

    6 Revista de Admlnlst racao, Sao Paulo v.34, n.2, p.05-28, abri l/ junho 1999

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    Turgot e outros fisiocratas, proposto para 0 desenvolvi-mento da agricultura.Entretanto, foilSchumpeter (1928) quem realmente lan-cou 0campo do empreendedorismo, associando-o clara-mente a inovacao. "Aessencia do empreendedorismo estana percepcao e no aproveitamento das novas oportunida-des no ambito dos neg6cios (... ) sempre tern a ver comcriar uma nova forma de uso dos recursos nacionais, emque eles sejam deslocados de seu emprego tradicional esujeitos a novas combinacoes".Schumpeter nao s6 associou os empreendedores a ino-

    vacao, mas tambem mostrou, em sua siqnificativa obra, aimportancia dos empreendedores na explicacao do desen-volvimento econ6mico.Na verdade, de nao foi 0unico a associar 0empreen-dedorismo a inovacao. Clark (1899) havia feito 0mesmode forma bern cla.raurn pouco antes. Higgins (1959), Bau-mol (1968), Schloss (1968), Leibenstein (1978) e a maio-ria dos economistas que tinham interesse em empreende-dorismo tambem 0 fizeram depois dele. Os economistasestavam primordiialmente interessados na compreensao dopapel do empreendedor como motor do sistema econo-mico (Smith, 1776; Mill,1848; Knight, 1921; Innis, 1930;1956; Baumol, 1968; Broehl, 1978; Leff, 1978; 1979;Kent, Sexton & Vesper, 1982). A partir desse ponto devista, os economistas viam os empreendedores como de-tectores de oportunidades de neg6cios (Higgins, 1959;Penrose, 1959; Kirzner, 1976), criadores de empreendi-mentos (Ely& Hess, 1893; Oxenfeldt, 1943; Schloss,1968) e aqueles que correm riscos (Leinbenstein, 1968;Kihlstrom & Laffont, 1979; Buchanan & DiPierro, 1980).Hayek (1937; 1959) mostrou que os empreendedores ti-nham 0papel de informar 0mercado a respeito de novoselementos. Knight (1921), por sua vez, mostrou que osempreendedores assumiam riscos por causa do estado deincerteza no qual trabalhavam e que eles eram recompen-sados de acordo com os lucros obtidos com as atividadesque iniciavam. Hoselitz (1952; 1968) falava de urn nivelmais alto de tolerancia que capacitava os empreendedo-res para 0trabalho em condicoes de ambigilidade e incer-teza. Casson (1982) fez interessante tentativa de desen-volver uma teoria ligando empreendedores ao desenvolvi-mento cconomico. Ele insistia nos aspectos de coordena-c;:aode recursos e tomada de decisoes. Leibenstein (1979)ja tinha estabelecido urn modelo para medir os niveis deeficiencia e ineficiencia no usa de recursos por parte dosempreendedores.Os empreendedores sao citados em economia, masaparecem muito pouco - as vezes nem aparecem - nos

    modelos classicos de desenvolvimento econ6mico. Ondeaparecem sao representados por uma funcao. Os econo-mistas interessados pelos empreendedores estao normal-mente a margem, como no caso de outras disciplinas. Se

    E M P R EE N D ED O R IS M O : E M P R EE N D ED O R ES E P R O PR IE T AR IO S -G E R EN T ES D E P E Q UE N O S N E G O

    Seu manuscrito foi publicado postumamente, com corre-coes do editor, 20 anos depois de ser amplamente distribui-do em Paris e Londres.Jean-Baptiste Say foi 0segundo autor a demonstrar in-

    teresse pelos empreendedores. Considerava 0desenvolvi-mento econ6mico como resultado da criacao de novosempreendimentos e ansiava pela expansao da revolucaoindustrial inglesa ate a Franca (Say, 1816). Say e considera-do urn economista, porque naquele tempo (eate a segundametade do seculo XX)as ciencias gerenciais nao existiam.Conseqilentemente, qualquer urn que tivesse interesse emorganizacoes ou falasse sobre criacao e distribuicao de ri-quezas estava fadado a ser classificado como economista.Dessa forma, pode-se observar nos escritos de Can-tillon e Say que seu interesse pelo empreendedorismo sig-nificava que os categorizar em uma dada disciplina eradificil.Esse seria 0destino de qualquer urn que se aventu-rasse pela area. Analisariam 0empreendedorismo a partirdas premissas de uma dada disciplina, mas logo que arris-cassem uma posicao sobre 0 assunto ultrapassariam asfronteiras daquela dada disciplina, teriam dificuldades emmanterem-se dentro daqueles limites e nunca receberiamo mesmo reconhecimento dos seus pares.Cantillon e Say consideravam os empreendedores comopessoas que corriam riscos, basicamente porque inves-

    tiam seu pr6prio dinheiro. Na visao de Cantillon, os em-preendedores compravam materia-prima - geralmenteurn produto agricola -, por certo preco, com 0objetivode processa-la e revende-la por urn preco ainda nao-defi-nido. Os empreendedores eram, portanto, pessoas queaproveitavam as oportunidades com a perspectiva de ob-terem lucros, assumindo os riscos inerentes. Say fazia dis-tincao entre empreendedores e capitalistas e entre os lu-cros de cada urn (Say, 1803; 1827:295; 1815; 1816:28-29; Schumpeter, 1954:555). Ao faze-lo, associou os em-preendedores a inovacao e via-oscomo os agentes da mu-danca. Ele pr6prio era urn ernpreendedor e foi0primeiroa definir as fronteiras do que e ser urn empreendedor naconcepcao moderna do termo. Schumpeter (1954) admi-tia que a parte mais importante de seu trabalho era trans-mitir aos anqlo-saxoes 0 universo dos empreendedorescomo descrito por Say. Como Say foi 0primeiro a lancaros alicerces desse campo de estudo, pode-se considera-locomo 0pai do empreendedorismo (Filion, 1988).E interessante notar que 0que Say fez foi basicamentejuntar duas tendencies principais do pensamento do seutempo: ados fisiocratas e a da Revolucao Industrial naGra-Brctanha. Ele era grande admirador de Adam Smith(cujasideias levou para a Franca) e da Revolucao Industrial(Say, 1816). Na verdade, tentou estabelecer urn corpo te6-rico que possibilitaria a chegada da revolucao industrial naFranca. Aplicou ao empreendedor 0pensamento liberalde Quesnay, Mercier de La Riviere, Mirabeau, Concorcet,

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    L o ui s J a c qu e s F i li on

    Asociedadeempreenl/edora de holeparsce estar sofl'endo ..uma transforma~ilobastante amp/a,naqua/oempreendedorismo Iiexprell$p em forlllasorganizacionaismenorss.

    a visao do empreendedorismo nas principais correntes depensamento economico tivesse de ser resumida, prova-velmente se aceitaria 0ponto de vista de Baumol (1993)que propos duas categorias de empreendedores: os em-preendedores organizadores de neqocios e os empreen-dedores inovadores. 0 primeiro tipo inclui0empreende-dor classico descrito por Say (1803), Knight (1921) eKirzner (1983), e 0outro tipo, 0empreendedor descritopor Schumpeter (1934).Nao e facil introduzir elementos de racionalidade den-

    tro do complexo comportamento dos empreendedores.Uma das criticas que podem ser dirigidas aos economistase que eles nao tern sido capazes de criar uma ciencia docomportamento dos empreendedores. Casson (1982) foio mais longe possivel em termos de identificar 0que emensuravel e aceitavel na ciencia economica. A recusados economistas em aceitar modelos nao-quantificaveisdemonstra claramente os limites dessa ciencia para 0em-preendedorismo. Na verdade,isso foi0que acabou levandoo universe do empreendedoris-mo a voltar-se para os compor-tamentalistas, em busca de urnconhecimento mais aprofunda-do do comportamento do em-preendedor.Os comportamentatlstas'vPara os propositos deste

    topico, 0termo comporta-mentalista refere-se aos psi-cologos, psicoanalistas, socio-logos e outros especialistas docomportamento humano. Urn dos primeiros auto res des-se grupo a mostrar interesse pelos empreendedores foiMax Weber (1930). Ele identificou 0sistema de valorescomo urn elemento fundamental para a explicacao docomportamento empreendedor. Via os empreendedo-res como inovadores, pessoas independentes cujo pa-pel de lideranca nos neqocios inferia uma fonte de au-toridade formal. Entretanto, 0 autor que realmente deuinicio a contribuicao das ciencias do comportamentopara 0 empreendedorismo foi, sem duvida, David C.McClelland.McCle l l andNos anos 50, havia muito interesse na ascensao da

    URSS e as pessoas comecaram a perguntar-se se urn diao Homo Sovieticus substituiria 0Homo Americanus.Isso induziu McClelland a estudar historia em busca deexplicacoes para a existencia de grandes civilizacoes. Esse

    trabalho notavel 0 levou a identificar uma serie de ele-mentos (McClelland, 1961), sendo 0principal a presen-ca de herois na literatura. As gera~6es seguintes torna-riam esses hero is como model os e tenderiam a imita-losem seu comportamento, Os hero is superavam obsta-culos e estendiam 0limite do possive!. Segundo Me-Clelland, 0povo treinado sob tal influencia desenvolviagrande necessidade de realizacao e associava essa neces-sidade aos empreendedores. Ele, entretanto, nao definiaempreendedores da mesma forma que 0 encontrado naliteratura sobre 0 assunto. Sua definicao era a seguinte:"Urn empreendedor e alguern que exerce controle sobreuma producao que nao seja so para 0seu consumo pes-soal. De acordo com a minha definicao, urn executivoem uma unidade produtora de aco na Uniao Sovietica eurn empreendedor" (McClelland, 1971; ver tambernMcClelland, 1961:65).De fato, 0trabalho de McClelland (1971) concentrava-

    se em gerentes de grandes or-ganfzacoes e, apesar de ser for-temente associado ao campodo empreendedorismo, umaleitura cuidadosa de seus escri-tos mostra que ele nunca fezqualquer coneccao entre a ne-cessidade de auto-realizacao ea decisao de lancar, possuir ouate mesmo gerenciar urn neqo-

    .. cio (Brockhaus, 1982:41). Me-Clelland tarnbern identificava anecessidade de poder, mas naodispensou muita atencao a esseaspecto em seu trabalho pos-terior. Outros pesquisadores

    tern estudado a necessidade de realizacao, mas ninguemparece ter chegado a conclus6es definitivas sobre qual-quer tipo de coneccao com 0sucesso dos empreendedo-res (Durand&Shea, 1974; Hundall, 1971; Schrage, 1965;Singh, 1970; Singh, N. & Singh, K. 1972).Alguns autores acham que a necessidade de realiza-

    cao e insuficiente para explicar a criacao de novos em-preendimentos (Hull, Bosley & Udeel, 1980), enquantooutros acham qUE!ela nao e 0 bastante para explicar 0sucesso dos empreendedores (Durand, 1975; Neck,1971; Patel, 197.5; Timmons, 1971). Timmons (1973),entretanto, descobriu que as pessoas que freqUentaramsecoes de treinamento para intensificar sua necessidadede realizacao avancaram mais na direcao de abrir seusneqocios do que as pessoas de outros grupos. Gasse(1978) notou que McClelland havia restringido sua pes-quisa a certos setores de atividade economica. Isso pare-ce ser particular mente relevante, porque a necessidadede realizacao sera expressa de acordo com os valores

    8 R e v ista d e A dm i nistr ac ;:a o , S a o P a u lo v .34, n .2 , p .0 5 -2 8 , a b ril/ ju n ho 1 9 99

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    E M P RE E N DE O O R I$ M O . E M P RE E ND E O O R ES E P R O P R IE rA R IO S G E R EN T ES D E P E O UE N O S N E G O Cpredominantes em uma dada sociedade. Na ex-UniaoSovietica, IS50 poderia significar tornar-se urn membroirnportante do partido comunista; na Europa feudal, per-tencer a nobreza: no Quebec do seculo XIX, ter umaposicao influente na hierarquia da Igreja Cat6Uca. Con-seqlientemente, se a necessidade de realizacao deve sercanaUzada para 0 empreendedorismo e a cria~ao de no-vas empreendimentos, os valores socials circundantesdevem reconhecer e valorizar 0 sucesso nos neg6cios,para assim conseguir atrair as pessoas com alta necessi-dade de reallzacao. Segundo Gunder (1969) e Kunkel(1965), Gasse (1982) observou corretamente que a teo-ria de McClelland sobre a necessidade de realizacao einadequada, uma vez que nao identifica as estruturassociais que determinam as escolhas de cad a individuo.Em outras palavras, e dificll explicar a opcao de criarurn neg6cio au ser bem-sucedido como empreende-dor baseando-se apenas na necessidade de reallzacao(Brockhaus, 1982).Uma segunda critica it teoria de McClelland sobre anecessidade de realiaacao esta relaciooada it sua simplicl-dade. McClelland tentou explicar 0desenvolvimento so-cial e a prosperidade usando somente dois fetores princi-pais: a necessidade de realizecao e a necessidade de po-der. Contudo, ainda h a duv id as quanta a achar que 0com-portamento das sociedades - ou ate de individuos ou 0(-ganiza~6es - pode ser explicado por apenas urn ou doisfatores. Marx (1844; 1848) enfatizou 0papel das ideolo-gias, Weber (1930) e Tawney (1947),0 das ideologias re-ligiosas e Burdeau (1979) e Vachet (1988), ada ideologialiberal, Kennedy (1988), Rosenberg & Birdzell (1986) eToynbee (1976), por sua vez, demonstraram claramente a

    existencia de grande variedade de fatores que explicam 0desenvolvimento das sociedades e civilizacoes,

    Brockhaus (1982) chamou a arencao para 0 fato de aconexao entre propriedade de pequenos neg6cios e altanecessidade de realizacao nao ficar comprovada. No en-tanto, McClelland real mente mostrou que 0 ser humanee urn produto social E razoavel pensar que os seres hu-manos tendem a reproduzir os seus pr6prios modelos.Sabe-se que, em muitos casos, a existencia de um mode-1 0 tern papel fundamental na decisac de fundar urn neg6-cio (Filion, 1988; 1990a; 1990b). Entao, pode ser 0casode afirrnar-se que, se tudo 0 mais for igual, quanta maisempreendedores uma sociedade tiver e quanto maior foro valor dado, nessa sociedade, aos modelos empresariaisexistentes, rnaior sera 0 nurnero de jovens que optaraopor irnitar esses model os, escolhendo 0 empreendedo-rismo como uma opcao de carreira.

    A e sc ola d os tr as:o s d e p er so na lid ad eDepois de McClelland, os comportamentalistas domi-

    naram a campo do empreendedorismo por 20 anos, ateo inicio dos anos 80.0 seu objetivo era definir 0que saoempreendedores e as suas caractaristicas. As ciencias docomportarnento estavam expandindo-se rapidamente ehavia entre elas urn consenso maier sobre as metodolo-gias mais valldas e confiaveis do que em quaJquer outradisciplina. Essa expansao refletia-se na pesquisa sobrevaries assuntos, incluindo empreendedores. Inurneras pu-bltcacoes descreveram uma serie de caracteristicas atri-buidas aos empreendedores. As mais comuns sao mos-trades no quadro 1.

    Quadro 1Caracteristicas mais Freqiientemente Atribuidas so Empreendedores pelos Comportamentaljstas

    _.~. - - C a ~ a c te r is lic a s d o s E m p re e n d e d o re s II n o v a 9 a . o O l i m i s m o T o l e r a n c i a a a m b ig U id a de e a i n c e r i e z aL i d e r a n 9 a O r ie n t a 9 a o p a r a r e s u l ta d o s I n ic ia t iv aR is c o s m o d e r a d o s R e x ib iH d a d e C a p a c ld a d e d e a p re n d iz a g e mI n d e p e n d e n c i a H a b il i d a d e p a ra c o nd u z i r s ilu a y o e s H a b il i d a d e n a u li l iz a 9 a o d e r ec u rs o sC r i a t i v i d a d e N e c e ss id a d e d e r ea ll z a ca o S e n s ib ll i d a d e a o u tr o sE n e r g i a A u t o c o n s c ie n c ia A g r e s s iv id a d eT e n a c id a d e A u t o c o n f ia n y a T e nd e nc la a c o n t ia r n a s p e s s oa sO r ig ln a l id a d e E n v o lv im e n t o a Io n g o p r a z o D in h e ir o c om o m e d id a d e d e s em p e nh oF on te : H om ad ay (1 98 2); M ere dith , N elso n & N ec k (1 98 2); T im m on s (1 97 8).

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    L o u is J a cq u es F il io nToda essa pesquisa produziu resultados bastante varia-

    dos e muitas vezes contraditorics, ainda que obtidos pormeio de metodo!ogias irnpecaveis. Ate agora nao foi pos-slvel estabelecer urn perfil pslcologtco absolutamente ci-entifico do empreendedor. Existem varias razoes para isso,entre elas as dlferencas nas amostragens. E provavelrnen-te certo dizer que uma funcao cria 0orgao e que determi-nada caracteristica se desenvolve na pratica. Par i550, umaamostragem de empreendedores que entraram no merca-do ha dois anos nao dara a mesmo perfil que outra deempreendedores que se lancararn 20 anos atras, Treina-mento e empregos anteriores tarnbern terao certo impac-to, assim como religiao, valores da comunidade educacio-nal e cultura familiar, entre outros. Alem disso, cada pes-quisador pro poe sua definicao do que seja urn empreen-dedor. Para uns, ele e aquele que cria urn negocio, paraoutros. alquern que cria urn neg6cio que cresce. Para ospesquisadores de escola de Schumpeter, urn empreende-dor e alguern que introduz alguma movacao. Urn exameatento mostra, c1aramente, que algumas amostraqens con-tem uma rnistura de proprietarios-gerentes de pequenosnegocios, franqueados e auto-empregados.Amda nao se chegou ao ponto de poder-se avaliaruma pessoa 12 entao afirrnar, com certeza, se ela vai serbem-sucedida ou nao como empreendedora. Entretanto,pode-se dizer se ela tern as caracteristicas e aptidoes maiscomumente encontradas em ernpreendedores. Emboranenhum perfil cientilico tenha sido tracado, as pesquisastern sido fonte de varias Iinhas mestras para futuros em-preendedores, ajudando-cs a situarern-se melhor. A pes-quisa sobre empreendedores bcrn-sucedidos (Filion1991b; 1991c;) permite aos empreendedores em po-tencial e aos empreendedores de fato identificarem ascaracteristicas que devem ser aperfeicoadas para a ob-tencao de sucesso

    Lorrain & Dussault (1988b) mostraram que os com-portamentos podem melhor predizer 0sucesso do que ostraces de personalidade. Depois de curto periodo no cen-tro das atencoes, a escola do estudo dos traces de perso-nalidade parece estar em decllnio. Kets de Vries (1985)sugeriu que empreendedores sao individuos desajustadosque precisam criar seu proprio ambiente. Alguns pesqui-sadores afirmaram 0mesmo, sugerindo que os empreen-dedores nao criam seus neg6cios meramente par quere-rem trabalnar para si, mas por nao conseguirem adaptar-se ao ambiente de trabalho anterior (Bannock, 1981; Chell,1985; Collins, Moore & Unwalla., 1964; Collins & Moore,1970; Du Toit, 1980; Scase & Gaftee, 1980; Stanworth &Curran, 1973). Outros pesquisadores observaram nivel maisalto de neuroses entre as empreendedores do que entre 0publico em geral {Eysenk, 1967 j Lynn, 1969). Isso e com-preensivel, uma vez que a natureza das atividades dos em-preendedores produz urn estado de desequilibrio pessoal

    constante. Tern sido freqUentemente observado que altonivel de establlidade emocional e requisito para que a lguem exerca bem a fun

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    E M PR EE ND ED O R IS M O : E M PR EE ND ED O RE $ E P RO P R IE TA R IO S -G E R EN TE S D E P EQ U E NO S N E G O C

    de, caracteristica comumente atribuida aempreendedores, e antes e sobretudo umahabilidade gradualmente aprendida e absor-vida por alguem que quer assegurar a reeli-zacao de seus desejos. Sabe-sa que os ern-preendedores bcm-sucedidos geralmentetern alto grau de internalidade. Entretan-to, essa caracterlstica nao e s6 de empre-endedores, mas tarnbern de varies outrascategorias de lideres e pessoas bem-sucedi-das. Alguns pesquisadores tambem obser-varam que os empreendedores t e rn gran-de necessidade de controlar 0 ambiente(Filion, 1991a; 1991 b, 1991c; 1993b;Kets de Vries, 1985).

    Concluindo este topico sobre as pesqui-sas dos comportamentaiistas no campo doempreendedorismo, esta claro que aindanao se estabeleceu urn perfil cientifico queperrnita identificar com alguma certeza osempreendedores em potencial. Apesar dis-so, sabe-se 0 sufciente sobre as caracteris-ticas empreendedoras para capacitar os fu -tUrDS empreendedores a situarem-se. Naverdade, 0 escopo da palavra comporta-mento foi estendido e ja nao pertence ex-c1usivamente aos comportamentalistas. Aspesqu isas desl oca rn -s e para out ra s e sf er as ,como a das habilidades requeridas de umapessoa para que seja urn born empreende-dor e ados metodos de aprendizado pes-soal e organizacional necessaries para queuma pessoa possa ajustar-se a s mudancasnas atividades relacionadas com 0ofieio empreendedor.A EXPANSAO DO CAMPO DOEMPREENDEDORISMO

    Quadro2Prine/pais Temas de Pesquisa sobre Empreendedorismo

    I " I

    Princ ipais Temas d e P e sq u is a1__jI '_ .__ _ _ I

    C a ra cte rislic as c om p orta m en ta is d e e m pre en de do re sC ara cte rfstic as e co no rn lc as e a ern oq ra fc as d e p eq ue no s n eg 6cio sE m pre en de do rism o e p eq ue no s n eg 6c io s e m p arse s e m d ese nv olv im e ntoC a ra cte ristic as g ere nc ia is d os e m pre en de do re so p ro ce ss o emp re e nd e do rO po rtu nid ad es d e n eg 6c ioD e se nv olv im e nto d e n eg 6c io sC ap ita l de r isco e fin an cia me nlo de p equ en os n eg6 cio sG ere nc ia m en to d e n eg 6c io s, re cu pe ra ca o e a qu isiq floF irm a s d e a lia t ec no lo giaE stra te gia e c re sc im en lo d a e m pre sa e m pre en de do raA li an q a s e s lr a te g ic a sE mp re end ed orism o e m co rpo ra co es o u in t rapreendedor ismoEmp re sa s f am i lia re sAu lo -empregoIn cu ba do ra s e siste ma d e a po io a o e m pre en de do rism oS iste ma de red esF alo re s in flu en cia nd o c ria ya o e d ese nv olv im e nto d e n ov as e m pre en dim e nto sP oiit ica s g ovem am enta is e c riaca o d e noV0S emp reend imen tosM u lh ere s, m in oria s, g ru po s e m ic os e e m pr ee nd ed orism oE d u ca q ao emp re e nd e do raP e sq u is a emp re e nd e do raE st ud o s c ul tu ra is c omp a ra ti vo sEm p re en de do rism o e so cie da deFranqu las

    Nos anos 80,0 campo do empreendedorismo cresceu eespalhou-se por quase todas as ciencias bumanas e geren-ciais. A transicao foi mareada por dois eventos: a publicacaoda primeira enciclopedia contendo 0que havia de melhor emats maderno sobre 0assunto (Kent, Sexton &Vesper, 1982)e a primeira grande conferencia anual (a Conferencia deBabson) dedicada a pesquisa no novo campo.o conteudo de conferencias anuais como a de Bab-son, chamada de Fronteira de Pesquisa de Empreendedo-rismo (Frontiers of Enirepeneurial Research), e da con-Ierencia do International Council for Small Business(lCSB - Conselho Internacional para Pequenos Neqo-cios) trouxe importantes inforrnacoes sobre temas bastan-te discutidos. No quadro 2 constam os 25 temas dorninan-tes no campo do empreendeciorismo. Em uma das mais

    completes bibliografias publicadas sobre 0assunto, Welsch(1992) identificou 27 ao tocio.E interessante notar que 0desenvolvimento do empre-endedorismo como disciplina nao seguiu padrao semelhanteao de outras disciplinas. Na verdade, grande nurnero depesquisadores, cada urn usando cultura, J6gica e metodolo-gia estabelecidas em graus variados em SeUSproprios cam-pos de estudo, comecou a interessar-se e a trabalhar nocampo do ernpreendedorismo e de pequenos neqccios. Osprimeiros doutorados surgiram nos anos 80. Todavia, na-quela epoca, a grande maioria dos interessados vinha deoutras disciplines e 0 estudo do empreendedorismo nao eraseu principal campo de atividade. Agora, entretanto, maispessoas estao dedieando tempo e esforcos exdusivamenteao campo do empreendedorismo. A quantidade de novosempreendimentos e cada vez maier e a fracso do ProdutoNacional Bruto (PNB) atribuivel ao setor de pequenos ne-gacios vern crescendo em todos os paises ano apos ano.Para acompanhar a evolucao e as necessidades de seus el i -entes e alunos, muitos professores universitarios estao ten-

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    L o ui s J ac q ue s R l io nQuadro3

    Pesquisa naArea de Empreendedorismo

    S is tem a P o li ti co

    ~"-- . ..' -- - .- -C llen te s Assun to s E spec ia listas ~e !~ ,do lo g ia sQuant i ta t ivao l it ic a s Gov e r n amen ta i s

    D e se n vo lv im e n to R e g i.o n alEconom is t asSoc i a l ogos

    Emp reendedo r esEm p re e nd e do re s em P o le n cia l Amb i en te Emp reendedo r is tl co '

    C a ra c te rfstic as d o Em p re e nd e do r C ie l1 cia s C om p o rtam e n ta lista s Quant i ta t iva e Qua lHa t l va

    Educado r esEmp reendedo r esE m pre en de do re s e m P ote nc ia l

    P r atic a s d e N e g 6c ioA ti vid a d e s d e Ge r e n ciamen toRnanc ia rnen to

    Ed u cado res U de ranQaC o nsu llo re s e m Em p re en de do rism o R a cio cfn io E str ate gic o

    8 0 c 1 6 1 0 g 0 5A n l r o p 6 l o g , 0 5

    C ienc ias Ge renc i a is QuantHa l i vaQual l ta t iva

    do de aprender mais sobreempreendedorismo e pequenosneg6dos, Par isso, a assirnilacao e a integravao do empre-endedorismoem outras disciplines, especialmente de cien-cias humanas e ciencias do gerenciamento, sao fen6menounico, jamais oconido com tal intensidade na construcaoparadlqmatlca de qualquer outra disciplina de dendas hu-rnanas. No quadro 3 podem ser observados as principalsblocos de pesquisa na area de empreendedorismo.E comumente dito que a confusao rema no campo doempreendedorismo porque nao ha consenso a respeito doempreendedor e das fronteiras do paradigma. Entretanto,o reverse tambem pode ser verdade - 0empreendedoris-rn a e ur n dos raros assuntos que atraem especialistas degrande variedade d e d is ci pl in as , l ev ando -o s a discutlr e ob -servar 0que os outros fazem em disciplinas relacionadas,questionando-se a respeito de como eles 0fazem. Na ver-dade, a confusao parece ainda maior se forem oomparadasas definicoes de empreendedor nessas disciplinas (Filton,1987~ 1988). Por outro lado, se forem cornparadas as de-finir;6es dadas por especlalistas de uma mesma area, e eo-contrado consenso surpreendente. Oseconorrustas ten-dem a concordat que osempreendedores estao associadosa inoV8r;ao e sao vistos como forces direcionadoras de de-senvolviroento. Os comportamentalistas atribuem aosem-preendedores as caracterlsticas de cri.atividade, persisten-cia, internalidade e lideranca. Os engenheiros e especia-listas em gerenciamento de operar;6es v~em os empreen-dedores como bans distribuidorese coordenedores de re-cursos. Os especialistas em financas definem as empreen-dedores como pessoas capazes de calcuiar e medir riscos,

    Para os especialistas em gerenciamento, os empreendedo-res sao organizadores competentes e desembaracados quedesenvolvem linhas mestras ou visoesem torno das quaisorganizarn as suas atividades, destacando-se em organizarfazer us o de recursos. Os especialistas n a a re a de marketingdefinem as empreendedores como pessoas que identificamoportunidades, S8 diferenciam dos outros e tern a pensa-menta voltado para 0consumidor. Para as individuos interessados no estudo da cria

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    interesse tanto de pesquisadores como de professores. Elassao especialmente uteis e estimulantes quando usadas comoparte de estudos de caso na area de empreendedorismo epossibilitam que as analises dos elementos de consistenciasejam levadas bern mais adiante. Isso e extremamente va-lioso em urn campo com tao grande variedade de casos.Existem varies tipologias diferentes e algumas delas seraoconsideradas aqui. A nossa propria tipologia (Filion, 1988)sera apresentada no item Seis tipos de proprietarios-gerentes de pequenos neg6cios.Cole (1959) estabeleceu tres tipos de funcionamento

    de negocio: por inovacao, por imitacao e por repeticao,Collins,Moore&Unwalla (1964) e Collins&Moore (1970)estabeleceram uma distincao entre "empreendedor admi-nistrativo" e "empreendedor independente". Smith (1967)primeiramente identificou dois tipos de empreendedores:o artesao e 0oportunista ou empreendedor de neqocios,Considerou 0empreendedor tecnologico como integran-te de uma categoria separada. Mais tarde, Smith &Miner(1983) consideraram os efeitos de cada tipo de empreen-dedor em cada tipo de negocio resultante. Lorrain &Dussault (1988a) analisaram 0comportamento gerencialde cada tipo e descobriram que 0 empreendedor oportu-nista e 0mais balanceado. Com base em uma pesquisa deMiner, Smith & Bracker (1989), Miner (1990) observoucertas diferencas entre tres tipos: 0empreendedor, 0em-preendedor orientado para 0 crescimento e 0 gerente.Laufer (1974) sugeriu quatro tipos de empreendedores: 0gerente ou inovador, 0empreendedor-proprietario orien-tado para 0crescimento, 0empreendedor que recusa cres-cimento, mas busca eficiencia, e 0 empreendedor arte-sao. Glueck (1977) estabeleceu uma distincao entre trestipos de auto-empregados: 0empreendedor, 0proprieta-rio-gerente de pequenos neqocios e 0chefe de urn nego-cio familiar. Gasse (1978), em sua grade de avaliacao deideologia em negocios e gerenciamento, desenvolveu doistipos de ideologia empreendedora: a ideologia do empre-endedor artesao e a ideologia do empreendedor de neqo-cios. Chicha & Julien (1979) classificaram pequenos ne-gocios em tres tipos: tradicional, de carater empreende-dor (orientado para promocoes) e administrativo (ou pro-fissional). Scase & Goffee (1980) tambem estabeleceramcategorias de empreendimentos. Schollhammer (1980) es-tabeleceu cinco tipos de empreendedorismo corporativo:administrativo, oportunista, aquisitivo, mcubativo'f e imi-tativo. Vesper (1980) identiflcou pelo menos onze tiposde empreendedores: os auto-empregados trabalhando so-zinhos, os formadores de equipe, os inovadores indepen-dentes, os multiplicadores dos modelos existentes, os ex-ploradores de economia de escala, os acumuladores decapital, os compradores, os artistas que compram e ven-dem, os formadores de conglomerados, os especuladorese os manipuladores de valores aparentes. Filion (1988)

    propos duas categorias de pequenos neqocios: os classi-cos e os cometas. Propos, tambem, seis tipos de proprie-tarios-qerentes de pequenos negocios (1988), ou seja, 0lenhador, 0sedutor, 0jogador, 0hobbysta (hobbysta -que fazdo trabalho urn hobby), 0convertido e 0missiona-rio, e dois tipos d e : empreendedores, os operadores e osvisionaries (1996b; 1998c). Ibrahim (1994) sugeriu urnrelacionamento entre 0 tipo de estrateqia usada e 0 de-sempenho do pequeno negocio. Tomando 0 trabalho deMiles & Snow (1978) como base, Julien & Marchesnay(1996) consideraram 0enteric de inovacao e propuseramquatro tipos de empresarios: 0 explorador, 0 inovador, 0seguidor e 0reagente(7). Consideraram tambem a logicade acao e propuseram dois tipos de propnetarios-geren-tes: os do tipo PIC (perpetuacao, independencia e cresci-mento) e os do tipo CAP (crescimento, autonomia e per-petuacao) (Julien & Marchesnay, 1987).Julien (1990) tambem propos uma tipologia de peque-nos neqocios, baseada em multiples criterios. 0autor co-meca descrevendo os criterios que suportam as principaistipologias de pequenos neqocios na literatura; prosseguesugerindo urn continuo de criterios qualitativos e quantita-tivos para definir pequenos neqocios. Os criterios maisimportantes usados sao tamanho, setor, mercado, nivelde independencia e centralizacao, tipo de estrategia e tipode tecnologia utilizada. Lafuente & Salas (1989) estabele-ceram uma tipologia para os novos empreendedores sur-gidos na Espanha, baseada em aspiracoes empreendedo-ras e composta por quatro tipos: 0 artesao, oorientadopelo grau de risco do negocio, 0orientado pela familia e 0gerente. Woo, Cooper &Dunkelberg (1991) avaliaram ediscutiram 0impacto dos criterios na criacao de tipologiasempreendedoras.Obviamente, nenhuma tipologia e suficientemente com-pleta a ponto de cobrir todos os tipos de empreendedorese propnetarios-gerentes. Cada caso pode ser consideradounico. Entretanto, as tipologias proveern uma base para acompreensao dos pontos de apoio, bern como dos valo-res e do pensamento dos empreendedores, e as linhaspara a compreensao da consistencia comportamental ge-ral dos atores.Seis tipos de proprletarloe-qerentes de pequenosnegociosA pesquisa sobre empreendedorismo e pequenas em-presas freqilentemente conduz a identificacao de diferen-tes tipos de empreendedores, Em nossos estudos sobre

    empreendedores foram levadas em conta quatro regrassistemicas basicas: inter-relacoes, mformacao, hierarquiae controle (Checkland, 1981). Alem disso, foram incluidasas propriedades sistemicas emergentes que dizem respei-to ao sistema como urn todo, junto com as definicoes ba-

    R e v ista d e A d m in istr ac ta O , S a o P a u lo v .34, n .2 , p .0 5 -2 8 , a b riV ju n ho 1 9 99 13

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    L o u is J a c qu e s F i li ono sedu to ricas dos modelos sistemicos de empresas e tambem 0CATWOE(8)(clientes do sistema, atores envolvidos no sis-

    tema, processo de transformacao envolvido, weltanschau-ung - imagem que faz 0 sistema ter significado para 0proprietario do sistema -, proprietario do sistema e res-tricoes do meio ambiente ao sistema referido) (Checkland,1981; Checkland &Scholes, 1990). Foram incluidos tam-bern os elementos-chave do modelo visionario (Filion,1991a; 1993b): visao, relacoes internas e externas a em-presa, energia dedicada as atividades profissionais e lide-ranc;:a.Com base nesses criterios foram identificados seistipos de proprietanos-qerentes de pequenos neg6cios: 0 lenhador (lumberjack);.osedutor;.0 jogador; 0hobbysta; 0 convertido; 0missionario.

    Os lenhadores nao gostam de multidoes. Sentem-secomo se estivessem perdendo tempo quando tern de falarcom outras pessoas. Sao ambiciosos e tern aptidao para 0trabalho duro. Gostam de fazer as coisas. Quando traba-lham para urn empregador, produzem 0dobro dos outros.Por causa disso, acabam convencendo-se de que deve-riam trabalhar para si pr6prios. Gostam de afiar 0serrotee cortar a madeira e 0 fazem bern, melhor do que a maio-ria das pessoas. Trabalham de sol a sol.Quando as pessoas que compram seus produtos que-rem mais - principalmente por causa da sua qualidade -,

    os lenhadores contratam outras pessoas para cortar a le-nha. Normalmente nao ficam satisfeitos com a qualidadee a quantidade do trabalho feito por aqueles que eles con-trataram. Preferem pessoas que trabalhem durante muitashoras como eles mesmos. A cultura organizacional e ori-entada para a producao.Quando atingem certo ponto em suas carreiras, os le-nhadores provavelmente param de concentrar-se nas arvo-res para observar a floresta. Sechegarem a esse nivelde racio-ciniocstrateqico, talveza empre-sa possa comec;:ara crescer. E1esnormalmente investiraono mer-cado relacionado ao seu produ-to e sera por ai que 0desenvol-vimento se viabilizara.o lenhador e 0 tipo maiscomum de proprietario-qerentede pequenos neg6cios. Algunsdeles, bem-sucedidos, acabaraotornando-se missionaries.

    o lenhador

    Os sedutores entregam-se de corpo e alma aos neg6cios, mas seu entusiasmo nunca dura muito. Lancam neg6cios e logo os vendem. Compram companhias em difculdades e depois as revendem. Gostam que as coisas aeontec;:amrapido. Sao capazes de avaliar os pontos fortesfracos de uma empresa e os seus mercados potenciais comigual precisao. Sao muito sociaveis e tern varies conhecidos. Quando veem uma companhia em dificuldades, imediatamente comec;:ama pensar em quais conhecidos poderiam comprar parte da producao, quem poderia subcontratar a producao e quem poderia subcontratar urcomponente especifico. Invariavelmente conhecem alguemque criou urn metoda que poderia reduzir os custos ddistribuicao em urn dos setores operacionais, alguem quecompraria grande quantidade de determinado produtodesde que 0modificasse urn pouco e assim por diante .No entanto, se as coisas nao estiverem em eterno movimento, os sedutores perderao 0interesse e comecaraoprocurar outra coisa. Como conhecem muitas pessoas,

    nunca Ihes faltam oportunidades. Enxergam tudo de urponto de vista bern particular: onde e como ter lucros como menor esforco possivel, Quando olham para as empre-sas, veem dinheiro. Em seus cerebros urn pequeno computador esta eternamente calculando 0 lucro que teriamse esse ou aqucle ajuste fosse feito.Os sedutores sao como artistas no que diz respeito ao

    seu trabalho: estilos, gostos e interesses mudam de tempos em tempos. Contudo, estao sempre estimulados ponovidades. Quando mais velhos, se decidirem ficar comdeterminada empresa, tornar-se-ao jogadores.o j ogadorOs jogadores gostam de atividades de lazer. Veem 0

    esporte como elemento vital ern suas vidas. 0esporte aqual se dedicam a maior parte do tempo muda com 0decorrer dos anos, e tambem ira depender do seu sistemade relacionamento em urn dado momento.

    Encaram a empresa comourn suporte financeiro, urn meiode ganhar 0 suficiente para fazerem 0que realmente queremda vida. Freqilentemente escolherao campos de atuacao sazonais ou ciclicos, em que trabalhem duro durante certos periodos, mas nao durante outrosTodavia, ao contrario dos convertidos, nao estao emocionalmente comprometidos com 0que fazem. Tentam Iimitar0qu

    Poueos propdeta,ios-gerentesse enqlllldnlm em um dessestipos em estado puro.Como aeonteee em todas astipo/ogias, os proprietarios-gerentes eneontrados navida real _ralmente tlim umperfil que eomblna dois tlUtres tlpos diferentes.

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    fazem ao que e lucrativo, para que possam dedicar maistempo as atividades que realmente apreciam, ainda que te-nham de trabalhar para obterem recursos financeiros paramanterem-se desse jeito. 0 negocio e visto como urn meio,ou as vezes ate mesmo como urn empecilho, que Ihes pos-sibilitafazer 0que realmente amam.Os jogadores sao geralmente pessoas de familias ricas

    e que passaram a maior parte de sua juventude praticandoesportes ou envolvidos com outras formas de lazer. Sao,as vezes, a terceira ou a quarta qeraceo da familia quepossui urn neqocio familiar.Alguns jogadores vao, gradualmente, substituindo suas

    atividades esportivas por atividades sociais ou politicas.o hobbys t aOs hobbystas dedicam toda a sua energia e 0 tempo

    livre aos neqocios, FreqUentemente tern outro empregooficial, mas so 0mantem como urn apoio financeiro ou,entao, como urn meio de contribuir financeiramente paraseu negocio. 0 neqocio e 0seu hobby. E nele que veern apossibilidade de auto-realizacao. ConseqUentemente, in-vestem todos os seus recursos disponiveis para desenvol-ve-lo ao maximo.Os hobbystas estao sempre divididosentre atividadesquerequerem logicas operacionais distintas. Em seus empregos

    oficiais, trabalham em urn nivel relativamente baixo, namelhor das hipoteses interrnediario.Nao ternde resolverpro-blemas complexos, nem tomar decisoes complexas.Em funcao disso, nao aprendem com a experiencia

    como distinguir entre os diferentes niveis de tomada dedecisoes. 1550 os transforma em gerentes-proprietarios que,a longo prazo, tern dificuldade em formular decisoes es-trateqicas, porque estao condicionados, pela sua atividadeprincipal, a so tomar decisoes administrativas.Na verdade, normalmente levam muito tempo para

    tomar sua primeira grande decisao estrateqica. deixar 0emprego oficial e dedicar todo 0 tempo aos seus nego-cios. Portanto, continuarao a trabalhar por muitos anosem dois niveisde logica: seu emprego e 0gerenciamentode seu pequeno neqocio.Alguns hobbystas tomar-se-ao lenhadores e outros,

    convertidos. Entretanto, em algum ponto do processo,todos mostrarao traces de jogadores, porque terao obtidoduplo ou multiple metoda de trabalho, em que fazem umaatividade para dar suporte a outra e na qual podem reali-zar-se verdadeiramente.o convert idoOs convertidos encontraram a grande coisa e tudoem suas vidas gira em torno dessa descoberta fundamen-

    tal, 0 que geralmente significa 0 comeco de uma nova

    carreira. Vinham procurado alguma coisa por anos -aquilo que verdadeiramente faria com que se realizasseme usassem seu verdadeiro potencial - e finalmente a en-contraram. E agora isso se tornou sua obsessao.E necessario cuidado ao comentar alguma coisa sobreo neqocio que urn amigo convertido acabou de lancar oucomprar. 0 neqocio tern para ele urn status sagrado enele investira profunda carga emocional. Os convertidosconstruiram uma logica que explica tudo 0que acontece asua volta. Essa logica parece envolver0negocio em umaaura protetora. Infieis, pessoas de outros credos e atemesmo inocentes espectadores devem tomar cuidado como que dizem. Podem tornar-se alvo do trovao celestial doconvertido!Na verdade, os convertidos logo aprenderao a dividir0

    mundo entre os a favor e os contra, ou seja, as pessoasque gostam e apoiam 0que eles fazem e 0 resto. Os con-vertidos tendem a superestimar as pessoas que pensam eagem como eles e sao ceticos em relacao a todas as outraspessoas. Segundo os convertidos, "talvez essas pessoasnao sejam totalmente honestas ..." por nao pensarem damesma maneira. "Quem sabe 0que podem estar escon-dendo? De qualquer forma, essas pessoas ainda nao en-contraram aquilo. E nao sabem 0que estao perdendo."Os convertidos preferem fazer as coisas em vez de ver

    os resultados, porque em tudo 0que fazem estao conven-cidos de estarem dlando urn passo - ainda que pequeno- em direcao ao melhoramento da raca humana.Veem a simesmos como pessoas particularmente bem-

    dotadas. Sentem que tern 0dever de estender esses donsa sociedade. Gostam de estar no controle. Por isso, terndificuldade em deleqar, pelo menos ate que a outra pessoaprove ser merecedora de sua confianca.Muitos criadores e inventores estao classificados nesta

    categoria. Na verdade, os convertidos que vieram de pes-quisa e desenvolvirnento e de marketing ou vendas ternmaiores chances de ser bem-sucedidos. Muitos acabamtornando-se missionaries.o mlss lona r l oOs missionaries normalmente lancararn seus negocios

    sozinhos. Se nao ocorreu dessa maneira, entao compra-ram urn neqocio de terceiros e fizeram nele mudancas subs-tanciais. Conhecem muito bern 0 produto e 0mercadoem que trabalham. Sao consumidos por paixao pelo quefazem. Estao convencidos de que a atividade que fazem ecomo urn patrimonio para a comunidade. De certa forma,os missionarios sao os convertidos que atingiram determi-nada maturidade e estao menos envolvidos emocionalmen-te do que eles. Conseguiram cortar 0cordao umbilicalqueos ligava ao negocio e conseguem ter uma visao geralbern mais clara.

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    L o ui s J a cq u es F il io nNa verdade, geralmente organizam os neg6cios com

    relativa rapidez, de tal modo que, mesmo quando bernpequenos, possam funcionar sem eles, ou pelo menos sema sua presence diana.Depois da fase de sobrevivencia, ja nao se sentem tao

    ameacados como antes e tornam-se mais abertos a novasideias. Enxergam 0neg6cio como urn organismo vivo. Aevolucao e 0aprendizado dos individuos que la trabalhamsao importantes. Seus empregados tern de estar satisfei-tos, porque condicionam a evolucao do pr6prio neg6cioe, portanto, a capacidade do neg6cio de continuar a evo-luir e de manter-sa competitivo. Os missionaries manterngrande interesse na evolucao harmonica dos seus emprega-dos, pois compreendem ser 0 neg6cio urn sistema so-cial. Os resultados nao dependem so do desempenho in-dividual de cada urn, mas da capacidade das pessoas detrabalharem juntas.Embora sejam pessoas voltadas para 0cumprimento

    de tarefas, depois de alguns anos se tornam muito maispreocupadas com as relacoes humanas. Quase todo seutempo e energia sao empregados no neg6cio. Geralmen-te tern valores conservadores, uma vida pessoal estavelcentrada na familia e adotam uma abordagem realista emrelacao it pratica dos neg6cios. Mais do que fazer urn ne-g6cio crescer, estao interessados em montar uma equipe- em geral it feicao da familia. Em outras palavras, estaointeressados em criar urn tecido social com uma culturaorganizacional aberta que satisfaca e deixe as pessoas pro-gredirem e onde as trocas interpessoais capacitem a orga-nizacao a aprender.Os missionaries delegam ao maximo. Tentam usar amaior parte do seu tempo pregando, comunicando-se eparticipando de atividades em forcas-tarefa, onde possam

    escutar, discutir e trocar experiencias - em outras pala-vras, em lugares nos quais possam ser pessoas estimulan-tes, que promovam uma atitude saudavel e 0born-sense navida do grupo. Pregam por meio de exemplos. Comuni-cam seu entusiasmo para as pessoas it sua volta. Issovale apena, porque seus empregados estaosempre altamente motivados e fazemseu trabalho de maneira que a empre-sa va de sucesso em sucesso. As em-presas podem ate tornar-se multina-cionais e assim levarem a palavra aoutros paises. Urnconselho aos astutos:sevocenao tern0mesmo credo, ounaoquer se comprometer totalmente, vaembora e trabalhe em outro lugar.No quadro 4 constam os tipos de

    estrateqia que parecem ser mais 16-gicos para cada urn dos tipos de pro-prietarios-qerentes.

    Poucos proprietarios-gerentes se enquadram em urndesses tipos em estado puro. Como acontece em todas astipologias, os proprietarios-qerentes encontrados na vidreal geralmente tern urn perfil que combina dois ou trestipos diferentes.Essa tipologia foi criada com base em uma analise decampo de mais de 100 proprietarios-qerentes de peque-

    nos neg6cios (Filion, 1996a). Entre 1988 e 1996, essatipologia foi aplicada em estudos de casos em sala de aulaaproximadamente dez vezes por ano. ConseqOentemen-te, mais de 80 proprietarios-qerentes ja foram classificados com base na mesma. Elatem-se mostrado uti!na identificacao de urn sistema de valores e da intencao de cadaindividuo estudado, bern como na compreensao do modode tomar decis6es dessa pessoa, de suas orientacoes estrategicas e do desenvolvimento do processo visionario. Einteressante notar que alguns proprietarios-qerentes mudam de categoria no decorrer de suas carreiras.TENDENCIAS PARA A CONSTRUCAO DE TEO RIAEm toda disciplina ha 0desejo de compreender as tendencias e formular leis universais em torno das quais 0conhecimento possa ser estruturado. Os campos do em

    preendedorismo e dos pequenos neg6cios nao fogem iregra. Neste topico procura-se delinear uma distincao entre esses dois campos. A discussao tera inicio com umabreve apreciacao dos pequenos neg6cios e prosseguira como empreendedorismo.A Gra-Bretanha foi urn dos primeiros paises a compre-

    ender a irnportancia dos pequenos neg6cios no crescimentoda economia. Ap6s a Primeira Guerra Mundial, em 1919,grupos de pesquisa foram criados para examinar 0fenomeno. Pesquisadores ja tinham identificado 0 fato, aindavalida para os dias de hoje, de os pequenos neg6cios criarem mais novos empregos (Birch, 1983; Peterson, 1977)Novas comissoes de estudo foram formadas, tendo iniciodurante a crise economica dos anos 30 e culminando com

    QUirldro4Tipos de Proprietarios-Gerentes (Ie Pequenos Negocios e EstrategiasTipo de Proprietario-Gerente Raziio de Ser da Empresa Tipo de Estrategia

    C o n t i n u aRad ica lRac iona lEvo luciomir iaRevo luc iona r iaprogressiva

    L a z a rAuto-rea l iza~oS e g u r a r l Q 8Conqu is ta

    16 Revista de Administ raqao, Sao Paulo v.34, n.2, p.OS-28, abri l/ junho 199

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    E M P R E EN D ED O R IS M O : E M P R E E N DE D O R ES E P R O P R IE T A R IO S -G E R E N TE S D E P E Q U EN O S N E G O C IO

    a Comissao de Bolton em 1969. 0Relat6rio de Bolton,publicado em 1971, mostra entre outras coisas que ospequenos neg6cios existem onde as economias de escalanao estao automaticamente a disposicao de grandes cor-poracoes. Sua existencia deve-se tambem a presence deempreendedores e de ambiente favoravel a criacao denovas empreendimentos. Bolton (1971) e seus sucessores(Stanworth et alii, 1982; Stanworth &Gray, 1991) pro-duziram excelentes resumos do que ha de mais significati-vo em pequenos neg6cios. Elestern sido recapitulados poroutros autores (verFilion, 1992) e nao serao reproduzidosaqui. No entanto, e valido notar que Stanworth & Gray(1991), no capitulo 7, promovem uma discussao interes-sante quanta ao que ha de significativo sobre os proprieta-rios-gerentes. Puderam perceber que nao se chegou aindaa urn consenso a respeito das caracteristicas comporta-mentais dos proprietanos-qerentes de pequenos neg6-cios. Perceberam, contudo, que as pessoas com melhoreschances de comecarem urn neg6cio na Gra-Bretanha saoas do sexo masculino, de meia-idade ou pouco antes de seaposentarem, casadas, vindas de ambiente familiar no qualurn dos pais ou ainda preferencialmente os dois tenhamurn tipo de neg6cio, que tenham estudo e pertencam aurn grupo etnico oriqinario do subcontinente indiana oude paises mediterraneos,Storey (1982) fez urn estudo extenso das condicoes

    que explicam a criacao e 0 desenvolvimento de novasempreendimentos. Propos a seguinte equacao (1994:61):E = f (II, BE, CR, C)

    Onde:E = EntradaII = Lucros (+ )BE = Barreiras para a entrada (-)CR = Crescimento (+)C = Concentracao (-)Para cada pequeno neg6cio existente ha urn empreen-dedor que 0criou. Em relacao a essa situacao, a area depequenos neg6cios, bern como a de auto-emprego, e urn

    dos parametres de urn campo mais amplo que e 0empre-endedorismo. Atingiu-se, em empreendedorismo, urn es-taqto no qual muitas pessoas anseiam por uma teoria con-sistente, baseada em axiomas universais, como os existen-tes em fisica, por exemplo. Tal teoria teria por base mode-los quantitativos rigorosos e seria obtida por meio de umapesquisa quantitativa ampla que provaria, de maneira in-contestavel, a natureza do empreendedor e da atividadeempreendedora e os seus efeitos no desenvolvimento eco-nomico. Ao mesmo tempo, inumeros professores depa-ram-se diariamente com a necessidade de produzir mate-rial para treinar os empreendedores para a pratica empre-

    endedora. Para tanto, usam metodos qualitativos paradesenvolver os modelos e as ferramentas que ajudarao osempreendedores de fato e os empreendedores em poten-ciala exercerem sua.profissao competentemente. Essa ten-sao entre os academicos que escrevem para academicos eos academicos qUE~screvem para praticantes liberais esuficientemente grande na area para merecer atencao.Muitas tentativas de teorizacao tern sido feitas. As maisfreqilentemente citadas incluem Amit & Glosten et alii(1993); Baumol (1993); Bull& Willard (1993); Bull, Tho-mas &Willard (1995); Bygrave (1989a; 1989b); Casson(1982); Collins,Moore & Unwalla (1964); Collins& Moore(1970); Covin & Slevin (1991); Gartner (1985; 1990);Gartner & Carland et alii (1988); Hebert & Link (1982);Hofer &Bygrave (1992); Leibenstein (1968); Low &Mac-Millan(1988); Peterson &Ainslie (1988); Reynold (1991);Sombart (1928); e Stevenson & Jarillo (1990). Wortman& Birkenholz (1991) resumiram e tentaram classificarmuitos desses estudos. Quando se observa todos esses es-forces de construcao de teorias no campo do empreende-dorismo, torna-se claro, como Mulholland (1994) ressal-tou, que 0vinculo estabelecido por Schumpeter (1928;1934) entre empreendedores e inovacao permaneceucomo trace dominante nesse campo de estudo, especial-mente entre os economistas. Em t6pico anterior deste ar-tigo foiconsiderada a expansao do campo do empreende-dorismo e a apropriacao dos elementos relevantes pelasvartas disciplinas das ciencias humanas. Essa situacao foiresponsavel pelo surgimento de tao ampla variedade dedefinicoes e metodos ao se tratar do assunto. Para os eco-nomistas, a definicao baseada na inovacao e a abordagemdesenvolvida por Schumpeter para explicar os empreen-dedores sao suticientes para 0 desenvolvimento de umateoria de empreendedorismo (Kirchhoff, 1992; 1994).Julien (1989) ja havia ressaltado as dificuldades de alinhar-se a economia a outras ciencias humanas. Na verdade,quando sao comparados os pontos de vista de Baumol(1990; 1993) e Casson (1982), as diferencas fundamen-tais existentes, mesmo entre os economistas, tornam-se6bvias.Nos paraqrafos seguintes serao examinados os traba-Ihos de alguns autores que tern pensado a respeito de es-trutura e teoria no campo de empreendedorismo. Bechard(1996) sugeriu tres abordagens: a praxiol6gica, a discipli-nar e a epistemol6gica. Cunningham &Lischeron (1991)sugeriram que 0campo do empreendedorismo esta sendoestruturado em torno de seis pontos: a escola do grandehomem, a escola de caracteristicas psicol6gicas, a escolaclassica (inovacao), a escola de gerenciamento, a escolade lideranca e a escola de intraempreendedorismo.Blawatt (1995), usando essas e outras caracteristicas, pro-pos que urn modelo conceitual de empreendedorismodeveria incluir criterios de desempenho. Constatou que,

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    L o ui s J a cq u es F i li onem sua maioria, os modelos propostos pela escola de per-sonalidade e por outras sao geralmente estaticos. Juntou-se a autores que estudaram os empreendedores em acao eobservou que estes trabalham em um contexto em evolu-cao, onde as atividades e os papeis mudam gradualmente.Os empreendedores aprendem a partir do que fazem(Collins & Moore, 1970; Filion, 1988; 1989a; 1989b;1990a; 1990b; 1991b; 1991c) e uma vez que a naturezado que fazem muda, eles tambem precisam mudar. Emfuncao disso, precisam aprender a assumir papeis diferen-tes a medida que 0neg6cio evolui.Dois dos mais importantes ensaios sobre a teoria doempreendedorismo foram escritos por um especialista do

    ramo, com doutorado em fisica e empreendedorismo, quetrabalhou como cientista e como empreendedor. 0autorem questao e Bygrave, 0primeiro a mostrar que 0empre-endedorismo deveria distanciar-se do paradigma da fisicae das abordagens quantitativas para encontrar sua pr6pria16gica. Sugeriu que, para compreender-se 0 que os em-preendedores fazem, 0mais necessario e a pesquisa decampo qualitativa (1989a). Em 1989b, propos a teoria docaos da fisica como uma base interessante para a teoriado empreendedorismo. Todavia, preveniu-nos de que 0caos e "nao mais do que uma metafora rnatematica, por-que a precisao das rnedicoes necessaries (...) sao inatingi-veis no processo" (1993).

    Dery &Toulouse (1994) analisaram os temas tratadose as referencias usadas em uma das mais freqOentementecitadas publicacoes no campo do empreendedorismo, 0Journal of Business Venturing. Observaram que mais dametade das referencias eram Iivros. Pesquisa similar nocampo da estrategia, baseada na analise de citacoes noStrategic Management Journal, mostrou que mais dametade das citacoes eram ensaios academicos. Isso pare-ce sugerir que 0 campo da estrategia e agora suficiente-mente maduro para que os pesquisadores atinjam certoconsenso. Em empreendedorismo, de acordo com Dery& Toulouse, esta sendo desenvolvido um paradigma queainda nao atingiu consenso no referente a construcao teo-rica da disciplina. Pode ser tambem que 0campo do em-preendedorismo esteja sendo estruturado teoricamente demaneira diferente das outras ciencias humanas, incluindoa estrateqia. Enquanto a psicologia surgiu da filosofia(Miller, 1962) e a psicanallse da medicina e da psicologia,o campo do empreendedorismo e proveniente de pratica-mente todas as ciencias humanas e gerenciais. Pesquisassobre empreendedorismo citam elementos tanto te6ricosquanta praticos. Portanto, nao seria surpresa se surgis-sem teorias de um grupo de pesquisa aplicada. Entretan-to, encontros com varios pesquisadores, no campo doempreendedorismo, levam-nos a acreditar que, por esta-rem sobrecarregados de trabalho, como resultado de pe-didos para desenvolverem cursos, programas e pesquisas

    aplicadas, mesmo que estivessem interessados em desen-volver uma teoria, isso nao seria uma das prioridades. Osque aceitarem 0desafio devem ser criativos e nao se lirnitarem a uma abordagem unidimensional, como tem sidoo caso em rnuitas areas cientificas. E realmente necessarioressaltar que as ciencias humanas sao compostas principal-mente por moclelos interpretativos flexiveis? E que qualquer teoria de empreendedorismo tem de ser flexivele multidimensional para refletir suas raizes multidisciplinares?DEFINIC;Ao DI: EMPREENDEDORObviamente, nao se pode esperar escrever um artigo

    sobre empreendedorismo sem definir 0 termo empreen-dedor. Curiosamente, algumas palavras-chave usadas novocabulario moderno das ciencias gerenciais sao origina-rias da lingua francesa. Por exemplo, 0 termo manager(gerente) vem do frances antigo menager, que significavcuidar bem da casa ou organizar cuidadosamente. Definir0empreendedor E ~um desafio perpetuo, dada a ampla variadade de pontos de vista usada para estudar 0fenomeno.Cochran (1968) observou que, para os economistas parti-cularmente, 0empreendedor e um tipo de "incongruenciade urnelemento humane que nao pode ser medida em umaestrutura te6rica". Na verdade, qualquer que seja a definicao usada, sempre se incorre no risco de discordancia,A definicao que se prop6e aqui pretende ser um deno-minador comurn bastante abrangente, cobrindo um espec-tro tao amplo quanta possivel. Reflete as principais teo-rias da literature empreendedora. Verin estudou 0desen-volvimento do termo entre-preneur atraves da hist6ria.No seculo XII ele era usado para referir-se "aquele queincentivava briqas" (Verin, 1982:31). No seculo XVII,des-crevia uma pessoa que tomava a responsabilidade e dirigia uma acao rnilitar. Somente no final do seculo XVIIeinicio do seculo XVIII0 termo foi usado para referir-se apessoa que "criava e conduzia projetos" (1982:33) ou "erievae conduzia empreendimentos" (1982:32). Na epoca deCantillon, quando 0 termo ganhou seu significado atual,entre-preneur era usado para descrever uma pessoa quecomprava materia-prima (insumo), processava-a e vendia-a para outra pessoa, 0 entre-preneur era, entao, umapessoa que havia identificado uma oportunidade de neg6-cio e assumido 0 risco, decidindo processar e revendermateria-prima. Dessa maneira, 0elemento risco apareceunas descricoes cia atividade empreendedora no inicio doseculo XVIII.Pretende-se que a definicao aqui propostaseja uma descricao e uma interpretacao do que os ernpre-endedores fazem. Tem-se por base, tambem, um estudode aproximadamente 60 das definicoes mais comuns naIiteratura (Filion, 1987; 1988). Parte-sa do ponto de vistade Pinchot (1985), que descreveu os intraempreendedo-res como "sonhadores que fazem".

    18 R e v is ta d e A dm i nis tr a9 a O , S a o P a u lo v .3 4, n .2 , p .0 5 -2 8 , a b ri l / ju n ho 1 9 99

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    E M P R EE N D ED O R IS M O : E M P R EE N D ED O R ES E P R O PR IE T AR IO S -G E R EN T ES D E P E Q UE N O S N E G OCComo muitos outros, Lynn (1969) mostrou 0paralelo

    existente entre empreendedores e criadores. Esse aspectoe incluido na definicao proposta, por ser fundamental paraa compreensao do comportamento empreendedor, ou seja,da atitude de pessoas criativas com imaginacao ativa. Ob-serva-se que a imaqinacao empreendedora age em doisniveis: por um lado, os empreendedores imaginam a si-tuacao e 0 cenario no qual trabalharao e construirao seuneg6cio e, por outro, imaginam um nurnero significativede alternatives para a forma como irao organizar e fazeras coisas para transformar suas visoes em realidade.Oefinir;io

    A primeira parte da defmicao e, portanto, a seguinte:"0empreendedor e uma pessoa criativa, ...".

    Essa pessoa criativa gosta de estabelecer objetivos queesta certa de atingir. Os objetivos nem sempre estao escri-tos, mas existem e constituem 0maior vinculo ou a visaoem torno da qual 0 empreendedor organiza todas as ou-tras atividades. Os empreendedores agem em funcao doatingimento dos objetivos e desenvolvem caracteristicasde tenacidade, intemalidade e criatividade, freqOentemen-te atribuidas a eles na literatura.o segundo elemento da definicao expressa esse aspec-to: " ... marcada pela capacidade de estabelecer eatingir objetivos ...".

    Outro aspecto comumente encontrado na literatura eo vinculo entre os empreendedores e a capacidade de de-tectar oportunidades. Tal constatacao sugere que 0 em-preendedor desenvolve alto nivel de consciencia do ambi-ente em que vive. 1550 pode ser expresso da seguinte rna-neira: " ... e que mantem alto nivel de conscienciado ambiente em que vive, usando-a para detectaroportunidades de negocios .... ".

    De fato, enquanto eles continuarem a detectar tais opor-tunidades e agirem no sentido de explora-las, continuarao ater um papel empreendedor. Os empreendedores sao pes-soas que precisam continuar a aprender, nao somente 50-bre 0que esta acontecendo no seu ambiente, para detecta-rem as oportunidades, mas tambem sobre 0 que fazem,para que possam agir e ajustar-se de acordo com a situa-cao. Enquanto continuarem a aprender, contmuarao a cum-prir seu papel e a agir de maneira empreendedora. Vivemum processo de evolucao constante. No entanto, 0 focoprincipal do seu processo de aprendizagem e sempre a ca-pacidade de detectar oportunidades, a qual lhes permitecontinuar a desempenhar seu papel de empreendedores.Esse aspecto foi incluido na definicao da seguinte forma:"... Um empreendedor que continua a aprender arespeito de possiveis oportunidades de neg6cios ...".

    Os empreendedores nao jogam roleta-russa com seusneg6cios. Dao inicio a projetos, geralmente neg6cios.

    Como forma de serem bem-sucedidos, minimizam os ris-cos associados as suas decisoes. Pesquisas tern mostradoque os ernpreendedores sao pessoas que tendem a assu-mir riscos moderados e minimizar incertezas nos seus pro-cessos de tomada de decisoes. Este aspecto e assim ex-presso: " e a tomar decisoes moderadamente ar-riscadas ".

    Alem disso, Say e, mais tarde, Schumpeter relaciona-ram os empreendedores a inovacao. Os empreendedoressao agentes de mudancas, fazem coisas novas e diferen-tes. SO se pode chamar uma pessoa de empreendedor seela contribuir com algo novo. Este aspecto foi incluido nadefinicao da seguinte maneira " ... que objetivam a ino-va~ao, continuara a desempenhar um papel em-preendedor.".

    Assim, a definicao completa de empreendedor apre-sentada neste artigo e: "0empreendedor e uma pessoacriativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atin-gir objetivos e que mantern alto nivel de consciencia doambiente em que vive, usando-a para detectar oportuni-dades de neg6cios. Um empreendedor que continua aaprender a respeito de possiveis oportunidades de neg6-cios e a tomar decisoes moderadamente arriscadas queobjetivam a inovacao, continuara a desempenhar umpapel empreendedor".

    Resumindo-se essa definicao aos elementos essenciais,chegar-se a: "Um empreendedor e uma pessoa queimagina, desenvolve e realiza visOes" (Filion, 1991c).

    Essa versao reduzida da definicao de empreendedorinclui todos os elementos da mais longa. A imaqinacao eobviamente necessaria para que se tenha visoes. 0 termovisao denota habilidade em definir e alcancar objetivos. Adiferenca entre urn sonho e uma visao e 0fato de a visaoser uma forma realista e alcancavel de sonho - em outraspalavras, uma imaqem desejada de uma situacao futura.Tambem requer alto nivel de consciencia do meio em queesta inserido para detectar as oportunidades de neg6cios.Para que uma visao se desenvolva, 0empreendedor deveaprender continuamente sobre 0meio. Para concretizar avisao e permanecer no neg6cio deve, tambem, tomar de-cisoes moderadamente arriscadas. Essas decisoes, por suavez, devem incluir novas elementos. Uma visao implicaalgo novo que motivara os membros da orqanizacao e atrai-ra 0interesse do mercado. Enquanto 0empreendedor con-tinuar a imaginar, desenvolver e concretizar as visoes queformam a trama ern torno da qual as atividades do neg6-cio sao organizadas, continuara a assumir um papel em-preendedor. Uma pessoa que inventa algo sempre seraum inventor aos olhos do mundo; no entanto, os empre-endedores serao considerados como tal apenas enquantocontinuarem a assumir um papel empreendedor. Quandoalguern vende um neg6cio, as pessoas tendem a dizer:"Ele era um empreendedor" .

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    L o ui s J a cq u es F il io nNesse ponto e importante fazer distincao entre empre-

    endedores e proprietarios-gerentes de pequenos neg6cios.Na verdade, muitas pessoas tern urn papel empreendedorsem nunca se tornarem proprietarios-gerentes de peque-nos neg6cios, seja por trabalharem em grandes corpora-coes (como intraempreendedores ou empreendedores cor-porativos), seja por tornarem-se auto-empregados sem cria-rem uma empresa. Do outro lado da moeda estao os pro-prietarios-qerentes de pequenos neg6cios que compram em-presas em vez de cria-las, nao fazem mudanca significativaalguma, nao tern visao do que querem fazer, nao desenvol-vern novos produtos ou mercados e as gerenciam dia-a-dia,tomando decisoes sobre atividades rotineiras de gerencia-mento sem ter uma visao, urn plano geral ou urn objetivoespecifico. Tais pessoas nao podem ser consideradas comoempreendedores. Sao proprietarios-qerentes de pequenosneg6cios que nao assumem urn papel empreendedor.Obviamente, todas as definicoes impoem limites a per-

    cepcao e ao entendimento do assunto. Entretanto, em urntexto como este, e utildefinir pelo menos os termos-chave.REFLEXOES E PERSPECTIVASNos anos 80,0 campo do empreendedorismo expan-

    diu-se e espalhou-se para varias outras disciplinas. Orga-nizacoes e sociedades foram forcadas a buscar novas abor-dagens para incorporarem as rapidas mudancas tecnolo-gicas a sua dinamica. Como uma das consequencias daqueda dos paises comunistas, ficou claro que as socieda-des nao podem evoluir sem empreendedores. 0maiorbern de uma sociedade sao os seus recursos humanos, osquais devem ser mobilizados em direcao a projetos de ca-rater empreendedor. Depois do colapso da Uniao Sovieti-ca, a guinada em busca de desempenho - liderando ouseguindo outras economias - parece intensificar-se(Fukuyama, 1992). Fukuyama (1994) tarnbem sugere quea prosperidade e a sua forca motriz, 0 empreendedoris-mo, sao resultados de urn estado de confianca entre osindividuos de uma sociedade.No espaco de tempo de uma decada, a pesquisa em

    torno do empreendedorismo estendeu-se a maioria dasdisciplinas, bern como duplicaram 0 numero de institui-coes oferecendo cursos sobre 0 assunto e 0 numero decursos oferecidos (Vesper, 1985; 1993). Como em mui-tos outros paises, Quebec foi palco, no comeco dos anos80, do aparecimento de superabundancia de concursosanuais de neg6cios regionais, dos quais as empresas maiseficientes receberam prernios: empreendedor do ano,melhor marketing, melhores resultados em exportacoes,melhor protecao ambiental, melhor gerenciamento de re-cursos humanos, e assim por diante. Vivencia-se a glorifi-cacao do empreendedor e a aceitacao de certos modelossociais para a prosperidade.

    Alern de tudo isso, 0 empreendedorismo pode ser con-siderado como urn novo passo em direcao a conquista daliberdade. A sociedade empreendedora de hoje parece estarsofrendo uma transformacao bastante ampla, na qual 0empreendedorismo e expresso em formas organizacionaismenores. Consequentemente, a sociedade tem-se trans-formado de uma expressao do empreendedorismo emgrandes corporacoes, no corneco deste seculo, para urncontinuum de reducao que teve inicio nos anos 70. Aforma empreendedora de pequenos neg6cios apareceu nosanos 20 e tornou-se a forma principal de empreendedo-rismo na decada de 70. A partir do inicio dos anos 90,numero cada vez maior de empreendedores tern escolhi-do 0 auto-emprego (Filion, 1996a).Duas cateqorias podem ser distinguidas dentre todas

    as diferentes formas de empreendedorismo: os empreen-dedores voluntarios e os empreendedores involuntarios,Na verdade, a c:ategoria involuntaria e urn produto dosanos 90. E composta, principalmente, por recern-forma-dos e pessoas demitidas ap6s 0 fechamento ou a reestru-turacao de corporacoes, os quais nao foram capazes deencontrar empregos e, por isso, foram forcados a cria-los,o treinamento e a preparacao que esse grupo necessitadiferem significativamente daqueles usados ate hoje pelogrupo voluntario, Os empreendedores involuntarios ten-dem a optar pelo auto-emprego, mas nao sao empreen-dedores no sentido geralmente aceito do termo. Criamuma atividade de neg6cios, mas nao sao movidos peloaspecto da inovacao. Enquanto a inovacao e 0 crescimen-to sao as palavras-chave para definir 0 empreendedor, asque definem 0 auto-empregado sao ecologia pessoal e estilode vida equilibrado.Outro fenomeno que aproxima a expressao empreen-

    dedora as formas organizacionais menores e a mudancada nocao de sucesso (Filion, 1996a). 0 sucesso e agoradefinido por numero cada vez maior de empreendedoresmais jovens e mais bem-formados, com base em criteriosintrinsecos relacionados a auto-realizacao, em vez de emcriterios extrinsecos relacionados ao desempenho e aostatus. Somando-se a isso, a medida que a velocidade damudanca aumenta, 0 gerenciamento de grandes corpora-coes torna-se mais dificil.0aprendizado (A)e sua imple-mentacao (I)criativa (C ) tern de ser maiores do que 0nivelde mudanca (M)se urn individuo, uma orqanizacao ou umasociedade quer adaptar-se e atualizar-se com relacao asmudancas de contexto. Na verdade, essa f6rmula expres-sa urn dos aspectos fundamentais do empreendedorismo:

    [(A+C) l>MJA expressao e 0sucesso (para os prop6sitos deste texto,define-se 0sucesso como ter permanecido no neg6cio porcinco anos) da pratica empreendedora dependem de varies

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    E M P RE E N DE D OR IS M O : E M P RE E N DE D OR ES E P RO PR IE T A RIO S-G ER EN TE S D E P EQ UE N OS N EG OC IO

    elementos, dois dos quais tern recebido pouca atencao. ge-renciamento de espaco e de tempo. Os empreendedoresdevem aprender a gerenciar os espacos interno e externo.Devem aprender a identificar, definir e estabelecer urn es -paco do mercado a ser ocupado. Como a maioria das ativi-dades de neqocio e ciclica, espaco e tempo transformam-seem elementos-chave para a explicacao do sucesso, porexemplo, no nivel de estoque e no gerenciamento de caixa.

    Alem do espaco de mercado, os empreendedores ternde definir urn espaco fisico organizacional e espacos indi-viduais psicologicos para seus colaboradores, dependen-do da percepcao das capacidades e habilidades das pes-soas a sua volta. Seu metoda de gerenciamento espacialtera impacto enorme sobre 0tempo. Quanto mais preci-sos conseguirem ser ao alocarem 0espaco individual e aoselecionarem 0espaco no mercado, mais tempo terao paradedicar a identificacao e a definicao de outro espaco.

    Assim como gerenciar 0 espaco, os empreendedoresdevem tambem gerenciar 0 tempo. A duracao de tempoem que urn espaco se mantem aberto no mercado tem-setornado menor com 0passar dos anos. De forma similar,dada a velocidade das mudancas, sera mais facil para osindividuos ajustarem seus metodos se tiverem mais espacopara si proprios. Quanto mais plenamente as pessoas ti-verem aceito a cultura e as regras da orqanizacao, maisconfianca e espaco conseguirao. E quanta mais espacotiverem, mais capazes serao de funcionar rapidamente,pois 0numero de pessoas com as quais devem transacio-nar para atuarem sera proporcionalmente menor.

    Na verdade, chega-se a urn ponto em que a velocidadeda mudanca tecnologica esta diretamente relacionada ashabilidades dos individuos e orqanizacoes em gerenciar deforma empreendedora, ou seja, criativa e rapidamente. Eimprovavel que se retorne a situacao em que membros deuma organizacao passavam muitos anos fazendo as mes-mas tarefas repetitivas. Firmas empregando mais de 5milpessoas, divididas em unidades de mais de 200, provavel-mente nao se manterao em posicao de lideranca por mui-to mais tempo. Isso e facil de entender: quanta maior aorqanizacao, maior tempo ela necessita para aprender emudar. Alern de urn certo tamanho, 0 tempo requeridopara as mudancas internas e maior do que a velocidadedas mudancas externas.

    Por causa disso, a proxima era sera a do fiorescimentodo empreendedorismo. Entretanto, quanta maior a velo-cidade da mudanca tecnologica, maior a probabilidade deo empreendedorismo ser expresso por formas organiza-cionais menores - resultado direto da formula apresen-tada anteriormente. A relacao e inversamente proporcio-nal. As companhias com maior probabilidade de sucessoe crescimento serao aquelas que farao amplo uso de sub-contratacao e diferentes formas de franquias. Todos ostipos de novas formas de empreendedorismo desenvol-

    ver-se-eo - por exemplo, auto-emprego em redes com-plementares e de pares (Filion, 1996a). Como a socieda-de transforma-se no sentido de tornar-se, cada vez mais,uma sociedade na qual cada individuo e responsavel por siproprio, voluntaria ou involuntariamente, caminha-se nadirecao de numero maior de pessoas mais livres. E aqui apesquisa no campo do empreendedorismo adquire urnnovo significado, por oferecer ferramentas que ajudaraoquantidade cada vez maior de pessoas a atuarem sob suasproprias condicoes, a serem elas mesmas em suas ativida-des e a compartilharem isso com as outras.CONCLUSAO

    o empreendedorismo foi ident if icado pelos economis-tas, em urn primeiro momento, como urn elemento util acompreensao do desenvolvimento. SubseqUentemente, oscomportamentaiistas tentaram entender 0 empreendedorcomo pessoa. Atualmente, 0 campo esta em processo deexpansao para quase todas as disciplinas das ciencias hu-manas.

    Concorda-se com Mulholland (1994) e Rosa & Bowes(1990) que 0 campo ainda e dominado por positivistas-funcionalistas e que ha necessidade urgente de novas pers-pectivas para compreender 0que os empreendedores saoe 0 que eles fazem. Particularmente merecedor de men-

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    L o u is J a cq u e s F il io n(1) No original em inqles, intrapreneurship. Neolo-

    gismo que indica 0 estudo do empreendedoris-mo dentro de organizacoes [Nota do Tradutor],

    (2 ) Como e tambem 0 caso de Olivier de Serre, 150anos antes de Cantillon, como visto em Theatred'agricultureet messagesdes champs, 3;!ed., 1605.

    (3) 0 mesmo tipo de entreposto comercial da familiaPerreault das cidades de Quebec e Trois-Rivieresno Canada. 0 pai de Francois-Joseph Perreaultfoi viver em St. Louis no vale do Mississippi de-pois da conquista do Canada pela Gra-Bretanhaem 1760. Francois-Joseph Perreault e considera-do urn dos pais da educacao no Quebec, tendocriado as primeiras escolas privadas no comecodo seculo XIX .

    (4) Do inqles behaviourists. 0 mesmo que behavio-ristas ou cientistas do comportamento [Nota doTradutor],

    (5) No original em ingles, locus of control. 0termolocus, emprestimo do latim, e normalmente usa-do na matematica, na medicina genetica e nodireito com a ideia de lugar ou local especifico[Nota do Tradutor],

    (6) Do original em inqles, incubative. Trata-se de urnneologismo, mesmo em inqles [Nota do Tradutor],(7) Do original em ingles, reactor, aquele que reage,

    no caso [Nota do Tradutor].(8) No original em inqles: CATWOE (Customers

    of the system, actors involved in the system,the transformation process involved, theweltanschauung - in other words, the im-age theft makes the system menaingful to thesystem owner -, the system owner, and theenvironment constraints on the system con-cerned) [Nota do Tradutor].

    Neste texto e apresentado urn resumo de pesquisa sobre empreendedores e proprietarios-gerentes,Primeiramente, sao introduzidos os pioneiros no campo, Cantillon, Say e Schumpeter, e mencionadas ascontribuicoes de alguns outros economistas, incluindo Knight, Hayek, Penrose e Casson. Em seguida saodescritas as contribuicoes dos comportamentalistas, com enfase especial em McClelland. Na sequencia saodiscutidas as caracteristicas mais comumente atribuidas aos empreendedores. A partir de 1980, 0campo doempreendedorismo transpos fronteiras e tern sido explorado por quase todas as disciplinas da area de cienciashumanas. Assim, algumas das tipologias mais estudadas no empreendedorismo sao apresentadas e 0 autorpropoe uma tipologia de proprietarios-qerentes de pequenos neg6cios. Varias tendencies te6ricas sao tambemdiscutidas, sendo sugerida uma definicao do termo empreendedor. Finalmente algumas reflexoes sobre direcoesfuturas na area sao apresentadas.

    Palavras-chave: empreendedorismo, pequenos neg6cios, ernpreendedores, teoria de empreendedorismo,tipologia de empreendedores, epistemologia do empreendedorismo.

    This text presents a summary of the research on entrepreneurs and owner-managers. First, it introduces thepioneers of the field: Cantillon, Say and Schumpeter. The contributions of a number of other economists,including, Knight, Hayek, Penrose, Kirzner and Casson are mentioned. It then describes the contributions ofthe behaviourists, with special emphasis on MacClelland. The characteristics most often attributed toentrepreneurs are discussed. From the 1980s onwards, the field of entrepreneurship exploded and wasappropriated by almost all the soft science disciplines. Some of the most commonly studied typologies inentrepreneurship are introduced, and a typology of small business owner-managers is proposed by the authorin an appendix. A number of theoretical trends are discussed. A definition of the entrepreneur is suggestedand the text also contains some reflections on future directions in the field.

    Uniterms: entrepreneurship, small business, entrepreneurs, entrepreneurship theory, entrepreneurial typologies,entrepreneurship epistemology.

    22 Revista de Admlnlstracao, Sao Paulo v.34, n.2, p.05-28, abril/junho 1999

  • 5/10/2018 Filion, 1999

    19/24

    E M P R E EN D ED O R IS M O : E M P R E E N DE D OR E S E P R O P R IE T A R IO S -G E R E N TE S D E P E Q U EN O S N E G O C

    A M IT , R . ; G L O S T E N , L . e t a l. C h a lle n g es to t h e o ry d e v e lo p m e n tin e n tr ep r e n e u r sh ip r e s e a rc h . J ou rn a l o f M a n ag em e n tS t u d i e s , v .3 0 , n .5 , p .8 1 5 - 8 3 4 , 1 9 9 3 .

    B A N N O C K , G . T h e e c o n o m ic s o f s m a l l f i rm s : r e tu m f o rm t h ew i l d e m e s s . O x f o rd , B a s i l B l a c k w e l l , 1 9 8 1 .

    B A U M O L , W . J . E n t r e p r e ne u r s h ip in e co n o m ic t h eo ry . T h eA m e r ic a n E c o n om i c R e v ie w , n .5 8 , p .6 4 - 71 , 1 9 6 8 .

    - - - . E n t r e p r e n e u r s h ip : p r o d u c t i v e , u n p r o d u c t i v e , a n dd e s t r u c t i v e . J o u m a l o f P o l i t ic a l E c o n o m i c , v .9 8 , n .5 , p .8 9 3 -9 2 1 , 1 9 9 0 .

    - - - . F o rm a l e n t r e p r e n e u r s h ip t h e o r y in e c o n o m ic s :e x is te n c e a n d b o u nd s . J o u m a l o f B u s in e ss V e n tu r in g , n . 3 ,p .1 9 7 -2 1 0 , 1 9 9 3 .

    B E C H A R D , J .P .C o m p r e n d re I e c h a m p d e I 'e n tr ep re n e u r sh ip .R e s e a rc h p a pe r 9 6 -0 1 - 0 1 , M a c le a n H u n t e r C h a i r o fE n t r e p re n e u r s h ip , H E C , T h e U n i v e r s it y o f M o n t re a l B u s i n e s sS c h o o l , 1 9 9 6 .

    B IR C H , D .L . T h e c o n tr i b u tio n o f s m a ll e n tr ep r i s e to g r o w th a n de m p l o y m e n t . P ro g r a m a o n N e ig h b o r h o o d a n d R e g io n a lC h a n g e , M a s s a c h u s e t ts I n s ti t u te o f T e c h n o l o g y ,C a m b r id g e ,M a s s ., H a r va rd U n iv e rs it y P r e s s , 1 9 8 3 .

    B I R L E Y , S . T h e r o le o f n e tw o r ks in th e e n tr ep re n e u r ia l p ro c e s s .J o u m a lo fB u s in e s s V e n tu r in g , v .1 , p .1 0 7 -1 1 7 , 1 9 8 9 .

    B L A W A T I , K . D e f in in g t h e e n tr e p re n e u r s : a c o n c e p tu a l m o d e l o fe n tr e p r e n e u r s h ip . A N N U A L C O N FE R EN C E O F T H EC C S B E (C A N A D IA N C O U N C IL F O R S M A L L B U S IN E S SA N D E N T R E P R E N E U R S H IP ) , 1 2 . P r o c e e d i n g s . T h u n d e rB a y , O n t a r io , p .1 3 - 37 , O c t . 1 9 9 5 .

    B O L T O N , J . E . S m a l l f i r m s : r e p o rt o f th e C o m m it te e o f In q u ir y o nS m a l l F i rm s . C h a irm a n J .E . B o lt o n D S C . P re se n t e d toP a rl i a m e n t ( N o v . ) U K , H M S O (H e r M a je s ty 's S t a tio n e r yO f fi c e ) C m n d 4 8 1 1 , 1 9 7 1 ,

    B R O C K H A U S , R . H . S r . T h e p s yc h o lo g y o f t h e e n tr e p re n eu r. I n :K E N T , C .A .; S E X T O N , D .L . & V E S P E R , K .H . ( e d s . )E n c y c lo p e d ia o f e n t r ep r e n eu r sh ip . E n g le w o o d C l if fs , N . J .,P r e n t ic e - H a l l, 1 9 8 2 . p . 3 9 -5 7

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    B U L L , I. & W IL L A R D , G . E . T o w a r d s a t h e o r y o f e n tr e p re n eu r-S h i p . J o u m a l o f B u s i n e ss V e n