conan espada & magia 1

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    2osebodigital.blogspot.com

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    Robert E. HowardL. Sprague de Camp

    Lin Carter

    CONANESPADA & MAGIA

    Traduo deJulia Brny e Jose Antonio Ceschin

    UNICRNIO AZUL

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    CONANda literatura para os quadrinhos

    por Silvio Alexandre

    Nem todos sabem que o primeiro aparecimento do cimrio Conan deuse na literatura da mesma orma que surgiu arzan (criao de Edgar Rice Burroughs publicado na revista AllStory Magazine em 1914) e Buck Rogers (inspirado no romance

    Armageddon 2429A.D, de Phillip Nowlan publicado na revistaAmazing Stories em 1928).

    A primeira histria de Conan,A Fnix na Espada, escritapor seu criador Robert E. Howard (19061936), oi publicada nosEstados Unidos em 1932, na revista de contos Weird ales. Surgia

    ento um novo personagem, Conan, que ao longo dos anos, seriaum sucesso nos livros, cinema e, principalmente, nas histrias emquadrinhos.

    De 1932 a 1936, a Weird ales apresentou dezessete contosde Conan e mais quatro oram publicadas postumamente. RobertE. Howard suicidouse em 11 de junho de 1936. Aps sua mor

    te suas obras pareciam adadas ao esquecimento, como ocorreucom a produo de autores do mesmo gnero. Porm, na dcadade 50, alguns contos de Howard oram reunidos numa edio limitada de capa dura da Gnome Press.

    Em 1966, as histrias de Conan seriam reeditadas desta vez

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    com as capas desenhadas por Frank Frazetta. Foi o bastante paraque a Marvel Comics adquirisse os direitos para a verso em quadrinhos de Conan e outros personagens de Howard, lanandoosa partir de 1970: Roy Tomas cou com a incumbncia de adap

    tar os textos e Barry Smith as ilustraes. Foi o incio da mais extensa e prolera das publicaes howardianas, que aqui no Brasil,atualmente, so publicadas pela Abril Jovem.

    A popularidade de Conan cresceu ainda mais aps as adaptaes para cinema: Conan, o Brbaro (1982) e Conan, o Destrui-dor(1984 ), onde Arnold Schwarzenegger interpreta o heri, em

    bora nos lmes no haja nase quanto ao aspecto da antasia.Mas, se a verdadeira ressurreio do interesse pela obra doescritor s aconteceu nos anos 60, quando as histrias de Conan

    voltaram a circular na orma de brochura e novas histrias oramcriadas por L. Sprague de Camp e Lin Crter, somente agora o pblico brasileiro ter acesso essas histrias atravs da UnicrnioAzul, que passar a publiclas, pela primeira vez em portugus.

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    Sumrio

    Introduo 9

    Sobre o Autor 13

    A Coisa dentro da Crpta 19

    A Filha do Gigante de Gelo 41

    A Torre do Elefante 55

    Deus na Tigela 89

    Vingana 115

    A Fnix na Espada 149

    Anais da Histria Hiboriana 183

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    Introduo

    Um dos maiores contadores de histrias do mundo oiRobert Ervin Howard (190636), natural de Cross Plains, exas.Embora Howard osse um escritor verstil e prolco - ele escreveu, por exemplo, uma srie de hilariantes e bemhumoradashistrias do Oeste - sua narrativa mgica chegou ao clmax nosseus contos de aventuras cheios de valentes.

    Por esses contos sobre espadachins e eiticeiros, demniose destruio deslam seus monumentais heris inesquecveis: ReiKull de Valusia, Bran Mak Morn, Solomon Kane e, o mais pode

    roso e mais vibrante de todos, Conan, o cimrio, heri de mais devinte contos cheios de ao.

    Acreditase que Conan tinha vivido h cerca de doze milanos, na Era Hiboriana, imaginada por Howard, entre a submerso de Atlntida e o incio da Histria escrita. Aventureirogigantesco e brbaro, originrio do obscuro pas setentrional da

    Cimria, (ver mapa principal), Conan atravessou rios de sanguee derrotou adversrios erozes, tanto naturais quanto sobrenaturais, para, no m, se tornar rei do reino hiboriano de Aquilnia.

    Foram publicadas dezoito histrias de Conan antes damorte de Howard, e descobriuse vrios manuscritos inditos -

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    algumas histrias completas, outras no - no decorrer dos ltimos vinte anos. ive o privilgio de editar essas histrias para apublicao pstuma e de completar a maioria das histrias inacabadas.

    Das quatro histrias deste livro, as duas primeiras apresentam um enredo complicado. Em 1951, descobri, numa pilhade manuscritos inditos de Howard, na casa do alecido Oscar J.Friend, o agente literrio do esplio de Howard na poca, umahistria intitulada O Estrangeiro Negro. Ao preparar este manuscrito para a publicao, eu o editei e reescrevi totalmente, con

    densandoo em mais de quinze por cento e acrescentando vriasinterpolaes para amarrar a histria ao Rei Numedides, a TothAmon, e subsequente revoluo em Aquilnia, para que ela seencaixasse dentro da sequncia da saga.

    O editor de Fantasy Magazine, que oi o primeiro a publicar a histria, ez novos acrscimos e supresses. Esta verso oireimpressa em 1953, no volume King Conan. O editor da revista

    manteve o ttulo original; mas, quando a histria oi publicadaem King Conan, mudei ento o ttulo para O esouro de ranicosporque O Estrangeiro Negro causava muita conuso pela semelhana com os ttulos de vrias outras histrias de Howard, dasquais pelo menos doze continham a palavra negro em seu ttulo.

    Para esta publicao, voltei ao manuscrito original de Ho

    ward e o editei numa orma bem mais leve, sem tentar condenslo e azendo apenas as mudanas que parecessem extremamentenecessrias. Omiti as mudanas eitas pelo editor da revista; noentanto, mantive as interpolaes que eu havia introduzido daprimeira vez, para amarrar a histria com o resto da saga - porexemplo, o relato de Conan sobre sua uga de Aquilnia.

    O que o leitor tem em mos agora, portanto, est muitomais prximo do original de Howard do que a verso publicadaanteriormente. Alm disso, Glenn Lord, o atual agente literriodo esplio de Howard, encontrou, no ano de 1965, Lobos almda Fronteira num pacote de papis de Howard. A histria parecia

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    estar em sua verso nal; mas parava a meio caminho (na lutadentro da cabana) e dava apenas um curto resumo do resto, queno passava de uma pgina. Provavelmente jamais saberemos seHoward havia se cansado da histria e a deixado de lado, preten

    dendo completla mais tarde, ou se ele tinha em mente algumaoutra coisa.

    Eu havia me proposto a concluir a histria no estilo de Howard, seguindo o resumo.

    As duas histrias restantes:A Fnix sobre a Espada eA Ci-dadela Escarlate esto - salvo algumas correes editoriais m

    nimas - na orma em que Howard as escreveu, publicadas emWeird ales, na dcada de 30.A saga de Conan a seguinte: Conan, lho de um erreiro

    cimrio, nasceu num campo de batalha, naquela terra cheia de colinas e nuvens. Quando jovem, ele participou do saque do postode Venarium, na ronteira de Aquilnia. Em seguida, juntandosea um bando de Aesir, participou de um ataque a Hiperbrea e oi

    capturado pelos hiperbreos.Depois de ugir do abrigo de escravos desse povo, peram

    bulou em direo ao sul, at Zamora e os condados vizinhos, sobrevivendo precariamente como ladro. Com sua natureza imatura em relao civilizao e avessa lei, ele compensou a altade sutileza e de sosticao com uma sagacidade natural e com o

    sico hercleo herdado do pai.Finalmente, alistouse como mercenrio no exrcito doRei Yildiz de uran. Viajou pelos pases de Hirknia, onde aprendeu a usar arco e echa e a montar. Mais tarde, prestou serviosde chee de armas nos pases de Hibria, liderou um bando decorsrios negros nas costas do Kush, e serviu como mercenrioem Shem e nos condados vizinhos. Voltou a ser um oradalei

    junto com os cossacos das estepes orientais e com os piratas doMar Vilayet. Depois de novamente prestar servios de mercenrio para o reino de Khauran, passou dois anos como chee doszuagirs, nmades shemitas orientais. Em seguida, viveu aventu

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    ras turbulentas nas terras orientais do Iranistan e Vendhya, durante as quais entrou em conronto com os Videntes Negros deYimsha, nas Montanhas Himelianas.

    Voltando para o Ocidente, Conan tornou a ser um ibus

    teiro com os piratas baraquianos e os bandidos zingarianos. Depois voltou a servir como mercenrio em Stygia e em alguns dosreinos negros. Foi caminhando em direo do norte, at Aquilnia, onde - ento com cerca de quarenta anos de idade - tornouse um batedor na ronteira dos pictos. Quando os pictos, com aajuda do mago Zogar Sag, atacaram os povoados de Aquilnia,

    Conan alhou na tentativa de salvar o Forte uscelan da destruio, mas salvou a vida de vrios moradores estabelecidos entre osrios Tunder e Negro. neste ponto que o presente livro comea.

    L. Sprague de Camp

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    Sobre oAutor

    Carta de Robert E. Howard

    a P. Schuyler MillerNo incio de 1936, dois s das histrias de

    Howard sobre Conan - P. Schuyler Miller, educador e escritor de co cientca, e Dr. John D. Clark, qumico - elaboraram, a partir das histrias at

    ento publicadas, um esboo da carreira de Conan eum mapa do mundo na Era Hiboriana. Miller escreveu para Howard sobre os resultados desta pesquisa.Ele recebeu uma resposta, escrita trs meses antesda morte de Howard, que esclarece o conceito queHoward tinha de Conan e a ambientao das histrias.

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    Lock Box 313Cross Plains, exas10 de maro de 1936

    Querido Sr. Miller:

    Sintome honrado com o ato de que o senhor e o Dr.Clark estejam to interessados em Conan, a ponto de elaborar umesquema de sua carreira e um mapa de seu ambiente. Ambos sosurpreendentemente precisos, considerando os dados imprecisos

    com os quais tiveram que trabalhar. O mapa original - aqueleque eu desenhei quando comecei a escrever Conan - deve estaraqui em algum lugar e vou tentar encontrlo para mostrarlhes.Esse mapa inclui somente os pases a oeste de Vilayet e ao nortede Kush. Jamais tentei mapear os reinos do Sul e do Leste, emboratenha na minha imaginao um esboo razoavelmente ntido dageograa desses lugares. Entretanto, sinto uma certa liberdade ao

    escrever sobre eles, j que os habitantes das naes hiborianasdo Oeste ignoravam os povos e os pases do Sul e do Leste assimcomo os povos da Europa medieval ignoravam a rica e a sia.Ao escrever sobre as naes hiborianas do Oeste, eu me sintoconnado aos limites das ronteiras inexveis e dos territriosconhecidos, mas ao inventar o resto do mundo, sintome capaz

    de dar asas minha imaginao. Isto , tendo adotado uma determinada concepo de geograa e de etnologia, sintome compelido a me ater a isso, pelo bem da consistncia. Minha concepodo Leste e do Sul no to denida nem to arbitrria.

    ratandose de Kush, porm, este um dos reinos negrosao sul de Stygia, no extremo Norte, na verdade, e emprestou seunome a toda a costa do Sul. Assim, quando um hiboriano ala deKush, geralmente no est alando do prprio reino, nem de umdos muitos reinos semelhantes, mas da Costa Negra em geral. E provvel que ale de qualquer homem negro como sendo umkushita, seja ele um keshani, um darari, um puntan ou o prprio

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    kushita. Isto natural, pois os kushitas oram os primeiros homens negros com os quais os hiborianos tiveram contato - piratas barachianos que tracavam com eles e os atacavam.

    Quanto ao destino nal de Conan, rancamente no pos

    so prevlo. Ao escrever estas histrias, sempre senti que no asestava criando e sim como se estivesse simplesmente relatandoas aventuras que ele me ia contando. por isso que elas saltamde um acontecimento a outro, sem seguir uma ordem regular. Oaventureiro mdio, contando ao acaso as histrias de uma vidaselvagem, raramente segue um plano ordenado, mas narra epis

    dios bem separados em termos de espao e de tempo, na medidaem que ele vai se lembrando deles.O esboo que vocs zeram segue bem de perto sua carrei

    ra como eu a visualizei. As dierenas so insignicantes. Como vocs deduzem, Conan tinha cerca de dezesseis anos de idadequando oi apresentado ao pblico emA orre do Eleante. Embora no totalmente adulto, ele era mais maduro do que um jo

    vem mdio civilizado nessa idade. Conan nasceu num campo debatalha, durante uma luta entre sua tribo e uma horda de vanires.O pas que seu cl considerava seu, e por onde vagueava, cava anoroeste da Cimria, mas Conan era ruto de cruzamento sanguneo, embora educado como um cimrio puro. Seu av oi membro de uma tribo do Sul que havia ugido de seu prprio povo por

    causa de um eudo de sangue e, depois de longas andanas, nalmente abrigouse entre os povos do Norte. Na juventude, antes desua uga, o av havia tomado parte em muitos assaltos s naeshiborianas, e talvez ossem as histrias que contava a Conan menino sobre aquelas terras mais suaves que despertaram nele umdesejo de vlas. Existem muitas coisas em relao vida de Conan das quais eu mesmo no tenho muita certeza. Por exemplo,no sei quando oi seu primeiro contato com povos civilizados.Poderia ter sido em Vanarium, ou ele pode ter eito uma visita pacca a alguma cidade ronteiria antes disso. Em Vanarium ele jera um adversrio ormidvel, embora tivesse apenas quinze anos

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    de idade. Conan tinha a altura de 1,83 m e pesava cerca de 90 kg,embora ainda altasse muito para alcanar o tamanho de adulto.

    Houve um intervalo de cerca de um ano entre Vanarium esua entrada na cidade de ladres de Zamora. Durante este tempo,

    ele voltou aos territrios do Norte pertencentes sua tribo, e ezsua primeira viagem para alm das ronteiras da Cimria. Isto,por mais estranho que parea, cava ao norte e no ao sul. Porqueou como, no tenho certeza, mas ele passou alguns meses comuma tribo dos aesires, lutando com os vanires e os hiperbreos,desenvolvendo um dio pelos ltimos que durou toda a sua vida

    e mais tarde aetou sua poltica quando rei de Aquilnia. Feitoprisioneiro por eles, ele ugiu para o sul e veio para Zamora atempo de azer sua apresentao ao pblico.

    No tenho certeza se a aventura relatada em Vinganaocorreu em Zamora. A presena de aces polticas oponentesindicaria outra coisa, j que Zamora estava sob um despotismoabsoluto, onde opinies polticas divergentes no eram toleradas.

    Sou da opinio de que a cidade era uma das pequenas cidadesestado logo a oeste de Zamora, para onde Conan oi depois dedeixar Zamora. Em seguida, ele voltou para Cimria por umabreve temporada e, de tempos em tempos, retomava a seu pasnatal. A ordem cronolgica de suas aventuras prxima da que

    vocs elaboraram, com exceo de que elas abrangem um pero

    do maior. Conan tinha cerca de quarenta anos de idade quandousurpou a coroa de Aquilnia, e cerca de quarenta e quatro ouquarenta e cinco na poca deA Hora do Drago. Naquela poca,ele no tinha um descendente masculino porque jamais se importara em ormalmente tornar rainha uma mulher, e os lhosdas concubinas, dos quais ele tinha um boa quantidade, no eramreconhecidos como herdeiros do trono.

    Ele oi rei de Aquilnia, penso eu, durante muitos anos,num reinado turbulento e inquieto, quando a civilizao hiboriana alcanou o mais magnco pice e todos os reis tinham ambies de imperador. Primeiro ele lutou na deensiva, mas sou da

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    opinio de que oi orado a guerras de agresso no mnimo porautopreservao. Se ele obteve sucesso em conquistar um amploimprio ou se pereceu tentando, eu no sei.

    Ele viajou bastante, no s antes de ser rei, mas tambm

    depois. Ele viajou a Khitai e a Hyrkania, e mesmo s regies menos conhecidas ao norte de Hyrkania e ao sul de Khitai. Ele at visitou um Continente sem nome, no hemisrio Oeste, e vagueouentre as ilhas adjacentes. Quanto dessas andanas ser impresso,ainda no posso prever com exatido. Fiquei muito interessadoem suas observaes sobre as descobertas na Pennsula Yamal; oi

    a primeira vez que ouvi qualquer coisa sobre o assunto. Sem dvida, Conan tinha conhecimento de primeira mo sobre as pessoasque desenvolveram a cultura descrita, ou pelo menos sobre seusancestrais.

    Espero que vocs achem interessanteA Era Hiboriana. Emanexo, mando uma cpia do mapa original que z. Sim, Napolitratou Conan muito bem, embora s vezes parea lhe emprestar

    traos latinos que no combinam com o tipo que imaginei dele.Entretanto, no vale a pena reclamar por to pouco.

    Espero que os dados que estou mandando respondam ssuas perguntas de maneira satisatria; terei enorme prazer emdiscutir qualquer outra ase que vocs quiserem, ou detalhar maisqualquer ponto da carreira de Conan, da histria ou da geograa

    hiboriana que vocs desejem. Agradeo novamente pelo seu interesse, e minhas estimas para voc e para o Dr. Clark.

    Cordialmente,Robert E. Howard

    PS. Voc no mencionou se queria de volta o mapa e acronologia, ento tomo a liberdade de conservlos comigo paramostrlos a alguns amigos; se os quiser de volta, por avor meavise.

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    A Coisadentro

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    O maior heri dos tempos hiborianos no oium hiboriano mas um brbaro, Conan da Cimria,ao redor de quem gira todo um ciclo de lendas. Dascivilizaes mais antigas da poca hiboriana e atlan

    te, sobrevivem somente algumas poucas narrativasragmentadas, meio lendrias. Uma delas, Crnicasda Nemdia, ornece a maior parte do que conhecido sobre a carreira de Conan. A seo que trata deConan comea assim:

    Saiba, Prncipe, que entre os anos quando os oceanos tra-garam a Atlntida e as reluzentes cidades, e os anos do surgimen-to dos Filhos de Aryas, houve uma Era que no existiria nem nossonhos, quando reinos esplendorosos se espalharam pelo mundocomo mantos azuis sob as estrelas Nemdia; Ophir; Brithunia;Hiperbrea; Zamora, com suas lindas mulheres de negras cabe-leiras e torres de mistrio aracndeo; Zngara, com sua cavalaria;

    Koth, que azia ronteira com as terras pastoris de Shem; Stygia,com suas tumbas protegidas pelas sombras; Hirknia, cujos cava-leiros ostentavam ao, seda, ouro. Mas o reino mais orgulhoso detodos era Aquilnia, que dominava supremo no Oeste sonhador.

    Para l se dirigiu Conan, o cimrio, de cabelos negros, olhos erozes, espada na mo, um ladro, um saqueador, um matador,

    com gigantescas crises de melancolia e no menores ases de ale-gria, para pisotear com seus ps os rgeis tronos cheios de jias.Nas veias de Conan corria o sangue da antiga Atlntida, en-

    golida oitocentos anos antes de sua poca pelos mares. Ele nasceunum cl que reivindicava uma regio a noroeste da Cimria. Seuav oi membro de uma tribo do Sul que havia ugido de seu pr-

    prio povo por causa de um eudo de sangue e, depois de uma longamigrao, reugiou-se entre os povos do Norte. O prprio Conannasceu num campo de batalha, durante uma luta entre sua tribo euma horda de vanires.

    No h registros de quando o jovem cimrio teve o primei-

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    ro contato com a civilizao, mas j era um lutador conhecido aoredor das ogueiras do Conselho antes de ter visto quinze invernos.Naquele ano, os cimrios esqueceram seus eudos e se uniram pararepelir os gunder, que haviam orado sua passagem pela ronteira

    da Aquilnia, haviam construdo o posto ronteirio de Venariume comeado a colonizar os pntanos do sul da Cimria. Conan eraum membro da horda uivante, sedenta de sangue que surgiu dascolinas do Norte, arremeteu-se com espada e tocha contra a ortale-za e empurrou os aquilnios para alm de suas prprias ronteiras.

    Por ocasio do saque de Venarium, sem ter atingido ainda

    sua estatura de adulto, Conan j tinha 1,83 metros de altura e pesa-va 90 kilos. Ele tinha a astcia e a prontido do homem da oresta,a resistncia rrea do homem das montanhas, o sico hercleo deseu pai erreiro e conhecia bem o uso da aca, do machado e daespada. Depois do saque do posto ronteirio de Aquilnia, Conanvolta por um tempo para a sua tribo. Inquieto por causa dos impul-sos conitantes de sua adolescncia, sua tradio e sua poca, ele

    passa alguns meses com um bando de aesires atacando inutilmenteos vanires e os hiperboreanos. Esta ltima campanha termina como cimrio de dezesseis anos de idade acorrentado. Mas ele no per-manece cativo por muito tempo...

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    Durante dois dias os lobos o seguiram atravs da oresta,e agora estavam novamente se aproximando. Olhando por cimado ombro, o menino os avistou: ormas peludas, pesadas, de umcinza escuro, saltando entre os troncos negros das rvores, comolhos que queimavam como carves em brasa na penumbra crescente. Dessa vez, ele sabia que no poderia aastlos como haviaeito antes.

    Ele no conseguia enxergar muito longe, pois sua voltase avolumavam, como soldados silenciosos de algum exrcito en

    eitiado, os troncos de milhares de abetos negros. A neve aindacobria de manchas brancas as encostas das colinas voltadas parao norte, mas o borbulhar de milhares de crregos ormados pelaneve e pelo gelo derretidos pressagiava a chegada da primavera. Era um mundo escuro, silencioso e sombrio, mesmo no meiodo vero; e agora, enquanto a tnue luz da tarde esmaecia com a

    aproximao da noite, parecia mais sombrio que nunca.O ugitivo continuava a correr encosta acima em meio aum espesso matagal, como havia corrido durante os dois diasdesde que conseguiu se livrar do abrigo de escravos em Hiperbrea. Embora osse um cimrio legtimo, ele zera parte de um

    Olhos

    Vermelhos 1

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    bando aesir de saqueadores, que assolava as ronteiras hiperborianas. Os altivos guerreiros louros daquele pas obscuro haviamencurralado e esmagado o grupo atacante; e o menino Conan,pela primeira vez em sua vida, havia experimentado a amargura

    das correntes e do chicote, destino comum do escravo.No entanto, ele no permaneceu na escravido por muito

    tempo. rabalhando noite enquanto os outros dormiam, ele havia desgastado um dos elos de sua corrente at conseguir arrebentla. Em seguida, libertouse durante uma tempestade violenta.Matara, a golpes de sua corrente arrebentada, o guarda e um sol

    dado que saltou em seu caminho, desaparecendo no aguaceiro.A chuva que o escondia de vista tambm desorientou os ces daequipe de busca mandada ao seu encalo.

    Embora livre no momento, o jovem se encontrou separadode sua Cimria natal por metade da extenso de um reino hostil.Ento, ele ugiu para o sul, para a terra selvagem e montanhosa que separava os pntanos ao sul da Hiperbrea das plancies

    rteis da Brithunia e as estepes de urania. Em algum lugar aosul, disseramlhe, existia o abuloso reino de Zamora - Zamoracom suas mulheres de negras cabeleiras e torres misteriosas. Alihavia cidades amosas: Shadizar, a capital, chamada de Cidadeda Maldade; Arenjun, a cidade de ladres; e Yezud, a cidade dodeusaranha.

    No ano anterior, Conan havia experimentado pela primeira vez os prazeres da civilizao quando, acompanhando ahorda dos cimrios sedentos de sangue que atravessara os murosde Venarium, participara do saque daquele posto ronteirio deAquilnia. Isto atiou seu apetite para querer mais. Ele no tinhauma ambio denida nem um programa de ao; nada a no ser

    vagos sonhos de aventuras desesperadas nas ricas terras do Sul.Vises de ouro e de jias reluzentes, de comida e bebida vontade, e dos calorosos abraos de belas mulheres de origem nobreeram os prmios por sua coragem que passavam por sua ingnuacabea jovem. No Sul, ele pensava, seu tamanho e sua ora de

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    alguma maneira lhe trariam ama e ortuna entre os racos habitantes. Assim ele rumou para o Sul, em busca de seu destino comnada mais que uma tnica esarrapada e grosseira e um pedaode corrente.

    E ento os lobos captaram seu cheiro. Normalmente umhomem em suas plenas oras tinha pouco a temer dos lobos.

    Mas era nal de Inverno; os lobos, amintos aps uma estao ruim, estavam desesperados por qualquer possibilidade dealimento.

    Da primeira vez que eles o alcanaram, ele usou a corrente

    com tanta ria que deixou um lobo cinzento debatendose e uivando na neve com as costas quebradas e outro lobo morto como crnio despedaado. Sangue vermelho manchou a neve derretida. A amigerada alcatia havia se aastado desse jovem de olhoserozes brandindo a terrvel corrente para, em vez disso, se reestelar com seus prprios irmos mortos, e o jovem Conan ugirapara o Sul. Mas, em breve eles estavam ao seu encalo novamente.

    No dia anterior, ao prdosol, eles o alcanaram perto deum rio congelado nas ronteiras de Brithunia. Conan havia lutado com eles sobre o gelo escorregadio, girando a corrente sanguinria como um malho, at que o lobo mais corajoso conseguiuprender na mandbula sinistra os elos de erro, arrancando a corrente de sua mo amortecida. Ento a ria da batalha e o peso da

    alcatia rompeu o gelo embaixo deles. Conan se viu aogando nacorrenteza gelada. Vrios lobos haviam cado junto com ele - eleviu de relance um lobo, meio imerso, arranhando desesperadamente a borda gelada com suas garras, tentando sair da gua -mas ele jamais soube quantos conseguiram se arrastar para orae quantos haviam sido tragados pela correnteza debaixo do gelo.

    Batendo os dentes, ele se iou para ora do outro lado, deixando a alcatia uivante para trs. Seminu e semicongelado, passou a noite toda ugindo para o sul, atravessando as colinas cheiasde orestas, e o dia seguinte tambm. Agora eles o alcanaram denovo.

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    O ar rio da montanha queimava seus pulmes esgotados,cada respirao era como inspirar o ogo de alguma ornalha inernal. Insensveis, suas pernas de chumbo se moviam como pistes. A cada passo, seus ps calados com sandlias aundavam

    na terra encharcada e saam novamente azendo rudos de suco.Ele sabia que, de mos vazias, tinha pouca chance contra

    uma dzia de peludos assassinos de homens. No entanto, continuava a caminhar sem parar. Sua sombria herana cimria nolhe permitia desistir, mesmo em ace da morte certa.

    A neve voltou a cair - ocos grandes e midos caam com

    um leve mas audvel rudo sibilante, cobrindo a molhada terrapreta e os esguios abetos negros com uma innidade de pontosbrancos. Aqui e ali, grandes montes despontavam da terra atapetada de agulhas dos abetos; a regio se tornava cada vez maisrochosa e montanhosa. E ali, pensava Conan, poderia estar suanica chance de sobreviver. Ele poderia apoiar as costas num rochedo e augentar os lobos quando estes o atacassem. Era uma

    chance mnima - ele conhecia bem a rapidez errenha daquelescorpos geis, sinuosos, de 45 kg de peso - mas era melhor quenada.

    A mata escasseava na medida em que a encosta cava maisngreme. Conan saltou para uma enorme massa de rochedos queapontava na encosta da colina, semelhante entrada de um caste

    lo soterrado. Ento os lobos apareceram na borda da mata espessa e correram atrs dele, uivando como demnios vermelhos doInerno perseguindo e derrubando uma alma penada.

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    A Porta no

    Rochedo 2

    Em meio a redemoinho branco de neve, o menino viu umaboca negra escancarada entre dois enormes rochedos e correupara l. Os lobos estavam em seus calcanhares; sentiu o hlitoquente, malcheiroso deles sobre suas pernas nuas quando se jogou para dentro da enda negra que se abria sua rente. Conanse espremeu atravs da abertura no mesmo instante em que olobo que estava na rente pulava em cima dele. As mandbulasamintas se echaram no vazio; ele estava salvo.

    Mas por quanto tempo?

    Agachandose, Conan tateou sua volta no escuro, palmilhando o cho de pedra spera, procurando qualquer objetosolto para jogar na horda uivante. Ele ouvia os passos deles sobrea neve resca do lado de ora, arranhando a pedra com as garras.Assim como ele, os lobos resolegavam. Eles uavam e ganiam,amintos por sangue. Mas nenhum deles conseguiu passar pela

    abertura, uma enda escura, cinzenta na escurido. E isto eramuito estranho.Conan se encontrou num estreito cmodo dentro da pe

    dra, apenas iluminado por uma tnue claridade que vinha pelaresta. O cho irregular da cela estava coberto de resduos trazi

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    dos pelo vento atravs dos sculos, ou carregados pelos pssaros epelos animais: eram olhas secas, agulhas de abeto, galhos, algunsossos espalhados, pedregulhos e lascas de pedra. No havia nadano meio desse lixo que ele pudesse usar como arma.

    Esticandose em toda a sua altura - j alguns centmetros amais do que h pouco tempo atrs - o menino comeou a explorar a parede com a mo estendida. Em breve ele encontrou outraporta. ateando, passou por essa entrada e se viu em meio a umaescurido de breu, quando seus dedos apalparam letras entalhadas na pedra, de alguma lngua desconhecida. Desconhecida, ao

    menos para o menino analabeto que vinha das terras brbarasdo Norte, que desprezava o conhecimento da leitura e da escritapor considerar eeminadas essas habilidades civilizadas.

    Ele teve de se agachar para passar pela porta interna, masdepois j havia altura suciente para car ereto. Cansado, detevese a escutar. Embora zesse silncio total, algum sentido o alertava que no estava sozinho naquele lugar. Nada que pudesse ver,

    ouvir ou sentir o cheiro, mas uma sensao dierente de algumapresena.

    Seus ouvidos sensveis, treinados para ouvir ecos na oresta, inormaramno de que esta cmara interna era bem maior doque a anterior. O lugar rescendia a poeira antiga e a excrementode morcegos. Sentia sob seus ps vrios objetos espalhados pelo

    cho. Embora no pudesse vlos, percebia que no era lixo daoresta, mas pareciam mais objetos eitos pelo homem.Ao dar um passo rpido no escuro ao longo da parede,

    tropeou num desses objetos, que se despedaou sob o seu peso.Uma lasca de madeira acrescentou mais um arranho quelesprovocados pelos galhos de abetos e pelas garras dos lobos. Praguejando, levantouse e tateou no escuro procurando a coisa queele havia destrudo. Era uma cadeira, cuja madeira estava toapodrecida que se quebrara.

    Continuou suas exploraes com mais cautela. Encontrououtro objeto maior, que ele reconheceu ser o corpo de uma carru

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    agem. As rodas havia desabado por causa dos eixos apodrecidose assim o corpo jazia no cho em meio aos ragmentos dos eixose pedaos de aros.

    As mos de Conan toparam com algo rio e metlico. Seu

    tato lhe dizia que era provavelmente uma armao enerrujadada carruagem. Isto lhe deu uma idia. Voltou tateando s cegasrumo ao portal interior, que ele mal conseguia distinguir nas tre

    vas que a tudo envolviam. Apanhou do cho da antecmara umpunhado de material inamvel e vrias lascas de pedra. De volta cmara interior, ez uma pilha com o material inamvel e oi

    golpeando uma a uma as pedras no erro. Depois de vrias tentativas, encontrou uma pedra que soltou brilhantes ascas.Em breve j ardia uma pequena ogueira umarenta, que

    Conan oi alimentando com os pedaos da cadeira e com os ragmentos das rodas da carruagem. Agora podia relaxar, descansarde sua terrvel correria atravs do pais e aquecer seus membrosenregelados. O ogo crepitante deteria os lobos, que ainda ronda

    vam a entrada externa, relutantes em ir atrs dele na escurido dacaverna mas tambm no querendo desistir de sua presa.

    O ogo emitia uma quente luz amarela que danava pelasparedes de pedra grosseiramente lavrada. Conan olhou sua volta. O cmodo era quadrado e maior do que tinha imaginado. Oteto alto se perdia em sombras espessas, abarrotado de teias de

    aranha. Vrias cadeiras estavam encostadas s paredes, junto comum par de bas abertos expondo seu contedo de roupas e dearmas. A grande sala de pedra tinha cheiro de morte - de coisasantigas desenterradas h muito tempo.

    E ento seus cabelos se eriaram, e o menino sentiu suapele se arrepiar com a emoo do sobrenatural. Pois ali, numenorme assento de pedra, no canto mais aastado do salo, estavaentronizada uma gura de um homem nu, com uma espada desembainhada sobre os joelhos e uma cavernosa ace tandoo luz bruxuleante.

    Logo que viu o gigante nu, Conan percebeu que ele estava

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    morto - morto h muitos sculos. Os membros do cadver estavam marrons e ressecados como varas secas. A carne sobre seuenorme tronco havia secado, encolhido e rachado, pendendo emrangalhos das costelas nuas.

    Isto, porm, no acalmou o repentino calario de terrorque percorreu a espinha do jovem. Mais destemido que o normalna sua idade, pronto para enrentar homens e animais na batalha,o menino no tinha medo nem da dor nem da morte nem de inimigos mortais. Mas ele era um brbaro que vinha das colinas doNorte do interior de Cimria. Como todos os brbaros, ele temia

    os terrores sobrenaturais da sepultura e das trevas, com todos osseus pavores e demnios e as coisas monstruosas e bamboleantesda Noite e do Caos Atvicos, com as quais o povo primitivo po

    voa as trevas alm do crculo de sua ogueira. Conan at preeririaenrentar os lobos amintos do que permanecer ali com o mortoolhando para ele de seu trono de pedra, enquanto as chamas oscilantes davam vida e movimento caveira ressecada e moviam

    as sombras em suas rbitas como se ossem escuros olhos chamejantes.

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    A Coisa

    Sentada

    no Trono 3

    Embora seu sangue gelasse e os cabelos cassem eriados,o menino ez um violento esoro para se controlar. Os pesadelos que se danassem, ele atravessou o salo a passos rgidos paraolhar mais de perto a coisa morta.

    O trono era um bloco quadrado de pedra preta polida, esculpido grosseiramente para dar a orma de um assento, colocado sobre um tablado de 30 centmetros de altura. O homem nuou morrera sentado nele ou ora colocado ali depois de morto.As vestes que poderia estar usando se esarraparam havia muito

    tempo. Fivelas de bronze e tiras de couro de sua armadura ainda estavam jogadas ao redor de seus ps. Um colar de pepitasde ouro pendia em volta do seu pescoo; pedras preciosas brutaspiscavam dos anis de ouro em suas mos em orma de garras,que ainda se agarravam aos braos do trono. Um capacete debronze, ornado com chires, agora esverdeado e ceroso por causa

    da oxidao, coroava a ronte acima do horror marrom que erao seu rosto.A vontade rrea ez com que Conan se orasse a dar

    uma olhada nesses traos carcomidos pelo tempo. Os olhos haviam aundado, deixando dois buracos negros. A pele havia se

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    desprendido dos lbios ressecados, deixando os dentes amareloscom uma expresso de sorriso mrbido.

    Quem oi ele, este morto? Um guerreiro dos tempos antigos - algum grande chee, temido em vida e entronizado na

    morte? Ningum poderia saber. Centenas de raas vaguearampor essas montanhosas regies ronteirias e as dominaram desde que a Atlntida havia submergido nas ondas cor de esmeraldado oceano ocidental, oito mil anos atrs. Pelo capacete de cornos,o cadver poderia ter sido um chee dos vanires ou dos aesiresprimitivos, ou o rei primitivo de alguma esquecida tribo hiboria

    na, h muito desaparecida nas sombras do tempo e enterrada sobo p dos sculos.Ento os olhos de Conan caram sobre a enorme espada

    que jazia no colo ossudo do cadver. Era uma arma terrvel: umsabre com uma lmina que tinha bem mais de um metro de comprimento. Era eita de erro azul - no de cobre ou de bronze,como se poderia supor por sua bvia antiguidade. Poderia ter

    sido uma das primeiras armas de erro eitas pelas mos humanas; as lendas do povo de Conan rememoravam os dias em queos homens usavam o erro grosseiro para abricar armas, quandoa abricao do bronze era desconhecida. Muitas batalhas esta espada havia visto no passado obscuro, pois sua lmina larga, embora ainda aada, estava marcada em vrios lugares onde havia

    colidido com outras lminas de espadas ou de machados, na violncia da contenda. Manchada pelo tempo e pela errugem, aindaera uma arma a ser temida.

    O menino sentiu o sangue pulsar. O sangue de algum nascido na guerra agitavase dentro dele. Crom, que espada! Comuma lmina dessas ele poderia se deender bem demais dos lobosamintos que rondavam, ganiam e esperavam do lado de ora. Aoagarrar ansioso a empunhadura, ele no percebeu o aviso quetremulou dentro daquelas rbitas sombrias na caveira do antigoguerreiro.

    Conan ergueu a lmina. Era pesada como chumbo - uma

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    espada das eras antigas. alvez algum rei heri e lendrio da Antiguidade a houvesse carregado - algum demiurgo lendrio comoKull da Atlntida, rei de Valusia nas eras anteriores submersode Atlntida no mar revolto ...

    O menino girou a espada, sentindo seus msculos incharem de ora e seu corao acelerarse de orgulho pela posse.Deuses, que espada! Com uma lmina dessas, nenhum destinoera elevado demais para um guerreiro aspirar! Com uma espada dessas, mesmo um jovem brbaro seminu vindo dos desertosinclementes da Cimria poderia abrir seu caminho pelo mundo

    e atravessar rios de sangue para alcanar um lugar entre os supremos reis da erra!Ele se aastou do trono de pedra, brandindo a espada, sen

    tindo a empunhadura desgastada pelos sculos em sua palma endurecida. A velha e aada espada sibilava no ar enumaado, e aluz bruxuleante do ogo se reetia da lmina para as paredes grosseiras de pedra, saltitando ao longo das paredes da cmara como

    pequenos meteoros dourados. Com esta poderosa arma em suasmos, ele podia enrentar no s os lobos amintos, mas tambmum mundo de guerreiros.

    O menino abriu seu peito e emitiu o selvagem grito deguerra de seu povo. Os ecos desse grito ressoaram como trovespela cmara, perturbando sombras antigas e poeira velha. Conan

    jamais parou para pensar que tal desao, num lugar como aquele,poderia despertar outras coisas alm de sombras e poeira - coisas que tinham todo o direito de continuar dormindo sem sereminterrompidas por todos os cons uturos.

    Ele se deteve imvel no meio de um movimento, quandoum rudo - um indescritvel rangido seco - veio do lado do trono da cripta. Voltandose ele viu ... e sentiu os cabelos carem emp e o sangue gelar nas veias. odos os seus terrores supersticiosos e atvicos medos noturnos despertaram uivando, enchendosua mente com sombras de loucura e terror. Pois o morto estava

    vivo.

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    Quando os

    Mortos

    Caminham 4

    Devagar, aos solavancos, o cadver se ergueu de seu enorme assento de pedra e touo com seus buracos negros, que agorapareciam preenchidos por olhos vivos, brilhando malignamente. De alguma maneira - por meio de qual eitiaria primitivao menino Conan no podia adivinhar - a vida ainda animava ammia ressecada do chee morto h muito tempo. Mandbulasabertas num ricto de riso se abriam e se echavam numa pantomima amedrontadora de ala.

    Mas o nico rudo era o ranger que Conan tinha ouvido

    como se restos de msculos e de tendes estivessem se esregando uns contra os outros. Para o cimrio, esta silenciosa imitaode ala era mais terrvel do que o ato de que o morto estava vivoe se movia.

    Em meio a rangidos, a mmia desceu do tablado de seu antigo trono e voltou seu crnio na direo de Conan. Quando seu

    olhar sem olhos se xou na espada que Conan segurava na mo,ogos lgubres de eitio queimaram nas rbitas ocas. ropeando desajeitadamente, a mmia atravessou o salo acercandosede Conan como uma orma de horror sem nome dos pesadelosde um inimigo louco. Estendeu suas garras ossudas para arreba

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    tar a espada das mos jovens e ortes de Conan.Paralisado de terror supersticioso, oi retrocedendo passo

    a passo. A luz do ogo projetava a sombra negra e monstruosa dammia na parede s suas costas, provocando ondulaes sobre a

    pedra grosseira. Os nicos sons dentro do tmulo eram o crepitardas chamas mordendo as peas da moblia antiga, com as quaisele havia alimentado o ogo, o aralhar e o ranger dos msculosenrigecidos do cadver, avanando a passos titubeantes pela cripta, e a oegante respirao do jovem tentando retomar o legopara se livrar da garra do terror.

    Agora a coisa morta o havia encurralado contra a parede.Estendeu aos trancos uma das garras. A reao do menino oi automtica; instintivamente, ele golpeou. A lmina sibilou e decepou o brao estendido, que se despedaou como uma vara. Aindaagarrando o vazio, a mo decepada caiu no cho com um rudoseco; nenhum sangue espirrou do toco seco do brao.

    A terrvel erida, que teria detido qualquer guerreiro vivo,

    nem ao menos atrasou o andar do cadver. Este se limitou a recolher o toco do brao decepado e estender o outro.

    Conan se atirou, deserindo selvagemente grandes golpescom sua lmina. Um dos golpes atingiu a mmia de lado. Ascostelas se romperam como galhos sob o impacto, e o cadvercaiu com um clangor. Conan cou resolegando no meio da sala,

    apertando a desgastada empunhadura nas mos suadas. Com osolhos arregalados, ele viu a mmia se levantar devagar, rangendo,e tornar a se arrastar mecanicamente em sua direo, com a garraremanescente estendida.

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    Duelo com os

    Mortos 5

    Eles oram dando voltas lentamente. Conan brandia a espada mas retrocedia passo a passo diante do avano ininterruptoda coisa morta.

    Deseriu um golpe no brao remanescente mas no acertou pois a mmia conseguiu evitlo; o mpeto arremessou Conan para o lado e, antes que ele pudesse se recuperar, a mmia jestava sobre ele. Agarrou a tnica e a rasgou deixandoo seminu,apenas calado com suas sandlias e vestindo uma aixa ao redordos quadris.

    Conan pulou para trs e deseriu um golpe na cabea domonstro. A mmia se abaixou e novamente Conan teve de lutarpara evitar sua garra. Finalmente ele deseriu um golpe terrvelno lado da cabea, decepando um dos chires do capacete. Outrogolpe lanou o capacete para o canto. Enterrou outro golpe nocrnio seco e marrom. A lmina cou presa por um instante -

    um instante que quase acabou com o menino pois sua pele estavasendo arranhada pelas unhas negras enquanto ele se debatia paradesvencilhar a arma.

    A espada atingiu a mmia nas costelas novamente, alojouse por um segundo quase atal na espinha e tornou a se des

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    vencilhar. Nada, ao que parecia, poderia deter a mmia. Morta,no podia ser erida. Continuava sempre seu incansvel avanocambaleante, sem hesitar, apesar das eridas que teriam atiradogemendo no p uma dzia de robustos guerreiros.

    Como se pode matar algo que j est morto? A perguntaecoava loucamente na cabea de Conan, at deixlo quase loucocom a repetio. Ele orava os pulmes, o corao batia comose estivesse a ponto de explodir. Por mais que cortasse e golpeasse, nem ao menos conseguia diminuir a velocidade do avano dacoisa morta sobre ele.

    Agora golpeava com maior astcia. Raciocinando que, seno conseguisse caminhar, a coisa no poderia perseguilo, eledeseriu um eroz golpe com as costas da mo no joelho da mmia. Um osso se rompeu e a mmia desabou, debatendose no pdo cho da caverna. Mas uma vida no natural ainda queimavadentro do peito seco da mmia. Ela tornou a se pr de p e selanou atrs do menino, arrastando a perna aleijada.

    Com outro golpe, Conan decepou a parte inerior do rostoda coisa morta; o queixo oi arremessado para o meio das sombras. Mas o cadver no parava. Com um sinistro brilho nas rbitas, ainda cambaleava atrs de seu antagonista, numa perseguioincansvel e mecnica. Conan comeou a desejar que tivesse cado do lado de ora com os lobos em vez de procurar abrigo nesta

    maldita cripta, onde as coisas que deveriam ter morrido milharesde anos atrs ainda andavam e matavam.Ento algo agarrou seu tornozelo. Perdendo o equilbrio,

    ele caiu de corpo inteiro no cho duro de pedra, debatendoseuriosamente para libertar a perna. Seu sangue gelou quando viua mo decepada do cadver agarrando seu p. As garras ossudasenterravase em sua carne.

    Ento, uma orma tenebrosa de pesadelo e loucura estendeuse sobre ele. O rosto quebrado do cadver olhava de soslaiopara ele, e uma das garras arremeteuse em direo de sua garganta.

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    Conan reagiu por instinto. Com toda a sua ora, ele ergueu os dois ps calados com sandlias contra o ventre encolhido da coisa morta curvada em cima dele. Lanada para cima, elacaiu com um estrondo bem para dentro da ogueira.

    Ento Conan arrancou de seu tornozelo a mo decepada ea lanou no ogo com o resto da mmia. Apanhou a espada e voltouse - para descobrir que a batalha estava terminada. Ressecada pela passagem de inmeros sculos, a mmia queimava coma ria de galhos secos. A vida no natural dentro dela ainda tremulava na sua luta em se erguer, enquanto chamas lambiam sua

    orma ressecada, saltando de membro em membro e convertendo tudo em uma tocha viva. Havia quase conseguido arrastarsepara ora do ogo quando sua perna aleijada cedeu, e ela desabounuma massa trovejante. Um brao em chamas caiu como uma

    vara retorcida. O crnio rolou em meio aos carves. Em poucosminutos, a mmia estava totalmente queimada, restando apenasalguns pedaos de osso chamuscado.

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    A Espada de

    Conan 6

    Conan deu um proundo suspiro e mais outro. Depois datenso, sentiase totalmente esgotado. Enxugou o suor rio deterror de seu rosto e penteou com os dedos os cabelos negrosemaranhados para trs. A mmia do guerreiro morto nalmenteestava morta de verdade, e a grande espada era dele. Ele tornou abrandila, avaliando seu peso e seu poder.

    Por um instante, ele pensou em passar a noite na tumba.Estava mortalmente cansado. Do lado de ora, os lobos e o rioesperavam para acabar com ele, e nem mesmo seu senso de dire

    o adquirido pela prtica na selva poderia mantlo no caminhoescolhido numa noite sem estrelas, numa terra estranha.

    Mas ento ele oi tomado por nojo. A cmara cheia de umaa cheirava mal, agora, no s por causa do p secular mastambm por causa da carne humana queimada, morta h muito tempo - um odor estranho, que no se assemelhava a nada

    que as narinas de Conan haviam detectado at ento. Um cheiroque revolvia seu estmago. O trono vazio parecia olhar de soslaio para ele. Aquela sensao de alguma presena que o atingiuquando acabara de entrar nessa cmara ainda permanecia em sualembrana. Arrepiouse da cabea aos ps quando pensou em

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    dormir naquela cmara assombrada.Alm do mais, com sua nova espada, ele estava cheio de

    conana. Estuando o peito, girava a lmina em crculos sibilantes.

    Momentos mais tarde, enrolado num manto de pele queencontrara numa das arcas, segurando uma tocha numa dasmos e a espada na outra, ele saiu da caverna. No havia sinal doslobos. Dando uma olhada para o cu, viu que j estava clareando.Em seguida, Conan estudou as estrelas que brilhavam entre asnuvens e mais uma vez dirigiu seus passos rumo ao Sul.

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    Eram dois homens altos, ortes como um par de tigresadultos. Os escudos haviam desaparecido, as armaduras estavamriscadas e rachadas. O sangue coagulava nas suas malhas, e asespadas estavam manchadas de vermelho. Os capacetes orna

    mentados com chires de touro mostravam as marcas de golpesviolentos. Um deles no tinha barba, e seus cabelos abundanteseram escuros. Os cabelos e a barba encaracolada do outro eram

    vermelhos como o sangue que tingia a neve banhada pelos raiosdo sol.

    Homem, disse este ltimo quero saber teu nome,

    para que meus irmos em Vanaheim saibam quem oi o ltimomembro do bando de Wulfere a morrer pela espada de Heimdul. No em Vanaheim, resmungou o guerreiro de cabe

    los negros, mas em Valhalla voc vai contar a seus irmos queenrentou Conan da Cimria!

    Heimdul urrou e deu um salto para a rente, com a espadabrilhando num arco mortal. Quando a lmina prateada atingiu

    seu capacete, lanando ascas azuladas ao ar, Conan cambaleoue sua viso encheuse de agulhas avermelhadas. Mas ao vacilar,ele juntou todas as oras de seus ombros poderosos por trs daespada. A lmina aada rasgou a malha de metal, os ossos e o corao do inimigo, e o guerreiro dos cabelos vermelhos encontroua morte aos ps de Conan.

    O cimrio ergueuse, com a espada apoiada no cho, atrsdele. Viuse repentinamente diante da doentia realidade que ocercava. O brilho do sol reetido na brancura da neve doa emseus olhos, como a ponta de uma aca, e o cu parecia distante, estranhamente separado do mundo. Ele virou as costas para aquelaplancie desolada, onde guerreiros de barbas louras jaziam agarrados aos matadores de cabelos vermelhos, no abrao da morte.Deu alguns passos, e o reexo dos campos gelados de repente seapagou. Uma onda de cegueira tomou conta de sua vista, e elecaiu na neve, apoiando o corpo em um dos braos vestidos coma malha metlica, procurando aastar a cegueira dos olhos com

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    um balano da cabea, como um leo sacudindo a juba dourada.Uma gargalhada aguda penetrou na sua tontura, e sua vi

    so clareou lentamente. Conan levantou os olhos. Sentia algo estranho no mundo ao seu redor, que no conseguia denir nem

    interpretar, um estranho matiz no cu e na terra. Mas no tevemuito tempo para pensar nisso. Diante dele, balanando como ocapim ao vento, estava uma mulher em p. Para seu olhar conuso, o corpo dela parecia branco como o marm e, a no ser porum vu muito no e utuante, estava to nua como a luz do dia.Os ps delicados eram ainda mais brancos do que a neve sobre a

    qual pisavam. Ela riu para o conuso guerreiro, com uma gargalhada mais doce do que os pingos de uma onte das montanhas ecarregada do veneno da mais pura zombaria.

    Quem voc? perguntou o cimrio. De onde vocveio?

    O que importa? A voz dela era mais musical do queas cordas de uma harpa, embora cheia de crueldade.

    Chame os seus homens, disse Conan agarrando a espada. Estou quase sem oras, mas no me entregarei sem lutarat a morte. Vejo que voc vanir.

    Por acaso eu disse isso?Conan examinou melhor os cachos dourados dos cabelos

    dela que, a princpio, pareciam vermelhos. Notou ento que no

    eram nem amarelos nem vermelhos, mas uma mistura das duascores. Ficou ascinado. Aqueles cabelos longos tinham a delicadeza do ouro; o sol reetia neles com tamanha intensidade queConan mal conseguia manter seus olhos abertos. O olhar delatambm conundia: no era de todo azul nem cinzento, mas umamistura de tons e luzes utuantes, uma verdadeira nuvem de tonalidades estranhas que ele no sabia como interpretar. Os lbios

    vermelhos mostraram um sorriso delicado. odo o seu corpo demarm, desde as pontas dos ps at a ouscante cabeleira dourada, era pereito como o sonho de um deus. O sangue de Conanparecia querer erver nas veias.

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    Ele disse: No sei se voc de Vanaheim, portanto minha inimiga,

    ou de Aesgaard e minha aliada. J tive muitos sonhos, mas umamulher como voc eu nunca vi. Seus cabelos so to brilhantes

    que co cego ao olhar para eles. Jamais vi uma cabeleira assim,nem mesmo entre as mais lindas lhas de Aesir. Em nome deYmir...

    Quem voc para usar assim o nome de Ymir? interrompeu ela. O que sabe dos deuses do gelo e da neve, voc,que veio do sul para aventurarse no meio de um povo que lhe

    estranho? Em nome de todos os deuses escuros de minha raa! gritou Conan com raiva. No tenho os cabelos louros dosaesires, mas ningum consegue segurar uma espada como eu!Hoje eu vi dezenas de homens tombarem, e ui o nico a sair vivodos campos onde os guerreiros de Wulfere enrentaram os lobosde Bragi. Digame, mulher, por acaso viu o brilho de armaduras

    sobre os campos gelados, ou homens armados viajando sobre aneve?

    O que vi oi o orvalho gelado brilhando sob o sol, respondeu ela. E ouvi o assobio do vento na neve eterna.

    Conan balanou a cabea, suspirando. Niord deveria ter nos alcanado antes de a batalha co

    mear. emo que ele e seus guerreiros tenham sido atacados desurpresa. Wulfere e seus homens esto mortos... Eu achei queno havia aldeia alguma em um raio de muitos quilmetros destelugar, porque a guerra nos trouxe para longe. Mas voc no podeter viajado muito pisando sobre a neve, nua como est. Se or deAesgaard, leveme sua tribo, sori muitos golpes e quei exaustocom a batalha.

    Minha aldeia mais distante do que imagina, Conanda Cimria, disse ela, rindo. De braos abertos, danou diantedele, a cabea dourada em movimentos sensuais, e os olhos cintilantes emoldurados pelos longos e curvados clios louros. No

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    sou bela, cimrio? o linda como a aurora correndo nua sobre a neve,

    resmungou Conan, com os olhos cintilando como os de um lobo. Ento, por que no se levanta e me segue? Quem o

    poderoso guerreiro que jaz aos meus ps? A voz dela era umcanto de pura zombaria. Fique cado e morra na neve, comoos outros tolos, Conan dos cabelos negros. Voc no poderia iraonde eu vou.

    Amaldioando sua sorte, o cimrio levantouse com umbrilho intenso no olhar, sentindo arder o rosto escuro e cicatri

    zado. O dio tomava conta de sua alma, mas o desejo por aquelaprovocante criatura martelava suas tmporas e azia aumentar apresso do sangue em todas as veias do seu corpo. Uma paixoto violenta como a agonia sica tomou conta de todo o seu ser,azendo a terra e o cu carem vermelhos para o seu olhar desconcertado. A loucura apoderouse dele, e toda raqueza e cansao desapareceram.

    Ele no disse uma palavra sequer, ao enar na bainha aespada ensanguentada e abrir as mos na direo da mulher, tentando agarrar sua pele macia. Com um grito e uma risada elasaltou para trs e correu, os olhos sorrindo para ele por cima dosombros brancos. Resmungando, Conan a seguiu. Ele se esquecerada luta, j no lembrava dos homens em armadura que jaziam so

    bre o prprio sangue, nem de Niord, cujos guerreiros no haviamchegado a tempo. odos os seus pensamentos eram apenas paraa gura branca e esguia que parecia utuar, ao invs de correr narente dele.

    A louca perseguio desenvolveuse pela plancie brancae gelada. Os campos cobertos de sangue caram para trs, e Conan continuou correndo com a silenciosa tenacidade peculiar aoshomens de sua raa. Seus ps, calando sandlias de malha metlica, rompiam a crosta de gelo e aundavam na neve amontoadapelo vento, e ele prosseguia, ajudado pela enorme ora dos seusmsculos. A garota parecia danar sobre a neve, como uma pena

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    utuando numa lagoa. Seus ps descalos quase no marcavam asupercie branca do cho. Apesar do ervor intenso do seu sangue, o rio penetrava na malha metlica e no casaco de pele quecobriam o corpo do guerreiro. E a mulher, protegida apenas por

    um vu muito delicado, utuava com tamanha leveza e alegriacomo se estivesse danando no meio das palmeiras do jardim derosas de Poitain.

    Ela correu mais e mais, e Conan a seguiu. De vez em quando escapava um palavro entre seus lbios rachados pelo rio. Asenormes veias de suas tmporas inchavam e pulsavam, enquanto

    seus dentes rangiam. No vai conseguir escapar de mim, ele gritou. Seme atrair para uma emboscada, amontoarei aos seus ps os corpos mortos dos seus guerreiros! No tente se esconder de mim,pois eu derrubarei cada montanha at encontrla! Vou seguilanem que tenha de ir at o inerno!

    Os lbios dele babavam ao ouvir o sorriso enlouquecedor

    que ela lanava para trs. E a mulher corria cada vez mais pela vastido branca. As horas oram passando com o sol deitandona direo do horizonte. E a paisagem mudou. A plancie abertadeu lugar a colinas arredondadas, que marchavam para cima emcadeias interrompidas. Muito ao norte ele viu os picos de altasmontanhas, com a neve dos picos num tom azulado, por causa da

    distncia, e mostrando tons de vermelho ao reetir o sol do poente. Os cus escureciam sobre eles, e mostravam as ondas coloridas da aurora boreal. Espalhavamse pelo cu como dezenas dearcoris, como labaredas de mil cores, mudando de intensidade,crescendo e danando no ar.

    Por cima de Conan, o cu brilhava e espoucava com estranhas luzes e ulgores. A neve brilhava de um modo assustador:ora um azul muito orte, ora vermelho como o sangue e depoisum tom prateado e rio. No meio de um reino branco de encantamento, que tremulava diante dos seus olhos, ele despencou paraa rente, mergulhado em um labirinto conuso onde a nica rea

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    lidade era o corpo branco e delgado que insistia em danar suarente, longe do seu alcance, cada vez mais longe do seu alcance.

    Ele no se preocupou com aquele cenrio estranho, nemmesmo quando duas gigantescas guras apareceram bem na sua

    rente. As lminas metlicas das armaduras dos dois homens estavam cobertas de gelo. Havia neve nos seus cabelos e o olhar deambos era to rio como as luzes que danavam no cu, acimadeles.

    Irmos! gritou a mulher, danando entre os dois.Vejam quem me segue! rouxelhes um guerreiro para que o

    matem! Arranquem seu corao, para que o possamos queimarsobre a mesa de nosso pai!Os gigantes lanaram um urro estranho, como o barulho

    do gelo esregando sobre a supercie congelada de um lago. Levantaram seus machados de guerra, brilhando luz das estrelas,ao mesmo tempo em que o enlouquecido Conan se lanava contra eles. Uma lmina gelada passou bem perto dos seus olhos.

    Com todas as oras que lhe restavam, ele desechou um golpeterrvel que atingiu em cheio a perna do inimigo, na altura do

    joelho.A vtima caiu com um berro, e no mesmo instante Conan

    oi atirado para trs, sentindo adormecer o ombro esquerdo, atingido por um golpe repentino do machado do outro gigante. A

    malha metlica de Conan quase no bastou para lhe salvar a vida.Ele viu o sujeito em p ao seu lado, como uma enorme esttua degelo, contrastando com o azul escuro do cu. O machado tombou, mas mergulhou na neve branca, no instante em que Conanrolou para o lado e, com uma inesperada agilidade, levantousede um salto. O gigante urrou e levantou de novo o machado deguerra. No mesmo instante, a espada de Conan assobiou no ar.Os joelhos do inimigo se dobraram, e ele tombou devagar paraa rente, no meio da mancha vermelha ormada pelo sangue que

    jorrava do seu pescoo cortado em dois.Conan virouse para ver a garota parada a uma certa dis

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    tncia, com os olhos arregalados de horror. A expresso de zombaria desaparecera do rosto dela. Ele gritou e sua espada derramou gotas de sangue quando as mos dele tremeram por causa daintensidade de sua paixo.

    Pode chamar todos os seus outros irmos, ele gritou. Darei os coraes deles para os lobos! Voc no vai meescapar...

    Com um grito de guerra ele disparou na direo da mulher.Ela j no ria mais, nem lanava seus olhares de desao sobre osombros brancos. Corria como quem teme pela vida. Embora ele

    juntasse toda a ora e energia de todos os seus msculos, at quesuas tmporas estivessem a ponto de explodir e seus olhos vissemtudo vermelho sua rente, ela conseguiu aastarse, desaparecendo devagar sob o ogo misterioso do cu, at sua gura carmenor do que imagem de uma criana, danando sobre a brancura do gelo, um mero ponto na distncia. Conan buscou todas assuas reservas de energia, rangeu os dentes na boca e correu mais.

    Logo, ela cou apenas uns cem passos sua rente. Lentamente,metro a metro, a vantagem dela oi diminuindo.

    Ela parecia no ter mais oras para correr, e seus cabelos dourados esvoaavam ao ar. Ele ouviu a respirao cansadae viu o brilho de medo nos olhos dela, quando a cabea delicadase voltou sobre os ombros alvos. A resistncia selvagem daquele

    brbaro mostrava toda a sua utilidade. A velocidade oi desaparecendo das pernas dela. Seus passos j no eram to seguros. Naalma descontrolada de Conan brilhavam as chamas do inernoque ela acabara de alimentar. Com um grito inumano, ele se aproximou. A mulher tropeou, deu um grito e ergueu os braos parase deender.

    A espada caiu por terra, quando ele a apertou num abraoselvagem. O corpo delicado dobrou para trs, e a mulher lutoucom desespero tentando libertarse dos braos ortes. Os cabelosdourados esvoaavam pelo rosto dele, cegandolhe o olhar comseu brilho. O contato com aquele corpo escultural, que se revolvia

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    tentando escapar dos seus braos, levouo perto da loucura. Osdedos ortes mergulharam na pele macia do corpo dela, rescocomo a neve gelada. Era como se abraasse no uma mulher humana, de carne e osso, mas um corpo eito de gelo que queimava

    de to rio. Ela lanou a cabea para um lado, lutando para evitaros beijos ardentes de paixo, que machucavam seus lbios encarnados.

    Voc to ria como a neve, ele resmungou. Masvou aquecla com o calor do meu prprio sangue...

    Com um grito agudo e um esoro desesperado, a mulher

    escorregou dos braos de Conan, deixando a roupa na e transparente no lugar onde ela estava antes. Saltou para trs e coude rente para ele, com os cabelos louros desarrumados sobre orosto, os seios brancos tremendo como gelatina, os lindos olhosirradiando um brilho apavorado. Durante uma rao de segundo ele cou parado, estupeato diante da inacreditvel beleza nuaque se erguia diante dele, em pleno campo gelado.

    Naquele instante ela levantou os braos na direo das luzes coloridas que iluminavam o cu e gritou, com uma voz estridente que ecoaria para sempre nos ouvidos dele:

    Ymir! meu pai, salveme!Conan saltava para a rente, com os braos abertos para

    agarrla, no instante em que todo o cu, com o barulho de de

    zenas de raios estourando ao mesmo tempo, pareceu abrirse emuma nica e gelada labareda. O corpo de marm da jovem oi envolvido em uma lngua de ogo azulado, to intensa que o cimrio teve de levar a mo aos olhos para se proteger do intolervelbrilho. Por um segundo todo o cu e as colinas geladas caramenvolvidos pelo ogo branco que lanava raios azulados e vermelhos como o sangue.

    Ento, Conan tropeou e deu um grito. A mulher desaparecera no ar. A neve branca estava de novo vazia e silenciosa.Muito acima de sua cabea as luzes geladas da aurora boreal ainda danavam no cu enlouquecido. No meio das distantes mon

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    tanhas azuis ecoava um trovo que mais parecia ser as rodas deuma carruagem gigante correndo atrs de cavalos cujos cascosarrancavam ascas da neve e lanavam seu eco para o cu.

    E a aurora boreal, as colinas cobertas de neve e os cus ilu

    minados comearam a girar diante dos olhos de Conan. Milharesde bolas de ogo brilhavam com ascas avermelhadas, e o prpriocu transormouse em uma gigantesca roda, lanando agulhasao girar. Sob os seus ps a neve levantouse como uma onda, e ocimrio tombou no gelo e cou imvel.

    Em um universo escuro e gelado, cujo sol parecia terse

    extinguido milhares de anos antes, Conan sentiu de repente omovimento da vida, estranho e insuspeitado. Um verdadeiro terremoto o havia agarrado e o sacudia com ora, de um lado parao outro, esregando seus ps e mos at que ele gritasse de dor etentasse agarrar a espada.

    Ele est voltando a si, Horsa, disse uma voz. Depressa! emos de esregar mais orte para espantar o rio de seus

    membros, ou jamais levantar uma espada de novo! No quer abrir a mo esquerda, resmungou outra

    pessoa. Parece que est agarrando alguma coisa.Conan abriu os olhos e examinou os rostos barbados que

    se curvavam sobre ele. Estava cercado de enormes guerreiros louros, vestindo armaduras e capas de peles.

    Conan! gritou um deles. Est vivo! Em nome de Crom! Niord, balbuciou o cimrio. Estou vivo mesmo ou estaramos todos mortos, em Valhalla?

    Estamos vivos, disse o aesir, curvado sobre os psgelados de Conan. ivemos de enrentar uma emboscada eno pudemos alcanar vocs antes da batalha. Os mortos estavamtodos gelados quando chegamos ao campo. No o encontramosentre eles, e ento seguimos os seus rastros. Em nome de Ymir,Conan, por que diabos correu para a vastido do Norte? Passamos horas seguindo os seus rastros pela neve. Se uma tempestadeas tivesse apagado ns jamais o teramos encontrado. Por Ymir!

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    melhor no usar o nome de Ymir em vo o tempotodo, resmungou um dos guerreiros, olhando para as montanhas distantes. Esta terra o lar dele, e as lendas dizem quemora atrs daquelas montanhas.

    Vi uma mulher, respondeu Conan. Enrentamosos homens de Bragi na plancie. No sei quanto tempo durou abatalha. Fui o nico a sobreviver. Fiquei tonto e desmaiei. udoparecia um sonho diante dos meus olhos. S agora as coisas parecem mais naturais e conhecidas. A mulher apareceu e me provocou. Era maravilhosa, como uma chama gelada vinda do inerno.

    Uma loucura estranha tomou conta de mim quando olhei paraela, de modo que me esqueci de tudo no mundo. E a segui. Noencontraram os rastros dela? Nem os gigantes de armadura quematei l atrs?

    Niord balanou a cabea. S encontramos os seus rastros na neve, Conan. Ento devo ter enlouquecido, resmungou Conan,

    conuso. Mas, para os meus olhos, vocs no so mais reaisdo que era aquela linda mulher de pele clara e cabelos douradosque corria nua pela neve, na minha rente. De um momento parao outro, ela escapou das minhas mos e desapareceu no meio deuma labareda gelada.

    O sujeito est delirando, disse um dos guerreiros.

    Nada disso, interrompeu um homem mais velho,cujo olhar era selvagem e estranho. Era Atali, a lha de Ymir,o gigante de gelo! Ela sempre aparece no campo dos mortos e semostra aos que esto no m. Quando era menino eu mesmo a vi,quando estava morte no campo ensanguentado de Wolraven.Apareceu entre os mortos na neve, o corpo nu brilhando comomarm e os cabelos dourados reluzindo intensamente luz doluar. Fiquei deitado ali e urrei como um cachorro moribundo,porque no podia ir atrs dela. Atali costuma atrair os homenspara o norte gelado, para serem mortos por seus irmos, os gigantes da neve, que costumam colocar o corao de suas vtimas

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    sobre a mesa de Ymir. O cimrio viu Atali, a lha do Gigante doGelo!

    Qual nada! resmungou Horsa. A mente do velhoGorm oi erida quando ele era jovem, por um golpe de espada

    na cabea. Conan estava delirando por causa da ria da batalha.Vejam como o capacete dele est manchado de sangue. Um golpecomo esses que ele levou deve ter atingido seu crebro. Foi umaalucinao que ele seguiu para esta terra perdida. Ele vem do Sul:como poderia saber sobre Atali?

    alvez voc ale a verdade, interrompeu Conan.

    Foi tudo to estranho e conuso... Por Crom!O cimrio sentiu os olhos marejarem, quando notou oobjeto que ainda tinha na mo. Os guerreiros se calaram, contemplando em silncio aquilo que ainda se encontrava na moesquerda de Conan. Um vu brilhante muito no... Um pedaode renda jamais visto por um tear humano.

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    A Torre doElefante

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    ochas tremeluziam sombriamente nas estas do Beco,onde os ladres do Leste aziam carnaval noite. No Beco, elespodiam azer quanta algazarra e gritaria quisessem, pois as pessoas honestas evitavam esse bairro, e os guardas, bem pagos comdinheiro sujo, no intereriam na diverso deles. Ao longo dasruas tortuosas e sem pavimentao, com montes de lixo e poaslamacentas, cambaleavam vocierando os bbados briguentos. Oao brilhava nas sombras de onde vinham o riso estridente dasmulheres e os rudos de arruaa e luta. A luz das tochas amejam

    tnues das janelas quebradas e portas escancaradas, e emanavao mau cheiro de vinho azedado e de corpos suados, o clamor debbados e o bater de punhos sobre mesas grosseiras, as animadascanes obscenas, lanadas como uma boetada.

    Numa dessas espeluncas, a diverso trovejava at o telhadobaixo manchado pela umaa, onde os vagabundos se reuniam

    vestidos com toda espcie de arrapos eram batedores de carteira, astutos raptores, ladres de dedos ligeiros, vocierando exclamaes animadas com suas meretrizes de vozes estridentes,

    vestidas com suntuosos vestidos de gosto duvidoso.O elemento dominante eram os vagabundos do lugar

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    zamorianos de pele e olhos escuros, com sabres em seus cintos eel em seus coraes. Mas l estavam tambm alguns lobos vindosde meia dzia de naes do interior. Havia um gigante hiperboriano renegado, taciturno, perigoso, com uma espada amarrada

    ao seu enorme corpanzil terrvel pois, no Beco, os homenscarregavam o ao abertamente. Havia um contraventor shemita,com seu nariz adunco e barba encaracolada negroazulada. Ha

    via uma prostituta brituniana de olhos ousados, sentada no colode um gunderman de cabelos castanhos um soldado mercenrio nmade, desertor de algum exrcito derrotado. E o gordo

    indecente, cujas piadas picantes provocavam gargalhadas, era umraptor prossional vindo da longnqua Koth para ensinar comoraptar as mulheres dos zamorianos, que nasceram com mais conhecimento dessa arte do que ele jamais conseguiria obter. Estehomem interrompeu sua descrio dos encantos de uma utura

    vtima e enou sua cara num enorme caneco de cerveja espumante. Em seguida, soprando a espuma de seus lbios gordos,

    disse: Por Bel, deus de todos os ladres, eu lhes mostro como

    roubar prostitutas; eu a arei passar pela ronteira zamoriana antes do amanhecer, e haver uma caravana esperando para recebla. rezentas peas de prata oi o que um conde de Ophir me prometeu em troca de uma esguia jovem brituniana da classe mais

    alta. Levei semanas andando pelas cidades ronteirias disaradode mendigo para encontrar uma que servisse. E essa uma lindapea!

    Ele jogou no ar um beijo obsceno. Conheo alguns lordes em Shem que negociariam o se

    gredo da orre do Eleante em troca dessa jovem disse, voltando sua cerveja.

    Um toque na manga de sua tnica o ez voltar a cabea,resmungando por ter sido interrompido. Em p a seu lado estavaum jovem alto e robusto. Estava to deslocado naquela espeluncaquanto um lobo cinzento entre ratos amintos nos bueiros. Sua

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    tnica barata no conseguia esconder as linhas duras, bem proporcionadas de sua estatura poderosa, os ombros largos e pesados, o peito macio, a cintura delgada e os braos pesados. Suapele estava tostada pelo sol dos campos, seus olhos eram azuis

    e ardentes; uma negra cabeleira emaranhada coroava sua rontelarga. Do seu cinturo pendia uma espada numa bainha de courosurrado.

    O kothiano recuou involuntariamente; pois o homem nopertencia a nenhuma raa civilizada que ele conhecia.

    Voc alou da orre do Eleante disse o estranho, a

    lando o zamoriano com um sotaque estrangeiro Ouvi muitashistrias sobre a orre. Qual seu segredo?O camarada no parecia ameaador, a cerveja e a evidente

    aprovao de sua audincia deixaram o kothiano todo cheio de si. O segredo da orre do Eleante? exclamou Ora,

    qualquer idiota sabe que Yara, o sumo sacerdote, mora l comuma grande pedra preciosa chamada Corao do Eleante, que

    o segredo de sua eitiaria.O brbaro cou digerindo a inormao por algum tempo. Eu vi essa torre disse ele Ela ca no meio de um

    grande jardim a um nvel acima da cidade, cercada por murosaltos. No vi nenhum guarda. Seria cil pular o muro. Por queningum roubou ainda essa jia?

    O kothiano arregalou os olhos e abriu a boca, pasmo coma simplicidade do outro, em seguida caiu numa gargalhada e osoutros o acompanharam.

    Ouam este pago! vocierou ele Ele quer roubara jia de Yara! Ouam, camaradas disse ele, voltandose solenemente para o jovem , suponho que voc seja alguma espciede brbaro do Norte...

    Sou da Cimria respondeu o estrangeiro, num tomnada amistoso. A resposta e a maneira como ela oi dita poucosignicavam para o kothiano; nada sabia sobre um reino que ca

    va longe ao sul, nas ronteiras de Shem. S ouvia alar vagamente,

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    sobre as raas do Norte.Ento abra os ouvidos e que esperto, camarada dis

    se ele, apontando com seu caneco para o jovem desconcertado Saiba que em Zamora, principalmente nessa cidade, existem

    mais ladres destemidos que em qualquer outro lugar do mundo, mesmo em Koth. Se um mortal pudesse roubar a jia, tenhaa certeza de que ela j teria sido roubada h muito tempo. Vocala em pular o muro, mas uma vez tendo pulado, voc desejaria imediatamente estar de volta. No existem guardas no jardimpor uma razo muito boa. L no h guardas humanos, embora

    na parte baixa da orre, homens armados a vigiem. E, mesmo sevoc passasse por aqueles que azem a ronda dos jardins noite,ainda teria de passar pelos soldados, pois a jia est guardada emalgum lugar, bem l no alto da orre.

    Mas se um homem conseguisse passar pelos jardins argumentava o cimrio por que no poderia chegar at a jiapela parte superior da orre, evitando assim os soldados?

    Novamente o kothiano cou pasmado com ele. Ouam este camarada! gritou ele com escrnio O

    brbaro pensa que uma guia que pode voar at a borda da orre, que est apenas a cinco metros acima do solo, com seus ladosarredondados mais lisos que vidro polido!

    O cimrio olhou ao redor, embaraado com a trovoada de

    gargalhadas que a sua observao provocara. Ele no via nada deengraado nisso e ainda conhecia pouco da civilizao para entender o que era alta de cortesia. Os homens civilizados so maismaleducados que os selvagens, porque eles sabem que podem altar com a cortesia sem ter o crnio despedaado. Ele estava embaraado e envergonhado e, sem dvida, teria ido embora sentindose humilhado, mas o kothiano quis continuar a rebaixlo.

    Vamos! Vamos! gritou ele Diga pra esses pobrescamaradas, que so ladres h muito, mesmo antes de voc tersido gerado, diga para eles como que voc pretende roubar a

    jia!

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    Existe sempre uma maneira, se a vontade estiver associado coragem respondeu abruptamente o cimrio irritado.

    O kothiano resolveu tomar isso como aronta pessoal. Seurosto cou rubro de raiva.

    O qu?! esbravejou ele Voc ousa nos dizer comodevemos proceder e insinua que somos covardes? Suma da minha rente! esbravejou, empurrando o cimrio com violncia.

    Voc zomba de mim e depois quer pr as mos emmim? esquentouse o brbaro, pronto para despejar sua ria; e devolveu o empurro com um soco que jogou seu oensor

    contra a mesa tosca. A cerveja espirrou da boca do tratante, e okothiano oi desembainhando a espada, trovejando de ria. Co do inerno! vocierou ele Vou arrancar seu

    corao por isso!O ao aiscou e a multido precipitouse abrindo cami

    nho. Em sua uga, eles derrubaram a nica vela acesa e a tavernamergulhou na escurido. S se ouvia o rudo de bancos caindo,

    o trotar de ps em uga, os gritos, as pragas quando trombavamuns com os outros, e um grito estridente de agonia que cortou aespelunca como uma aca. Quando acenderam uma vela, a maioria dos regueses havia desaparecido pela porta e pelas janelasquebradas, e o resto se escondia embaixo das mesas e atrs daspilhas de barris de vinho. O brbaro se ora; o centro da sala es

    tava deserto com exceo do corpo ensanguentado do kothiano.O cimrio, com seu inalvel instinto selvagem, havia matado seuoponente em meio escurido e conuso.

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    O cimrio deixou para trs as luzes lgubres e a orgia debbados. Ele tinha abandonado sua tnica rasgada e caminhavaseminu pela noite, vestido apenas com uma tanga e calado comsuas sandlias de tiras. Ele se movia com a agilidade de um enorme tigre, com seus msculos retesados sob a pele escura.

    Ele havia penetrado na parte da cidade reservada aos templos. De todos os lados, eles reetiam sua brancura luz das estrelas pilares de mrmore branco como a neve, cpulas douradas e arcos prateados, santurios dos inmeros estranhos deuses

    zamorianos. No se preocupava com eles; sabia que a religio deZamora, como todas as coisas de um povo civilizado e antigo,era muito complicada e tinha perdido a maior parte da essnciaprimordial, numa conuso de rmulas e de rituais. Ele havia cado de ccoras durante horas nos ptios dos lsoos, ouvindoas discusses dos telogos e dos mestres, e acabara conuso e de

    sorientado, certo apenas de uma coisa, isto , que todos eles erammalucos.Os deuses dele eram mais simples e compreensveis; Crom

    era o chee, e vivia numa montanha enorme, de onde enviavadestruio e morte. Era intil chamar por Crom, porque ele era

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    um deus sinistro e selvagem, e odiava os racos. Mas ele dava coragem ao homem por ocasio de seu nascimento; a vontade e opoder para matar seus inimigos, o que, na cabea do cimrio, eratudo o que se esperava de um deus.

    Seus ps calados no aziam rudo sobre o pavimento reluzente. Nenhuma sentinela passava, pois nem mesmo os ladresdo Beco invadiam os templos, onde se sabia que maldies estranhas recaam sobre os violadores. sua rente, ele vislumbrou aorre do Eleante, cuja silhueta tenebrosa se destacava no cu. Elese perguntava porque aquela torre se chamava assim. Ningum

    sabia. Jamais havia visto um eleante, mas entendia vagamenteque era um animal monstruoso, que tinha uma cauda na rentee outra, pequena, atrs. Quem lhe contara isto ora um shemitanmade, jurando que havia visto milhares desses animais no pasdos hirchanianos; mas todos sabiam como eram mentirosos esses homens de Shem. De qualquer orma, no havia eleantes emZamora.

    O corpo tremeluzente da orre erguiase como gelo ao encontro das estrelas. luz do sol, reluzia de maneira to estonteante que poucos aguentavam olhar para ela, e os homens diziam queera eita de prata. Era redonda, um cilindro delgado e pereito,com cinco metros de altura, e sua borda incrustada com enormespedras preciosas brilhava luz das estrelas. A orre se erguia en

    tre as exticas rvores ondulantes de um jardim cultivado bemacima do nvel geral da cidade. Um muro alto circundava estejardim, e ora dos muros havia um nvel inerior, tambm cercadopor um muro. Nenhuma luz ardia na orre; parecia que ela notinha janelas, ao menos no acima da altura no muro interno.Bem mais acima, somente as pedras preciosas reluziam geladas luz das estrelas.

    Um matagal espesso crescia do lado de ora do muro externo, mais baixo. O cimrio arrastouse urtivamente at ele eparou, medindoo com o olhar. Era alto, mas ele seria capaz depular e se agarrar na beirada. Depois, seria brincadeira de criana

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    iarse e pular por cima do muro, e ele no duvidava que poderia passar pelo muro interior da mesma maneira. Mas Conanhesitava ao pensar sobre os estranhos perigos que se dizia que oaguardariam do lado de dentro. Essas pessoas eramlhe estranhas

    e misteriosas; no pertenciam sua espcie nem mesmo eramdo seu sangue como os brithunianos mais a oeste, os nemdios,os kothianos e os aquilonianos. empos atrs, ele havia ouvidosobre aqueles mistrios civilizados. O povo de Zamora era muitoantigo e, pelo que tinha visto, muito mau.

    Ele pensou em Yara, o sumo sacerdote, que elaborava es

    tranhas destruies nessa orre ornamentada, e os cabelos do cimrio se eriaram quando ele se lembrou de uma histria contadapor um pajem embriagado da Corte zamoriana de como Yara,rindo na cara de um prncipe hostil, erguera uma pedra preciosareluzente e malca diante dele, e de como essa pedra inernalemitira raios ouscantes que envolveram o prncipe, que caiu aosberros e se encolheu at virar um montculo seco e enegrecido;

    depois esse montculo se transormou numa aranha negra que,aps correr selvagemente pelo salo, oi terminar esmagada sobo calcanhar de Yara.

    Yara no costumava sair de sua torre de eitios, e sempreque o azia era para azer o mal para algum homem ou algumanao. O rei de Zamora tinha mais medo dele do que da morte,

    e se mantinha embriagado a maior parte do tempo porque estemedo era to grande que s podia aguentlo nesse estado de torpor. Yara era muito velho tinha sculos de idade, assim diziamos homens, acrescentando que ele iria viver para sempre por causa do eitio de sua pedra preciosa que os homens chamavam deCorao de Eleante; por essa razo, chamaram o seu reugio deorre do Eleante.

    O cimrio, absorto nesses pensamentos, de repente se colou ao muro. Havia algum caminhando a passos medidos dentrodo jardim. Ouviu o tilintar do ao. Ento, anal, havia de atoguardas naquele jardim. O cimrio esperou pelos seus passos na

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    ronda seguinte; mas o silncio se estendia sobre os jardins cheiosde mistrio.

    Finalmente, a curiosidade tomou conta dele. Saltando comleveza, agarrou o muro e se jogou no topo. Deitado sobre a bei

    rada larga, observou o espao vazio entre os muros, com apenasalguns arbustos cuidadosamente aparados perto do muro interno. A luz das estrelas caa sobre o gramado regular e ouviase oborbulhar de uma onte que estava invisvel.

    O cimrio se abaixou cautelosamente para o lado de dentroe desembainhou a espada, olhando ao redor. Nervoso por estar

    desprotegido luz das estrelas, caminhou p ante p ao longo dacurva do muro, tateando, at se aproximar dos arbustos que havia notado antes. Ento, correu agachado em sua direo e quaseatropelou um vulto deitado beira dos arbustos.

    Uma rpida olhada direita e esquerda no revelounenhum inimigo, nenhum inimigo pelo menos vista, e ele securvou para investigar. Seus olhos vivos, mesmo na penumbra,

    mostraramlhe um homem robusto vestido com a armadura prateada e com o capacete em pontas da guarda real de Zamora. Umescudo e uma lana jaziam a seu lado, e num instante percebeuque o homem havia sido estrangulado. O brbaro olhou ao redor,indeciso. Ele sabia que o homem devia ser o guarda que ele haviaescutado passar por seu esconderijo ao lado do muro. Nesse cur

    to intervalo, mos desconhecidas haviam estrangulado o soldado.Forando os olhos na penumbra, viu um indcio de movimento nos arbustos perto do muro. Mergulhou naquela direo,segurando a espada com ora. No ez mais rudo do que umapantera esgueirandose pela noite, no entanto, o homem que eleestava espreitando ouvira. O cimrio sentiu alvio ao perceberque pelo menos era um ser humano; em seguida, num sobressalto de pnico, o camarada deu um rpido giro, ez meno de selanar para a rente, as mos cerradas, mas quando a lmina docimrio reluziu luz das estrelas, recuou. Por um tenso instantenenhum deles alou, os dois prontos para qualquer coisa.

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    Voc no soldado! sibilou o estranho nalmente Voc um ladro como eu.

    E quem voc? perguntou o cimrio, num sussurrocheio de suspeitas.

    aurus da Nemdia.O cimrio abaixou sua espada. J ouvi alar de voc. Chamamno de Prncipe dos La

    dres.Uma risada baixa oi a resposta. aurus era to alto quanto

    o cimrio, porm mais gordo, seu ventre era grande, mas cada

    movimento seu era imbudo de um sutil magnetismo dinmicoque se reetia em seus olhos penetrantes e brilhantes, cheios devitalidade. Ele estava descalo e carregava um rolo que pareciauma corda na e orte, com ns amarrados a intervalos regulares.

    Quem voc? sussurrou ele. Conan, da Cimria respondeu o outro Estou pro

    curando uma maneira de roubar a jia de Yara, que os homens

    chamam de Corao do Eleante.Conan percebeu que o ventre enorme do homem se sacu

    dia com o riso, mas no era um riso de desprezo. Por Bel, deus dos ladres! sibilou aurus Pensei

    que somente eu tivesse a coragem de tentar essa aanha. Esseszamorianos se denominam ladres Bah! Conan, gosto da sua

    audcia. Eu nunca compartilhei uma aventura com algum; mas,por Bel, tentaremos isso juntos, se voc quiser. Ento voc tambm est atrs da jia? Que lhe parece? Planejei durante meses; mas voc, meu

    amigo, acho que agiu por impulso. Voc matou o soldado? claro. Passei pelo muro quando ele estava do outro

    lado do jardim. Escondime nos arbustos; ele me ouviu, ou pensou que tivesse ouvido alguma coisa. Quando veio procurando,no oi dicil esgueirarme atrs dele e agarrar de repente seupescoo e estrangullo. Ele estava, como a maioria dos homens,

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    meio cego na escurido. Um bom ladro deve ter os olhos de umgato.

    Voc cometeu um nico erro disse Conan.Os olhos de aurus aiscaram com ria.

    Eu? Eu, um erro? Impossvel! Voc deveria ter arrastado o corpo para dentro dos ar

    bustos. Disse o aprendiz ao mestre da arte. Eles s trocaro a

    guarda depois da meianoite. Se algum vier sua procura agorae encontrar o corpo, ir correndo avisar Yara, e assim teremos

    tempo para ugir. Se no o encontrassem, iriam bater nos arbustos e nos apanhariam como ratos numa ratoeira.Voc tem razo concordou Conan. Ento. Agora preste ateno. Estamos perdendo tempo

    com esta maldita discusso. No h guardas no jardim interno,guardas humanos, quero dizer, embora haja sentinelas ainda maismorteras. Foi isso que me barrou tanto tempo, mas nalmente

    descobri uma maneira de dominlas. E os soldados na parte inerior da torre? O velho Yara mora nos aposentos superiores. por

    aquele caminho que iremos, e voltaremos, assim espero. No sepreocupe em me perguntar como. Eu arrumei um jeito. Vamosnos esgueirar pelo topo da orre e estrangular o velho Yara antes

    que ele possa lanar um de seus malditos eitios sobre ns. Pelomenos vamos tentar; o risco de sermos transormados numaaranha ou num sapo, contra a riqueza e o poder do mundo. odosos bons ladres devem saber se arriscar.

    Eu irei at onde um homem pode ir disse Conan,tirando suas sandlias.

    Ento, sigame e, voltandose, aurus saltou paracima, agarrou o muro e subiu. O agilidade do homem era espantosa, considerando seu tamanho; ele parecia quase deslizar porcima da beirada do muro. Conan o seguiu e, deitados sobre otopo largo, alaram por sussurros.

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    No vejo luz alguma murmurou Conan. A parte inerior da orre pareciase muito com aquela poro visvel do ladode ora do muro um pereito cilindro reluzente, sem nenhuma abertura aparente.

    Existem portas e janelas disaradas respondeu aurus mas esto echadas. Os soldados respiram o ar que vem decima.

    O jardim era uma poa nebulosa de sombras, onde arbustos oos e rvores baixas e rondosas acenavam luz das estrelas. A alma cansada de Conan sentia a ameaa que espreitava no

    jardim. Ele sentia a presena de olhos invisveis queimando naescurido e percebeu um cheiro sutil que eriou seus cabelos instintivamente como o cheiro de um velho inimigo eria o plo deum co de caa.

    Sigame sussurrou aurus , que atrs de mim sed valor sua vida.

    irando do seu cinto algo que se parecia com um tubo de

    cobre, o nemdio andou