a era da razao

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A ARTE EUROPÉIA NA TRANSIÇÃO DOS SÉCULOS SÉCULOS XVIII-XIX

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Page 1: A ERA da razao

A ARTE EUROPÉIA NA TRANSIÇÃO DOS SÉCULOS

SÉCULOS XVIII-XIX

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A HISTÓRIA DOS ESTILOS

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PONTO DE PARTIDA

•Na história da arte, a sucessão dos estilos deve ser tomada como ponto de partida, nunca uma “camisa-de-força”

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“DENOMINAÇÕES CÔMODAS”

• “As classificações não são instrumentos científicos, que elas não são exatas, que não partem de definições, e que agrupam obras ou artistas por razões muito diferentes, entre as quais se pode encontrar a idéia de estilo, mas não forçosamente, e sempre parcialmente”. Portanto, “as classificações são, antes de mais nada, denominações cômodas e não definições científicas”. (Coli, p. 34, 62)

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“INSTRUMENTO NECESSÁRIO”

• “A linguagem serve-se necessariamente de conceitos, de universais. A maneira de se ultrapassar este problema não é refugiarmo-nos no nominalismo, isto é, na recusa de usar palavras que não sejam nomes de objectos ou de indivíduos singulares; como todos aqueles que se exprimem por meio de uma linguagem, também o historiador de arte deve antes admitir que a classificação é um instrumento necessário, mesmo que por vezes se possa tornar um mal igualmente necessário. Ela ser-lhe-á bastante útil no seu trabalho quotidiano, na condição de nunca se esquecer de que é obra do homem, e pelo homem pode ser ajustada e mudada, como de resto acontece com todas as linguagens”. (Gombrich apud Fagiolo, p. 55)

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MUDANÇAS NA APREENSÃO

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APREENSÃO DO ESTILO

• ESTILO X ESTILOS:• “Em épocas anteriores, o estilo do período

era simplesmente o modo como se faziam as coisas; era praticado porque as pessoas achavam ser essa a melhor maneira de obter certos efeitos. Na Era da Razão, as pessoas começaram a ficar mais exigentes a respeito de estilo e estilos”. (Gombrich, p. 475-6)

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“A INVENÇÃO DAS TRADIÇÕES”• O livro I Quattri Libri dell'Architectura, de Andrea

Palladio baseou-se numa fase específica da arquitetura greco-romana, que foi tomada como tradição clássica antes das descobertas dos templos da Atenas de Péricles que evidenciaram outro padrão arquitetônico

• “É verdade que a maioria dos arquitetos ainda se atinha às formas clássicas de construção renascentista, mas até eles se mostravam preocupados com o que seria o estilo correto. Olhavam com certa apreensão para a prática e tradição da arquitetura que se desenvolvera a partir da Renascença; e concluíram que muitas dessas práticas não tinham qualquer base genuína que a sancionasse nas construções da Grécia clássica. Chocados, perceberam que o que se passava por serem regras da arquitetura clássica desde o século XV fora tomado de punhado de ruínas romanas de um período mais ou menos decadente. Ora, os templos da Atenas de Péricles tinham sido agora redescobertos e reproduzidos em gravuras por zelosos viajantes, e seus aspectos eram surpreendentemente diversos dos planos clássicos encontrados no livro de Palladio”. (Gombrich, p. 477)

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APREENSÃO DA CONTINUIDADE

• ESTILOS ARTÍSTICOS E PERÍODOS DEFINIDOS X MOVIMENTOS E CONTRA-MOVIMENTOS:

• “Na civilização moderna falta, afinal, a coesão que o passado tinha; ela não continua mais segundo períodos claramente identificáveis, nem existem períodos definidos de estilos artísticos ou de qualquer outra forma de atividade. Em vez disso, encontramos um outro tipo de continuidade, o de movimentos e contra-movimentos. Espalhando-se como ondas, esses “ismos” desafiam fronteiras nacionais, étnicas e cronológicas; sem que haja predomínio duradouro em nenhum lugar, eles lutam ou se fundem uns com os outros numa infindável troca de padrões”. (Janson, p. 302)

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APREENSÃO TEMÁTICA

• LIBERDADE DE ESCOLHA:• “É curioso verificar até que ponto, antes de meados

do século XVIII, era raro os artistas se desvirem dos estreitos limites da ilustração, pintarem uma cena de romance ou um episódio da história medieval ou de seu próprio tempo. Tudo isso mudou muito rapidamente durante o evoluir da Revolução Francesa. De repente, os artistas sentiram-se livres para escolher qualquer coisa como tema, desde uma cena de Shakespeare a um acontecimento do dia, o que quer que, de fato, apelasse para a imaginação e despertasse interesse.” (Gombrich, p. 481)

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A PRODUÇÃO LITERÁRIA COMO “FONTE DE INSPIRAÇÃO”

• “A literatura, tanto a do passado quanto a do presente, tornou-se, então, uma fonte de inspiração mais importante, para os pintores, do que jamais tinha sido antes, e proporcionou-lhes uma nova fonte de temas, emoções e atitudes”. (Janson, p. 314)

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DOIS MUNDOS NUM SÓ TEMPO

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NEOCLASSICISMO X ROMANTISMO

• NEOCLASSICISMO FRANCÊS• REVOLUÇÃO FRANCESA/EPOPÉIA NAPOLEÔNICA• OPOSIÇÃO AO BARROCO-ROCOCÓ• ERA DA RAZÃO

• RESSURREIÇÃO GÓTICA• ANTIGO REGIME/PODER ABSOLUTISTA• ESPÍRITO ROMÂNTICO• ERA DA FÉ

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“SERMÃO PICTÓRICO DO EVANGELHO SOCIAL DO ILUMINISMO”

Jean Baptiste Greuze. A noiva da aldeia, 17? (Fr)

Idealização da pobreza através de um “virtude natural”, do “sentimento sincero” e da ausência de conflito

Composição calculada com gestos declamatórios, expressões dos atores e galinha com pintinhos no primeiro plano(Janson, p. 304)

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ORIGENS DO NEOCLASSICISMO

• 1753: apelo do abade Laugier, no “Ensaio sobre Arquitetura: vamos continuar com o simples e natural”

• 1754: célebre “Súplica ao ourives”, de Cochin le Jeune, ilustrador da “Enciclopédia”, que solicitava aos artesãos e artistas abandonar as curvas serpentinas e “ornamentos tortuosos e extravagantes” e restituir o ângulo reto

• 1767: manifesto da primeira audição da ópera Alceste, de Gluck, contra as ornamentações brilhantes, complicadas, excessivas e pelo fraseado impregnado de simplicidade e natural (Coli, p. 54)

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QUADRO COMPARATIVORUPTURAS

Com a tradição barroco-rococó Com a virtuosidade brilhante Com os “glacis”, as transparências e variedade

cromática Com o movimento Com temas do antigo regime: amáveis,

galantes e eróticos Com as perucas empoadas, as maquilagens

extravagantes e as roupagens vivas Com os móveis de torneado rebuscado Com a representação da natureza

• CARACTERÍSTICAS

Um fazer refletido e racional Desenhos dos contornos que se aprendia com

os relevos da antigüidade Volumes nítidos, superfícies unidas por um só

tom, que se organizam na forma de contraste

CARACTERÍSTICAS

Tensões de seres cristalizados num mundo sólido e intemporal

Virtudes, dever e sacrifícios cívicos Cabelos curtos à La Brutus, togas antigas e

severas e rendigotes modernos e discretos Linhas severas, herdadas da antigüidade clássica

e reveladas com descoberta de Pompéia e a arqueologia do cotidiano

Profundo conhecimento da anatomia humana, da geometria matemática, das regras de composição, desenho cuidadoso

Homens de pernas afastadas, em triangulações retresadas, musculaturas hirtas

Vivacidade das dobras masculinas Brilho e vermelhos violentos para os homens Mulheres com braços caídos e cabeças apoiadas Peso dos tecidos femininos com tons baixos Leis de oposição entre desenhos, cores, formas Impactos essenciais através de contrastes nítidos

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A ESCULTURA CLÁSSICA COMO MODELO PARA O NEOCLASSICISMO

Jacques-Louis David. O juramento dos Horácios, 1784 (Fr)

David afirmava que, não havendo modelos de pintura antiga, os pintores deviam formar-se estudando as esculturas clássicas; e, de fato, no seu quadro esforça-se para dar às formas pintadas a firmeza, a rigidez, a imutabilidade do mármore, ainda que depois, na composição, remeta-se manifestamente ao classicismo francês do Seiscentos, a Poussin. [...] Mas o classicismo de Poussin tinha em si uma razão e um rigor morais, dos quais David muda a direção em sentido civil e político, imbuindo-o do ideal revolucionário.(Argan, p. 420)

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O JURAMENTO DOS HORÁCIOS COMO “MANIFESTO PICTORAL”

• HERANÇA DA ANTIGÜIDADE + PINTURA MODERNA: O Juramento dos Horácios sintetizava as “aspirações teóricas, qualidades morais e sentimentos estéticos que vinham se formando a partir da primeira metade do século XVIII, sobre os quais repousava um princípio de reforma das artes. Ela foi o manifesto pictoral do neoclassicismo, movimento que se salientou pelo caráter deliberado com que pretendeu restaurar a herança clássica (herança da antigüidade mas também, no caso da pintura, de um moderno como Poussin), através de uma pureza e austeridade que desafiavam as complicações formais do barroco tardio. (Coli, p. 54)

• ORTODOXIA DO NEOCLASSICISMO: Sendo a razão uma só, só podia haver um modo de pintar.

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DAVID E GOYA

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SENSIBILIDADES OPOSTAS DE MUNDOS COMPLEMENTARES

• A obra/trajetória de Jacques-Louis David e Francisco de Goya sintetizam os dilemas da arte/artista no contexto do Iluminismo. • Enquanto David persegue um

projeto de racionalidade, Goya revela um mundo diferente

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A RECEPÇÃO DAS OBRAS

• David teve fama em vida, reuniu um séquito de discípulos e rompeu com a tradição rococó. Mas, depois de morrer, caiu num paulatino esquecimento

• - A princípio, Goya obteve reconhecimento na Espanha, mas não teve discípulos em vida e nem rompeu com a virtuosidade do rococó, embora valeu-se desta de maneira “sui generis”. Porém, depois de morrer, foi integrado à galeria dos grandes mestres e, para além das intenções do artista, foi consagrado ícone da modernidade

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TRAJETÓRIAS COMPLEMENTARES

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NASCIMENTO E MORTE

• David nasceu na França em 1748 e morreu em Bruxelas em 1825 com 77 anos• Goya nasceu na Espanha em 1746 e

morreu na França em 1828 com 82 anos

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PINTORES OFICIAIS

• Na França, David foi “artista oficial” do Governo Revolucionário de Napoleão Bonaparte

• Na Espanha, Goya trabalhou como pintor contratado da corte de Fernando VII

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UMA OBRA É O AVESSO DA OUTRA

David caracteriza-se pela clareza, ordem e razão e Goya pelo obscuro,

o desordenado e a loucura.

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EXPOENTE DO NEOCLASSICISMO

Jacques-Louis David. O rapto das sabinas, 1799 (Fr)

Em 1799, David termina o quadro o Rapto das Sabinas, nos moldes do neoclassicismo, figura numa enérgica luminosidade da Roma Antiga.“O tipo de gesticulação empregada, trabalhada em si mesma, como poses de ateliê, a sua recomposição no conjunto – que dá uma impressão de desorganização astuciosa, teatralmente organizada -, a vontade de citação arqueológica, são fatores essenciais que o distinguem indubitavelmente do classicismo da Renascença” (Coli, p. 53)

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REAÇÃO INCÔMODA AO RAPTO DAS SABINAS

• CRÍTICA DE ÉPOCA: De Guizot a Stendhal até o Institut, a pergunta era uma só:

• “Aquilo que é permitido em escultura o seria também em pintura, onde os objetos que podem ferir a decência são apresentados com as formas e as cores da natureza, atingindo um intolerável grau de verdade?” (In: Hugh-Honour)

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SÉRIE OS CAPRICHOSEm 1799, Goya conclui a série Os Caprichos, gravuras monocromáticas, que simboliza os delírios do homem contra o império da razão.

Francisco de Goya. Os caprichos n° 1, 1799 (Es)

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A CONSAGRAÇÃO DE NAPOLEÃO

Na década de 1810, David afirma com Sacre o triunfo do poder bélico de Napoleão.

Jacques-Louis David. A coroação de Napoleão, 1705-07 (Fr)

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DETALHE

Jacques-Louis David. Detalhe A coroação de Napoleão, 1705-07 (Fr)

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SÉRIE OS DESASTRES DA GUERRA

Francisco de Goya. Os desastres da guerra n° 30, 1810-15 (Es)

Em 1810, Goya inicia a série Os desastres da guerra que representa a luta pela independência do povo espanhol contra o poderio napoleônico.

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AS CONTRADIÇÕES DA RAZÃO

DAVID

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O CONTROLE DOS INSTINTOS E O EROTISMO VELADO

Jacques-Louis David. Leônidas nas Termópilas, 1814 (Fr)

“Os corpos se tocam, se enlaçam como os de afetuosos bailarinos; à direita, um adolescente coroado de flores beija um homem maduro que o acaricia ternamente. Ambos estão despidos. Trata-se de um tema recorrente nos sarcófagos da antigüidade, mas que pôde ser, modernamente, interpretado de modo pudico, como um pai se despedindo do filho”. (Coli, p. 57)

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UMA RAZÃO QUE SE ALIMENTA DA MORTE

“David comove fazendo aparecer um cadáver”. (Starobinsky)

“Os Horácios, os filhos de Brutus, Sócrates, os heróis de Leônidas, estão todos prestes a morrer. O próprio Lavoisier, executado durante o horror, é testemunha da História traiçoeira e da morte que ronda. Le Pelletier de St. Fargeau, Bara (neste, o erotismo, a morte e a política se juntam fortemente; o corpo nu do adolescente que agoniza é oferecido ao olhar enquanto ele aperto ao peito a “cocarde” tricolor da nova mística revolucionária). Marat, isto é o conjunto das efígies produzidas por David, fundadoras do imaginário da Revolução, são cadáveres” (Coli, p. 58)

Jacques-Louis David. Marat assassinado, 1793 (Fr)

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Jacques-Louis David. Os litores trazendo a Brutus os corpos de seus filhos, 1789 (Fr)

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Jacques-Louis David. Andrômeda lamentando Heitor, 1783 (Fr)

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Jacques-Louis David. Retrato de Lavoisier e sua esposa, 1788 (Fr)

Um célebre cientista que viveu durante a Revolução Francesa e foi morto pela mesma devido às origens nobres e às acusações de corrupção do governo pré-revolucionário.

O julgamento dele se deu em 8 de maio de 1794 quando foi condenado à guilhotina.

Um importante matemático, contemporâneo de Lavoisier, Joseph-Louis de Lagrange, proferiu a seguinte frase: "Não bastará um século para produzir uma cabeça igual à que se fez cair num segundo“.

Considerado pai da química, descobriu a composição da água (H2O) e o princípio da conservação da matéria: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”).

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UM PROJETO DE MUNDO

• “Da “pietà jacobina” que é o Marat assassinado, à propaganda do primeiro império, a marcha era inevitável para que o pintor sobrevivesse. Da razão soberana ao general soberano, a pintura de David participou do projeto de um mundo de ordem e regeneração. Este mundo, o pintor o instituiu em telas onde nada fica à sombra e onde a luz evidencia seres e objetos dispostos em magníficas cadências. Afastar o obscuro – eis o desejo primordial. Mas a Luz é frágil diante das trevas”. (Coli, p. 59)

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AS CONTRADIÇÕES DA RAZÃO

GOYA

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ADJETIVAÇÕES A GOYA

• “DESCONHECIMENTO DA COMPAIXÃO”, “VISÕES FANTÁSTICAS”, “APARIÇÕES SOBRENATURAIS”, ENTRE “ACUSAÇÕES” E “PESADELOS” (Gombrich, p. 485-486)

• “IMPIEDOSA SINCERIDADE” E “COLEÇÃO DE FANTASMAS” (Janson, p. 315)

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ÊNFASE SOBRE A FEALDADE

Francisco de Goya. Rei Fernando VII de Espanha, 1814

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Francisco de Goya. A família do Duque de Osuna, 1788 (Es)

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Francisco de Goya. Maria Teresa de Bourbon, 1783 (s)

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CONSTITUIÇÃO LIBERALEm 1989, realizou-se uma exposição inédita em Madrid, Boston e Nova Iorque que, ao invés de sublinhar um Goya taciturno, rodeado de seres assustadores, mergulhado num mundo de escuridão, como o conhecemos, apresentou um artista expansivo, sedento de luzes e adepto dos ideais iluministas.

Francisco de Goya. Alegoria sobre a adoção da Constituição de 1812, 1812-4 (Es)

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OUTROS QUADROS DA EXPOSIÇÃO

• A verdade Revelada pelo Tempo e Testemunhada pela História• Alegoria sobre a adoção da Constituição de 1812• Divina Liberdade• Lux ex Libres• A Espanha Constitucional Perseguida pelos Espíritos da

Escuridão• A Verdade Morreu e Ressuscitará• A chegada da Justiça• Assim os malandros temem os lampiões• A liberdade percorrendo o mundo(Ver imagens em A crise da razão)

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ENTRE DOIS MUNDOS E NAS ENTRANHAS DE UM MUNDO SÓ

• Goya, por tudo isso, está imerso no espírito do Iluminismo e mantém fortes laços com as convicções racionalistas. Porém, é muito evidente que qualquer pessoa, por pouco que esteja familiarizada com sua obra, dificilmente poderá aceitá-la como uma celebração da racionalidade. Goya foi o feiticeiro que suscitou horrendos monstros com a vara mágica de seu pincel, povoou sua própria casa – a Quinta Del Sordo – com pesadelos sombrios pintados nas paredes, Goya nutriu a imaginação romântica com fantasmas arrepiantes. Com Os Caprichos, Os disparates, Os desastres da guerra, as pinturas negras, com o 3 de maio, em que Goya, o “afrancesado”, denúncia a violência do exército francês, é mais fácil percebê-lo na companhia dos românticos, que foram os grandes opositores dos iluministas e do projeto que salvava o mundo pela razão. Os românticos precederam muitas vezes a uma condenação impiedosa desses caminhos – ou melhor, desses descaminhos, como pensavam – e encontraram em Goya um de seus faróis, como escrevia Baudelaire.

• Estamos portanto diante de uma evidente contradição. Os especialistas nos falam de um Goya imbuído do espírito das Luzes, os românticos encontraram nele, ao contrário, uma irracionalidade poderosa, que sua obra parece comprovar. Talvez, ambos estejam, até certo ponto, certos. O que não impede que Goya tenha, na verdade, indo além desse antagonismo entre razão e desrazão para, através da sua obra, pensá-lo de modo mais profundo. (Coli, p. 304)

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DA SÉRIE OS CAPRICHOS

Francisco de Goya. El sueño de la razón produce monstruos, 1812-4 (Es)

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Quinta del Sordo, século XIX (Es)

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Quinta del Sordo, 1930 (Es)

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Quinta del Sordo, situação atual (Es)

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AS PINTURAS NEGRAS

Diagrama com a situação original das Pinturas Negras da Quinta del Sordo, 1820-3 (Es)

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Francisco de Goya. As pinturas negras, 1820-3 (Madrid/Es)

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Francisco de Goya. EL Aquelarre, 1820-23 (Es)

Francisco de Goya. A peregrinação de São Isidoro, 1820-23 (Es)

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Francisco de Goya. Saturno devora seus filhos, 1820-23 (Es)

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“FELICIDADE ERÓTICA”

Francisco de Goya. Retrato de Isabel de Porcel, 1814 (Es)

Em Goya, a questão erótica não é disfarçada como em David, ao contrário é um enfoque direto e quase brutal.

Goya é herdeiro de uma espécie de “felicidade erótica” dos pintores da nobreza que o Iluminismo assimilou como sinais de irremediável dissolução dos costumes e, portanto, combatia em nome um novo comportamento moral (Coli, p. 60, 306)

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AS MAJASProváveis explicações para a pintura dos dois quadros:A proibição do nu pela censura inquisitorialA novidade do gênero na pintura espanhola (Ver Vênus do espelho, de Velázquez)

A pintura data do início do século XIX e, mesmo integrando a coleção da Academia de São Fernando desde a década de 1820, só foi exposta publicamente em 1900

Sem pecado, sem culpa, sem pudor, sem perversões, sem idealizações

“Portanto, as simpatias “filosóficas” de Goya não significaram uma adesão à nova pintura que o Iluminismo revolucionário inventara, à sua estética e à sua poética. Ele manteve-se fiel à tradição da sensualidade feliz que o Antigo Regime criara, numa versão mais franca e mais direta”. (Coli, p. 303)

Francisco de Goya. La maja desnuda e vestida, 1814 (Es)

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Francisco de Goya. Fuzilamentos de 3 de maio, 1814 (Es)Sugestão de documentário: “A vida íntima das obras-prima”

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PARTICULAR/UNIVERSAL

• Os fuzilamentos de 3 de maio, encomendado pelo governo de regência e pintado 6 anos depois dos acontecimentos de 1808, “contribuíram para limpar qualquer mácula que porventura Goya pudesse trazer de suas relações com os franceses durante a ocupação. Mas as telas, embora oficiais, foram a primeira representação digna de nota na história das artes de uma insurreição popular. O caráter universal que possuem faz com que exprimam fundamentalmente o conflito entre a liberdade e a ordem”. (Coli, p. 62)

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À GUISA DE CONCLUSÃO

• Se em Goya não se consegue celebrar como em David a vitória da razão, resta-lhe mergulhar nas misérias humanas

• Assim, a razão como aspiração voluntária é perseguida pela pintura refletida e pensada de David, mas os horrores da natureza humana tornam-se perenes e irresistíveis em Goya.

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BIBLIOGRAFIACOLI, Jorge. Claro-escuro. Diálogos, UEM, n. 1, p. 53-66, 1997.COLI, Jorge. O Sono da razão produz monstros. In. NOVAES, Adauto (org.) A crise da razão. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 301-312.GOMBRICH, Ernst. História da arte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993.HAGEN, Rose-Marie & Rainer. Goya (1746-1828). Alemanha: Taschen, 2003.HUGHES, Robert. Goya. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.HUGH-HONOUR. Neo-classicism. Londres: Penguin, 1968.JANSON, H. W.; JANSON, Anthony F. Iniciação à história da arte. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.STAROBINSKI, Jean. 1789 os emblemas da razão. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

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CRÉDITOS

Instituição: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)Curso: Bacharelado em HumanidadesDisciplina: História da Cultura e da ArteDocente: Miliandre Garcia

* A maioria das imagens foram extraídas da internet (Google), outras são fotos pessoais e uma parte escaneada dos livros citados