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1 Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras e Ciências Sociais Departamento de Sociologia História do pensamento sociológico: Karl Marx, Emile Durkheim, e Max Weber Semestre 1/2017 A sociologia clássica e teoria social contemporânea - uma reflexão sobre a questão da sua relevância com base da obra de Habermas Por Peter R. Beck 0. A estrutura do texto e o modo de emprego Este documento de apoio está composto de duas partes: a parte do texto principal que apresenta os argumentos sobre a actualidade dos clássicos com referencia a teoria de agir comunicativo de Habermas, incluindo uma introdução temática ao programa; e a parte das anotações com três tipos de informações: 1) informações adicionais sobre aspectos levados no texto principal; 2) informações e explicações adicionais sobre conceitos e teorias mencionados no texto principal, mas não directamente ligadas com este, mas que tem por objectivo de alargar o horizonte dos estudantes; e 3) referencias bibliográficas. 1. A questão da justificação do seminário Considerar uma aula sobre autores clássicos de sociologia e sobre textos escritos, na maior parte, a mais de um século atrás, precisa ser justificado e apresentar argumentos capazes de responder a um depoimento atribuído ao filósofo Alfred North Whitehead, co-autor conjunto com Bertrand Russel da “principia matemática’, que tinha avançado que a maturidade de uma disciplina cientifica iria medir-se em função da sua emancipação das ideias da geração fundadora. i Conforme este argumento, o interesse contínuo sobre a “sociologia clássica” ii que faz parte integral nos curricula académicos sociológicos seria prova da sua imaturidade. Porem, não todos os comentadores concordaram com este julgamento. O sociólogo Robert K. Merton, por exemplo, defendeu que ‘a visão se melhoraria sentado nos ‘ombros de gigantes. iii Para Parsons, voltar estudar o pensamento sociológico clássico tem o mérito de promover a investigação e interpretação de fenómenos sociais contemporâneas. iv Quanto ao antropólogo o britânico Alfred Radcliffe Brown,

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Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Sociologia

História do pensamento sociológico: Karl Marx, Emile Durkheim, e Max Weber

Semestre 1/2017

A sociologia clássica e teoria social contemporânea - uma reflexão sobre a questão da sua relevância com base da obra de Habermas

Por Peter R. Beck

0. A estrutura do texto e o modo de emprego

Este documento de apoio está composto de duas partes: a parte do texto principal que apresenta os argumentos sobre a actualidade dos clássicos com referencia a teoria de agir comunicativo de Habermas, incluindo uma introdução temática ao programa; e a parte das anotações com três tipos de informações: 1) informações adicionais sobre aspectos levados no texto principal; 2) informações e explicações adicionais sobre conceitos e teorias mencionados no texto principal, mas não directamente ligadas com este, mas que tem por objectivo de alargar o horizonte dos estudantes; e 3) referencias bibliográficas.

1. A questão da justificação do seminário

Considerar uma aula sobre autores clássicos de sociologia e sobre textos escritos, na maior parte, a mais de um século atrás, precisa ser justificado e apresentar argumentos capazes de responder a um depoimento atribuído ao filósofo Alfred North Whitehead, co-autor conjunto com Bertrand Russel da “principia matemática’, que tinha avançado que a maturidade de uma disciplina cientifica iria medir-se em função da sua emancipação das ideias da geração fundadora.i Conforme este argumento, o interesse contínuo sobre a “sociologia clássica”ii que faz parte integral nos curricula académicos sociológicos seria prova da sua imaturidade.

Porem, não todos os comentadores concordaram com este julgamento. O sociólogo Robert K. Merton, por exemplo, defendeu que ‘a visão se melhoraria sentado nos ‘ombros de gigantes. iii Para Parsons, voltar estudar o pensamento sociológico clássico tem o mérito de promover a investigação e interpretação de fenómenos sociais contemporâneas.iv Quanto ao antropólogo o britânico Alfred Radcliffe Brown,

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discípulo de Durkheim, não deveria haver ruptura entre os pensamentos clássicos e actuais tendo em conta que os últimos dependessem “do trabalho dos seus predecessores, descobrem problemas que eles consideram ser significativos, e através da observação do raciocínio, tentam fazer algum tipo de contribuição para o conjunto crescente de teorias.”v. Finalmente, para o sociólogo funcionalista Niklas Luhman a relevância da sociologia ‘clássica’ iria consistir no seu valor heurístico para a sociologia, e deviam ser interpretado e usado como “mecanismo de redução de complexidade” teórica.vi

No entanto, acho que estas defesas não são completamente convincentes, uma vez que o critério de relevância da sociologia clássica não pode ser separado daquilo da sua actualidade. Neste âmbito deveria se poder provar que, mesmo admitindo que as soluções e teorias já não podem reivindicar ser validas e/ou actuais, existem duvidas que esta sentença iria aplicar-se com tanto rigor aos tópicos e as perguntas de pesquisa.

2. No que diz respeito a questão da actualidade dos autores clássicos: O exemplo de Habermas

Neste propósito propõe-se fazer uma reconstrução com base de alguns aspectos do edifício teórico de Jurgen Habermas, um dos mais influentes representantes da teoria social contemporânea, seja na sua vertente sociológica que filosófica. Ora, considerando ainda que tem uma carreira que cobre um período de 50 anos, oferece uma oportunidade única, para estudar as ligações feitas entre a sociologia moderna e clássica.

Trabalhar sobre Habermas não é coisa fácil, e não somente por causa da barreira linguística. Requer também ter um ‘background’ em sociologia, em filosofia e em linguística, alem das teorias sociais clássicas e contemporâneas. A obra de Habermas pode ser vista como um constante diálogo com sociólogos e filósofos antigos’ e contemporâneas, sobre questões cruciais tanto de ponto de vista filosófico que da teoria social, dentro das quais questões éticas e morais, sobre a relação entre cultura, sociedade e personalidade, e sobre a historia e a humanidade. E exactamente por esta razão que os textos de Habermas podem servir para aportar algo de substancial sobre a questão da ‘actualidade’ dos clássicos.

Todavia, e para dar justiça a complexidade da obra de Habermas, bem como para explorar outras pistas de relação entre teoria social clássica e moderna, este ensaio ira também incluir e fazer referencias a autores mais contemporâneas sempre que isso pode parecer útil. Serve também para reforçar que a teoria social, como todas disciplinas, é, em grande parte um sistema auto-referencial, segundo Luhmann, o que quer dizer que a produção do saber se realiza, em grande parte, através da leitura de textos e relatórios, do que através de actividades de pesquisa empírica. Ainda mais que a ultima esta enquadrar-se também no sistema auto-referencial, não

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somente em termos de paradigmas teóricas dominantes, de codificação de métodos, mas também em termos da escolha de campos e perguntas de pesquisa. Voltamos sobre este aspecto mais a frente e no capítulo 4 a ocasião da discussão sobre a ciência social e teoria social e sobre os métodos científicos que segue

Foi dito que na obra de Habermas há cruzamento entre perguntas e ideias filosóficas e respostas e teorias sociológicas e metodológicas. A importância destas perguntas e ideias filosóficas não é a subestimar, e não é de acaso. Por um lado lhe serve como correctivo contra a tendência de especialização e fragmentação da disciplina; por outro lado pode se tornar um veículo par resgatar ideais e perspectivas que iriam riscar de perder-se, caso que iriam aceitar-se somente autores contemporâneos para participar no diálogo. Ainda mais tendo em conta a proximidade das ciências sociais com o paradigma positivista. vii

Importa notar que Habermas faz parte do âmbito da teoria crítica. Deu continuação a procura de sínteses, iniciadas por representantes da “teoria critica’, entre os pensamentos filosóficos e económicos de Marx, a teoria de racionalização de Max Weber, e a sociologia de religião de Durkheim. Alem de Talcott Parsons, subiu a influência de George Herbert Mead, e dos filósofos linguísticos Noam Chomsky e John Searle.

A seguir vamos tentar um resumo breve e simples sobre alguns aspectos centrais da teoria Habermasiana, que serve para ilustrar e sustentar a tese sobre a actualidade do pensamento ‘clássico’. Importa salientar que os parágrafos a seguir, tem por motivo de dar uma orientação previa face a complexidade da teoria social caracterizada de uma multidão de posições e perspectivas teóricas através da reconstrução de filiações que, em grande medida, encontram a suas origens no pensamento dos autores clássicos, entre quais, os três autores seleccionados. Quanto a obra de Habermas, não pretende-se de dar uma introdução, um resumo exaustivo – isso iria merecer um seminário próprio -, que de demonstrar algumas destas oposições e filiações entre perspectivas teóricas e metodológicas, e como relacionam com os pensamentos dos três autores. Não pode esquecer-se que este texto constitui nada mais que um texto de apoio e de orientação ao estudante. Todavia, este não impede que as referências bibliográficas nas anotações foram acrescentados com objectivo de orientar e animar estudantes em caso que queiram alargar o seu raio de estudos.

3. Breve esboço sobre alguns aspectos da teoria de comunicação de Habermas

Um dos principais aspectos da crítica de Habermas em relação a Karl Marx e a Max Weber é que ambos terem reduzido a problemática de racionalização ao único campo da “acção instrumental”. Seria tarefa da teoria social de corrigir esta falha. Agora, a construção teórica de Habermas apresentada na sua obra-prima “A teoria de agir comunicativo” de 1981 é baseado sobre uma análise que combina Marx,

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Weber, e Parsons por uma lado, e Durkheim e Mead por outro, com a filosofia linguística de Noam Chomsky e de John Searle. A obra parte do pressuposto que a) seria necessário de ultrapassar a filosofia de sujeito, e b) virar atenção para a estudar as estruturas cognitivas da comunicação linguística, e as suas regras inerentes e aplicáveis nos ‘actos de falar’.viii Este estudo resultou em demonstrar que os actos comunicativos têm um enorme potencial para responder as grandes questões da humanidade e, de forma mais concretas, para fundar um conceito e um caminho alternativo de racionalização comparado com o modelo actual de tecnologia social.ix

E portanto possível de analisar e avaliar comunicações em função das suas revindicações (Geltungsansprüche) avançadas. O ‘acto de falar’ representa a unidade elementar em cada comunicação, incluindo nas auto-comunicações’ descritas por Herbert Cooley, e George Herbert Mead, e recuperadas por Herbert Blumer que colocou-as como ferramentas centrais da teoria de acção do interaccionismo simbólico.x

Com base no Searle, Habermasxi defende que cada depoimento não somente é composto de múltiplos actos de falar dependente da sua complexidade, mas cada acto de falar pode e deve ser avaliado ou ‘problematizado em termos de quatro revindicações principais: se o depoimento é compreensível? Se da um descrição correcta dos factos? Se representa a verdade; e se o autor é sincero e avança opiniões e argumentos verdadeiras? Habermas parte, portanto, de uma teoria consensual da verdade. E consciente que, frequentemente, depoimentos servem para fins opostas a verdade, e são empregados para criar impressões e ideais falsas que escondem os intenções verdadeiras.xii Representam formas ‘derivantes’ de comunicação e a única maneira de desmascarar os esquemas empregadas consistia em submetendo cada depoimento neste exame de plausibilidade acima esboçado. Ai a teoria consensual de verdade de Habermas volta aproximar-se ao método Marxista de ‘critica de ideologias’.xiii

O impacto desta construção não pode ser subestimado uma vez que coloca a discussão sobre métodos de pesquisa. Na hipótese que o principal objectivo das ciências sociais deveria consistir em produzir um saber que passa o teste através dos três critérios acima mencionados que projecta chegar ao fundo das coisas, deve aceitar-se também que assumem um papel de ‘crítica ás ideologias’.xiv Este aspecto foi, de novo, salientado por Pierre Bourdieu através da formulação de uma norma ética para cientistas e cientistas sociais que consiste em se manter independente dos sistemas e de detentores de poder, para evitar cair na armadilha de produzir um saber ‘ideológico’ legitimando as estruturas de poder e de dominação; uma armadilha que pode, em termos éticas, ser lamentável, mas que pode revelar-se bastante lucrativa em termos de privilégios económicos e de estatuto profissional.xv

Embora que os actos de comunicação visam de criar um consenso, a troca de argumentos beneficia do facto que partilham um mesmo espaço vital que garanta

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que os actores sejam familiarizados e terem o domínio das normas e dos significados culturais e a sua aplicação em situações sociais concertas.

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xvi Mas já em contextos de interacções interculturais, esta base pode não existir e/ou ela pode se tornar-se problemática quando actores tem interpretações opostas sobre a validade e sobre os significado destas das regras básicas. Em ambos casos o decurso ‘normal’ da comunicação e da interacção acaba enfrentar uma crise. A saída desta ruptura que afecta o desenrolar normal do acto comunicativo só pode consistir em passando para um outro modo de acto comunicativo que Habermas chama o discurso. O discurso constitui uma forma de comunicação – meta que já não porta mais sobre a comunicação de conteúdos, que representa, grosso modo, uma tentativa de criar ou recriar um consenso sobre as regras e procedimentos a seguir nos actos comunicativos. A diferença pode ser ilustrada em analogia ao jogo de futebol onde cada ‘jogo’ depende do reconhecimento mútuo e prévio do catálogo de regras e do papel dos árbitros de tomar as decisões. Cada ruptura neste reconhecimento, neste consenso prévio, provoca uma reacção imediata que consiste em lembrar e reavivar as regras de jogo. Portanto, o modo de discurso tem similaridade com a descrição da função do crime apresentado por Durkheim que também consistia em reavivar o cometimento comum com as regras e normas morais e jurídicas sócias.xvii

Importa acrescentar que para Habermas o problema de legitimidade e as suas fontes constitui um tópico central. Ele rejeitou a teoria legalista de legitimidade de Weber por que iria subestimar os requisitos em termos de justificações que ultrapassam o critério da regularidade jurídica e legal. Habermas defende que a teria do acto de falar oferece um fundamento mais segura que a consciência moral bem como pode ser um base para uma moral universal. Neste âmbito são apresentados três argumentos: a) estas regras podem ser encontradas em todas as línguas porque reflectem a ‘natureza da língua; b) os resultados gozam de legitimidade uma vez que exprimem uma opinião consensual encontrada num contexto de livre competição entre pessoas livres submetido a única autoridade que é esta do melhor argumento; e c) o exercício da troca de argumentos tem um papel socializador, o reconhecimento da forca de argumento como única autoridade deslegitima qualquer forma de poder. xix O último argumento refere-se ao potencial de racionalidade que se encontra a nível dos meios sócio cultural agindo como contra-forca contra as tentativas de colonização do espaço vital.

Importa também notar que a referência a regras argumentativas que tem uma validade ‘apriori’ permite resgatar a ideia de transcendalidade de Kant, mas esta já não resido no Sujeito iluminado capaz de ‘boa vontade’, mas no acto de comunicação a tornar-se assim impessoal. E por esta razão que pode tornar se o campo onde reside o acima mencionado potencial de racionalização dos mundos socioculturais oferecendo assim uma saída viável em “resgatar” a ideia de emancipação social e humana propagada por Marx, em evitando, no mesmo tempo, de cair nas aporias da teoria critica que ampliou ainda mais o pessimismo

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Weberiana que viu o futuro da humanidade a acabar numa ‘caixa de ferro’ segundo a formulação famosa feita na ‘ética protestante’.

No entanto coloca problemas

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xx no que diz respeito às capacidades de comunicação que dependem da distribuição dos capitais económicas e simbólicas que dominam os campos – e os tópicos – sociais.xxi Coloca-se também a questão do papel de peritos e da complexidade dos assuntos a abordar. A teoria de comunicação argumentativa enfrenta também um problema de tamanha tendo em conta que parece ‘funcionar’ somente em grupos pequenos em situação de co-presença física ou virtual.xxii E no fim, a questão da implementação das decisões tomadas que requer uma divisão de trabalho tanto horizontal e vertical. Qual será o papel das normas e regras de comunicação face as exigências de eficácia e de eficiência de funcionamento.

Contra estas criticas, todavia pertinentes, podia objectar-se o facto que a teoria de acto de falar já encontrou uma aplicação prática no tribunal que, em termos sociológicos, pode ser caracterizado como uma experiencia social que tem por objectivo de separar a verdade das aparências falsas através da técnica de interrogatório. Ainda mais, quanto aos critérios aplicados para estabelecer um narrativo verdadeiro e correcto e em concordância com os factos, encontramos os mesmos quatro critérios usados na teoria de acto de falar. Este exemplo confirma que a teoria de actor de falar representa uma teoria consensual de verdade que pode entrevir em qualquer momento e contexto, por exemplo num caso de conflito entre um superior hierárquico e um subordinado. Embora que a implementação de decisões politicas, e o funcionamento de organizações envolvem a existência de estruturas hierárquicas e de relações de comando, isso não elimina a procura de verdade. Ou seja, a tese sobre supremacia da organização burocrática, avançado por Weber, consiste também, apesar dos seus aspectos jurídicos gerais, que tem introduzido o direito formal de recurso.xxiv

Ä teoria da razão comunicativa visa também em reformular a teoria moral de Kant. Kant concluiu que para o imperativo categórico poder ‘funcionar’ requer indivíduos iluminados dotados em ‘boa vontade’ uma vez que os indivíduos têm a capacidade de escolher que será a lei moral. A ideia de boa vontade pode ser traduzida, em referência a Kohlberg, e a teoria de desenvolvimento da consciência moral que exerceu uma importante influência sobre Habermas.xxv Todavia, Habermas rejeita a ideia que as ‘a-priori’ da filosofia do sujeito em serem capaz de fundar uma moral universal. E exactamente esta procura de fontes de legitimação mais segura que leva Habermas de propor a viragem linguística e de basear a sua teoria de agir comunicativo sobre a teoria de ‘acto de falar’.

O modelo de estágios sobre o desenvolvimento da consciência moral apresentado por Kohlberg forneceu a base para a teoria da competência comunicativa, que

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resume os requisitos culturais necessários para participar no discurso. Permite também realçar a importância e o papel da educação e das instituições educativas. O papel da educação como veículo de promover valores e normas morais laicas nas consciências individuais já foi sublinhado por Durkheim. Embora que Durkheim viu no sistema escolar um veículo de educação moral, complementando os aspectos profissionais, a sociologia educativa que sucedeu, desenhou uma imagem diferente concluindo, na prática a escola não serve tanto para promover e preparar a cidadania – conforme com Habermas a cidadania é um dos requisitos para aquisição das competências comunicativas para prepara a troca de argumentos

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xxvi – que de preparar a nova geração para as diferentes segmentes do mercado de trabalho.

Neste âmbito, Raymond Boudon no seu estudo sobre a questão o sistema educativo chegou a conclusão que por um lado a educação escolar e um mecanismo de socialização secundária que visa preparar a nova geração ao mercado de trabalho. Contrariamente a ideologia moderna segunda qual os estatutos social sejam distribuídos conforme o principio de mérito a origem social e o estatuto herdado continuam iriam continuar influenciar o acesso a educação, por exemplo escolas publica ou privada, e iam pesar sobre as probabilidades de sucesso escolar. Mas a questão de sucesso se tornaria mais um critério para representantes com baixo nível de capital económico e cultural, oriundo de camadas sociais baixas. Por um lado, argumenta Boudon, e contrario a ideologia de mérito, embora que o sucesso escolar não é uma garantia de mobilidade social ascendente, este facto afecta mais os jovens oriundo de meios sociais desfavorecidos. Alem do facto que o estatuto herdado molda as hipóteses sobre o estatuto social futuro, a probabilidade que representantes das classes ‘altas’ iam correr o risco de se tornar vítima de mobilidade social decrescente, mesmo tendo um rendimento escolar baixo é baixa, comparado com representantes de classes baixas. Boudon chama este efeito o ‘efeito protector’.xxix E conveniente dizer que estas análises criaram um eco nas análises educativas de Bourdieu que avançou que o sistema educativo nas sociedades como a Franca, iria servir, antes de tudo, como mecanismo de reprodução das desigualdades.xxx

4.

Quanto as questões sobre a sociologia como ciência, sobre a diversidade das abordagens sociólogas e as suas implicações metodológicas: A contribuição de Habermas e as posições de Durkheim, Weber e Marx.

A crítica de Habermas frente as modelos de racionalização apresentados pelos sociólogos clássicos resultou numa revisão do conceito e da teoria de racionalização. Esta foi feita, numa primeira fase, com base da distinção entre ‘trabalho’ e ‘interacção’; uma distinção que, como acabamos de apresentar, mais

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tarde tornou se numa distinção entre racionabilidade instrumental

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xxxi e racionalidade comunicativa. Trata-se de dois campos de acção diferentes constituindo um campo de regulação sistémica e um campo de interacção sociocultural. Habermas. Embora que aceita o modelo de AGIL de Parsons como ponto de partida, objectou que este modelo de trocos funcionais ignorou a existência de desequilibrem estrutural que caracteriza as relações de trocos funcionais entre os subsistemas de regulação, político e económico com os subsistemas de integração social e moral. O último sendo cada vez mais obrigado em adaptar-se as necessidades e as prerrogativas do primeiro. Habermas descreve este facto como acto de colonização que tem por efeito de bloquear o desdobramento do potencial racional inerente aos actos comunicativos, e que portam a marca da sociedade de classes que resistiu às reformas sociais e a criação do Estado de providência que tinham preservadas as estruturas sociedade capitalista.

Este desequilíbrio impactaria também sobre a identidade da sociologia tirada entre as exigências teóricas e metodológicas que deveriam ser satisfeitas em visto de uma ciência social por um lado, e os requisitos do campo de pesquisa e as suas implicações metodológicas por outro lado, que tem por pressuposto que a teoria social deveria aplicar um conceito diferente de cientismo. A tese do equilíbrio implica também que ambos paradigmas iriam responder e corresponder á padrões de interesse diferentes, ate mesmo opostos. Neste âmbito Habermas propõe distinguir e comparar entre três interesses constitutivos que deviam ser associados com três tipos de ‘saber’ científico que podem ser retraídos a concepções teóricas científicas e metodológicas sociológicas clássicas.

O primeiro interesse que é ‘técnico’ visa controlar e manipular a natureza externa e interna e onde primam métodos experimentais, empírico - analíticas em uso nas ciências naturais e nas ciências sociais ‘positivas’ frequentemente em combinação com modelos preestabelecidos e onde o sujeito a estudar e reduzido em objecto ou em numa variável simples.xxxv

Neste contexto, importa propor um breve excurso sobre a teoria económica tendo em conta que esta abordagem prima tanto na teoria económica neoclássica que nas pesquisas econométricas. Parte sobre pressupostos simples sobre a natureza egoísta dos homens que pode ser operacionalizada em características utilitaristasxxxvi

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como esta de sobre a capacidade de escolhas racionais com base de preferências claras e com plena consciência sobre as alternativas, os seus custos e benefícios. Todavia, o forte carácter auto - referencial da teoria económica aumenta o risco de produzir um saber tautológico com forte risco de querer adequar a realidade aos modelos do que os modelos a realidade. Esta subestimação do carácter contingente da realidade face aos modelos levou John Meynard Keynes de introduzir factores psicológicas na teoria económica e de salientar o papel das percepções e das ideias, uma revisão que influenciou em particular a parte das políticas de regulação económica. Nota-se também a ressurgência de uma teoria

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económica institucional – por exemplo Douglass North e Oliver Williamson - que visa incluir factores estruturais e culturais e tenta reconhecer o impacto de factores sociológicos nas operações económicasxxxix, mas que continua ficar a periferia do ‘mainstream’ da teoria económica.xl

Embora que esta motivação de adquirir conhecimento com finalidade de aumentar o controlo responde a uma exigência antropológica, há um segundo interesse virado para o conhecimento dos significados simbólicos. Tem objectivos culturais e hermenêuticas usando métodos centrados sobre actores sociais e capaz de revelar as convicções, as percepções que têm sobre si próprio e o seu lugar no mundo, as formas de interpretação da realidade, e a interacção entre estatutos e posições, entre as esperanças, crenças e ansiedades, entre as motivações, capacidades e oportunidades por um lado e os constrangimentos estruturais experienciados ou subidas por outro lado. Nas disciplinas hermenêuticas, entre quais a sociologia interpretativa, o sujeito de pesquisa tem de ser tratado como tal aplicando o rigor metodológico que foi criado graças as a uma sociologia interpretativa plurifacetada. Ou como comentou Whitehead: não há nada mais difícil do que querer estudar aquilo que tem a aparência do óbvio.xli

O último interesse visa a emancipação dos actores sociais escolhidos por este efeito. Primam também um método hermenêutico - a teoria de estruturação sendo um enquadramento possível – mas desta vez o objectivo não deve se satisfazer de obter uma representação verdadeira da realidade vivida dos actores sociais submetida a interpretação sociológica, mas deve consistirem provocar processos de auto-reflexão a nível dos actores sociais aumentando a capacidade de autonomia social. Este interesse molda os métodos de investigação que deve incluir uma crítica as ideologias que, conforme Marx, agitam como um véu acabando distorcer a forma como a realidade se apresentar e escondendo a sua forma real e portanto a forma como esta percebida.

Habermas fez também uma ligação entre saber e interesses e a teoria dos três mundos de Karl Popper, que foi, como já foi mencionado, um dos representantes chave do “racionalismo crítico”. O modelo está distinguindo entre o mundo dos objectos físicos, o mundo dos estados subjectivos cognitivos e emocionais composto por operações e expressões de pensar, e de sentir; e o mundo das construções simbólicas, composto de ideias e ideologias filosóficas, religiosas e políticas, de criações artísticas e científicas. Nota que o primeiro e o terceiro mundo iriam comunicar basicamente só por intermédio do segundo, embora que o primeiro e o segundo mundo, bem como o segundo e o terceiro se influenciam mutuamente. Não e possível fazer um retracto do raciono complicado de Habermas que consiste na construção de quatro tipos de acção face aos três mundos, a acção estratégica, normativa, dramatúrgica e comunicativa, cada um destes tipos emprega a língua mas em formas e como intenções diferentes. Como já foi mencionado a acção comunicativa destaca-se como único tipo onde prima o objectivo do consenso e do

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entendimento mútuo. Se esforçam de criar um entendimento sobre aspectos que pode surgir e referir ao primeiro, ou ao segundo mundo. Este entendimento e possível porque os participantes podem recorrer ao espaço vital que está a fornecer um background em termos de significados de conceitos, regras e praticas culturais.

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Obviamente o método Marxista foi vítima de múltiplas críticas, entre outros, por parte de Weber e de Durkheim, o ultimo porque viu no Marxismo uma violação da tese sobre a neutralidade do científico e sobre a interdição de recorrer a julgamentos de valor.

Quanto a posição dos três autores clássicos, tem argumentos permitindo associar a sociologia de Durkheim com a sociologia positiva que alimentou a sociologia estrutural funcional; esta de Weber com a sociologia interpretativa que vai na direcção oposta do individualismo metodológico, e a teoria de Marx com a teoria de crítica que quer assumir um papel prático. Assim, Durkheim focalizou sobre o estudo dos factos sociais, Weber sobre o estudo das interacções sociais e, neste âmbito, realçou a importância de captar os sentidos visados e razoes que deviam ser confrontados com significados culturais e Marx sobre o desmascarar dos véus ideológicos que tem por propósito de promover e reproduzir ‘ideias falsas’ sobre a realidade social. E um dos objectivos deste seminário em que medida esta caracterização em termos de etiquetas corresponde ou não a realidade.

Alem destes aspectos que revelam da teoria da ciência, será importante observar e comparar a escolha de tópicos, e é fácil de constatar que o estudo de capitalismo representa um tópico, mas também um quadro analítico comum onde cada um dos autores juntou as contribuições suas olhando para o papel das crenças e a religião, a divisão de trabalho e sobre processos de estruturação e de dualidade estrutural na análise sobre as desigualdades em ternos de constrangimentos estruturais e culturais, e em termos de capacidades e normas de acção e questões de contingência e de autonomia.xliv

5. O programa e a lista de textos seleccionados

Espera-se que este breve recurso a teoria de Habermas podia servir como justificação sobre a actualidade dos autores clássicos sem que muitas facetas nas teorias modernas ficaria obscuros, tanto no que diz respeito a escolha de campos de reflexão e de pesquisa, quanto no que diz respeito as perspectivas e explicações teóricas.

Quanto ao programa inicia – se, logo a seguir a introdução - com textos de Karl Marx a começar com textos sobre Hegel e a questão judaica que da continuação ao debate sobra relação entre estado e sociedade civil iniciado na crítica a filosofia de direito de Hegel, e que expõe as ideais sobre a questão de emancipação política

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versus a emancipação cívica. A actualidade deste texto de 1843 e que se relaciona com campanhas como aquela de ‘one person one vote’ lançada pela ANC na época de apartheid.

O texto sobre a ideologia alemã torna tangível a abordagem em ‘critica as ideologias’ e representa uma primeira aplicação do materialismo histórico, seguido da leitura parcial dos ‘manuscritos’ portem sobre uma critica da teoria económica e a divisão de trabalho e introduzindo o conceito da alienação, embora que o texto intitulado o ‘18 de Brumario’ apresenta uma analise de forcas politicas e um amorfo de teoria de classe aplicada.

O programa de leituras termina com mais dois textos, a famosa introdução a critica de economia politica e três capítulos do capital 1 sobre a acumulação do capital, sobre a acumulação primitiva sendo uma resenha sobre as origens de capitalismo, e sobre o colonialismo, enquanto o bloco sobre Marx só pode encerrar em consagrando uma aula de debate sobre a sua actualidade – ou não actualidade, como será o caso no que concerne os blocos sobre Durkheim e Weber.

O bloco sobre Durkheim inicia se com extractos sobre questões de método funcional e positivo, sobre a divisão de trabalho e o suicido, a seguido por textos oriundo da sociologia da religião e de conhecimento.

Termina com textos sobre a sociologia moral de Durkheim, com textos sobre o individualismo, sobre papel da educação para moral e sobre moral e campos sociais.

O bloco sobre Weber inicia-se com uma leitura da ética protestante seguido por textos abordando questões de conceitos e métodos da sociologia interpretativa, e a problemática de ‘objectividade nas ciências sociais’.

Seguem – se extractos d textos tirados da volumosa “Economia e Sociedade’ nomeadamente o texto sobre “Ordem jurídica, convenção e costume” que permite estudar a contribuição de Weber na teoria institucional, um texto tirada da sociologia de dominação sobre a relação entre dominação e poder e sobre a dominação patrimonialxlv, e, no ultimo, dois textos tirados da sociologia politica portando sobre partidos políticos modernos, contendo a característica famosa de Weber que ‘ as partidos modernas constituem partidos de patronagem’.

O bloco se termina com dois textos escritos na fase inicial da Republica de Weimar que retomando a discussão sobre o conceito de vocação na politica e na ciência permitindo comparações com a ética protestante.

O último bloco será consagrada a discussão. Propõem-se os seguintes tópicos para discussão:

• a comparação entre os três autoresxlvi;

• a comparação com ‘outros autores/sociólogos clássicos;

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• a questão de actualidade olhando para as sociologias de Habermas – como foi feito neste programa, para a sociologia de Giddens e/ou de Bourdieu, entre outros

• E sobre a questão em que medida tem relevância ou não para a sociologia das sociedades Africanas?

Esta lista não pretende ser definitiva e pode acomodar as ideias da turma.

6. Questões didácticas: as implicações do modelo didáctico de ensino - aprendizagem

O método didáctico na UEM é este de ensino – aprendizagem que coloca o estudante no coração embora que o professor tem mais um papel de moderador. Só pode funcionar a condição que os estudantes demonstram um interesse serio e estão motivados de apreender o que requer uma participação regular, e uma boa preparação de cada aula; a leitura rigorosa de textos e a preparação de resumos e ensaios; e a participação activa nos debates. E com base nisso que será feita a avaliação.

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Anotações:

i O sociólogo ‘Parsoniano’ Jeffrey Alexander falou ainda do ‘desafio empirista’ das teorias clássicas que podia desacreditar a sua actualidade. Alexander evoca também a rejeição formulada por Giddens, que esta ecoando esta de Whitehead, mesmo se entre em contradição com o interesse contínuo que o autor consagrou as teorias “clássicas” como revela já a lista de literatura para este seminário. Constata que os autores clássicos, não somente, ‘falharam’ em produzir uma teoria social satisfatória, mas que as suas teorias iriam formar obstáculos ao desenvolvimento teórico. Jeffrey Alexander: The Centrality of the Classics, in Anthony Giddens & Jonathan Turner (ed. 1987) Social Theory Today, Stanford University Press, p. 44. No entanto, como confirmam os textos de Giddens, esta avaliação parece mais responder a finalidades polémicas que factuais tendo em conta que tanto no ensaio sobre as “novas regras” que neste sobre “a constituição da sociedade, o autor não falha incluir autores clássicos. ii A lista de sociólogos clássicos podem variar depende da posição e dos interesses do interessado. Depende de influências de modo e de paradigmas dominantes (Thomas Kuhn) a lista de clássicos pode variar também no que diz respeito a questões de selecção que implica separar entre ‘clássicos’ considerados como ‘relevantes’ e ‘clássicos’ deixados ao lado e que raramente entram em programas de ensino ou estão a ser citados em obras contemporâneas. Isso e com certeza, não e o caso dos três autores escolhidos neste seminário iii Raymond Aron, por exemplo, listou autores como Pareto, Comte, Tocqueville e Montesquieu como ‘classicos’ ao lado de Marx, Durkheim e Weber, mas ‘omitiu’ outros como Simmel, Mead, Schütz, Sigmund Freud, Adam Smith e os utilitaristas apesar do facto que fazem parte do paradigma teórico de escolha racional. James Coleman, um representa chave de RCT (rational choice theory) classificou a sociologia da acção de Max Weber como sendo uma teoria de RCT, tendo em conta que propus um método que consistia em procurar motivos racionais para explicar os comportamentos sociais. James Coleman (1990) Foundations of social theory, Harvard University Press. Neste âmbito evoca-se também a defesa do individualismo metodológico mais recente, apresentado e que avança a tese da autoria de Max Weber por Raymond Boudon (2010) La sociologie comme science, Collection repères, La découverte, Paris. Portanto, em vez de organizar a historia de pensamentos por autores, autores como Robert Nisbet (1966), Anthony Giddens (1988), Jonathan Turner no Manual de teorias sociais de 2001, ou ainda Heinz Abels, na sua introdução a sociologia de 2009 optaram aplicar um sistema de classificação por “ideias unitárias” (Nisbet), ou por perspectivas teóricas “ (Giddens & Turner, Abels). iv Este argumento foi apresentado por Parsons na sua primeira obra-prima de 1937 intitulada “A estrutura da acção social: a study in social theory with special reference to a group of recent European writers”, The Free Press, USA v Alfred, R. Radcliffe Brown (1952) Estrutura e Função nas sociedades primitivas, Edições 70, Lisboa, Portugal, 1989 vi Vide Jeffrey Alexander, ibid., p. 31 vii Numa observecao polémica, Bourdieu caracterizou a sociologia positivista como copia ‘caricatural’ das ciências naturais. Pierre Bourdieu, Jean-Pierre Chamboredon & Jean-Claude

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Passeron (1968) The craft of sociology: epistemological preliminaries, de Gruyter 1991, p. 7. A propósito desta obra, revela também a forte influência de Durkheim sobre o metodo sociológica de Bourdieu. Ainda de notar que as questões sobre a relação entre filosofia e teoria social têm implicações sobre a questão das tradições filosóficas e sobre a natureza cientifica da sociologia. Quanto ao primeiro aspecto, Habermas notou que a sociologia estaria a frente de duas tradições conflituais: a tradição modernista e progressista da filosofia de iluminismo, e a tradição conservadora e da filosofia romântica. Estas tradições impactam, de forma diferente, sobre a avaliação sobre a natureza e o papel da sociologia, e sobre o debate entre teoria e ciência social e os métodos de investigação sociológica. Jürgen Habermas: kritische und konservative Aufgaben der Soziologie, in: Habermas (1963) Theorie und Praxis: sozialphilosophische Studien, Suhrkamp, Frankfurt 1978. Jürgen Habermas (1970) Zur Logik der Sozialwissenschaften, Suhrkamp, Frankfurt 1984. A teoria social defendida por Habermas está a enquadrar-se na tradição do iluminismo, embora que autores como Robert Nisbet avançam que a sociologia seria mais devedora a filosofia romântica: Robert Nisbet (1966) The sociological tradition, Basic Books, NY. Esta clivagem pode também ser observada a nível dos autores clássicos e será interessante de ver o resultado sobre isso. viii John Searle (1979) Expression and meaning: Studies in the theory of speech acts, Cambridge University Press, UK 1999. Searle salientou que iam existir somente cinco tipos de depoimentos que podiam comunicar-se com uso da língua: “One can tell people how things are (assertives); one can try to get them to do things (directives); one can commit oneself to doing things (commissives); one can express one's feelings and attitudes (expressives); and one can bring about changes in the world through one's utterances (declarations).” John Searle: Speech acts, mind and social reality, in Guenther Grewendorf & Georg Meggle (ed. 2002) Speech acts, mind and social reality: Discussions with John Searle, Springer Verlag ix Habermas acusou Luhmann de querer reduzir a teoria social a nível de uma tecnologia social. Jürgen Habermas & Niklas Luhmannn (1971) Theorie der Gesellschaft oder Sozialtechnologie: was leisted die Sozialforschung, Suhrkamp, Frankfurt 1974. O debate entre Habermas e Luhmann representa uma reedição do debate sobre o positivismo que uma década atrás entre representantes da teoria critica e do racionalismo critico, entre quais Karl Popper. O racionalismo crítico, grosso modo, define a sociologia como ciência empírica baseada numa abordagem dedutiva que consiste em estudar a realidade sob forma de hipóteses de pesquisa, que, em confronto com o segmento da realidade social em questão acabam ser confirmadas ou falsificadas. A falsificação de hipóteses, que exprimem o estado de saber teórico, deve provocar um reexame desta teoria. Assim o processo de progresso teórico e descrito como processo continua de falsificações empíricas. Hoje em dia representa o paradigma dominante no ensino de métodos de pesquisa empírica, nomeadamente sob a forma de pesquisa com base de indicadores. E um modelo de pesquisa dedutivo que ‘nasceu’ na segunda parte do século 20, e que, conforme com o modelo de racionalismo critico, organiza o processo de pesquisa empírica com base de indicadoras pré-definidas e representativas para o fenómeno social em questão. Mancur Olson definiu indicadores sociais como “a statistic of direct normative interest which facilitates concise, comprehensive and balanced judgements about the condition of major aspects of a society. [...] It is a direct measure of welfare and is subject to the interpretation

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that if it changes in the ‚right‘ direction [...] things have gotten better, or people are ‚better off‘. Mancur Olson, in Heiz Herbert Noll (2016) Zur Geschichte der Sozialindikatorenforschung: Messung, Beobachtung und Analyse der Lebensqualität, Diskussionsbeiträge des wissenschaftlichen Beirats. Regierungsstrategie zur Lebensqualität in Deutschland. Governo da Republica Federal da Alemanha, 10/2016. Giddens & Turner (1987), na introdução a teoria social hoje, comparam o racionalismo lógico, citando como representantes autores como George Herbert Homans, Talcott Parsons, e Jonathan Turner, atribuindo ás ciências sociais um carácter de modelo para ciências sociais, com abordagens interpretativas acima mencionados que defendem a tese da diferencia teórica e metodológica com as ciências sociais. Um debate que, mais uma vez, revela que o debate sobre o positivismo ainda não morreu. x Herbert Blumer (1969) Symbolic Interactionism: perspectives and method, University of California Press, xi A teoria de “acto de falar‘ de Searle constitui a peca chave na teoria de acção comunicativa de 1981, como revela também o ensaio de 1971: Jürgen Habermas: Vorbereitende Bemerkungen zu einer Theorie der kommunikativen Kompetenz (Prolegómenos para uma teoria de competência comunicativa) in: Jürgen Habermas & Niklas Luhmannn (1971) ibid. xii Erving Goffman (1966) Strategic Interaction, University of Pennsylvania Press, Philadelphia, USA, um estudo sobre as facetas e técnicas usadas em comunicações estratégicas. xiii O esquema de problematização de reinvocações pode quebrar aquilo que Bourdieu chama a ‘violência simbólica’ que funciona segundo o princípio “ouvir é acreditar” e que joga em favor daqueles que tem acesso a palavra. Pierre Bourdieu (1977) The economics of linguistic exchanges, Sage Publications, jan. 1/1977. www.sagepublications.com xiv A acção de pensar emprega conceitos linguísticos. O uso de conceitos errados ou falsos afecta a nossa capacidade de pensar direito. Como conclui Habermas, esta capacidade depende portanto do carácter verdadeiro da informação recebida conforme aos quatro critérios de plausibilidade. Neste âmbito o termo de propaganda descreve uma técnica que consiste em manipular a informação e, através disso, em influenciar as ideias e perspectivas sobre a realidade. De certa maneira é uma réplica da tese de consciência falsa de Marx que a teoria crítica, e Adorno & Horkheimer (1947) em particular aplicaram para o estudo da indústria cultural. Mas a questão de actos de pensamentos errados atraiu também o interesse da psicologia social, e teoria de atribuições em primeiro lugar. O estudo das atribuições consiste, grosso modo, em captar como as ideias moldam as percepções e avaliações de si próprio e dos outros. Entre os resultados tangíveis desta importante teoria figura a “descoberta”de um “erro fundamental de atribuição”, uma sorte de erro padrão que leva pessoas em explicar o próprio sucesso através de factores intrínsecos (esforço, inteligência, mérito), e a falha por causas e factores extrínsecos adversos (circunstancias desfavoráveis etc.), embora que a avaliação de sucesso ou falha de outra pessoa revela um padrão invertido de causalidade. Harold H. Kelley & John L. Michela (1980) Attribution theory and research, Annual Review of Psychology, no 31/1980. E conveniente notar que a teoria de atribuição constitui um caso aplicado da “dupla hermenêutica”; o pesquisador através da observação e o estudo dos processos cognitivos formando “teorias” sobre causas

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e efeitos interpreta estes processos na procura de padrões para depois tentar identificar eventuais causalidades culturais. xv Assim Bourdieu salientou que “não há democracia efectiva sem um verdadeiro poder crítico”. Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/pierre-bourdieu-307908.shtml. Portanto o método critico das ideologias de Bourdieu marca o conjunto das obras de Bourdieu, tanto no que diz respeito aos estudos sobre o poder, quanto aos estudos sobre a educação. xvi Ai, Habermas está a referir-se ao conceito de ‘espaço vital’ tirado da teoria fenomenológica e entrou na teoria social através de Alfred Schütz. Concentra sobre a existência a-priori de saberes partilhadas e constitutivos pelos espaços vitais sem quais comunicações e interacções quotidianas e rotineiras iriam tornar-se coisa impossível. Goffman tentou captar estes aspectos no seu estudo sobre comportamentos em espaços públicos’, publicado em 1963, mas mais ainda na obra que talvez é a mais conhecida de Goffman, i.e. Erving Goffman (1959) A apresentação do Eu na vida de todos os dias, Antropos, Lisboa 1993. Neste âmbito importa evocar ainda a obra de Peter Berger e Thomas Luckman, na altura assistente de Schütz: ‘A construção social da realidade’ - The social construction of reality: a treatise in the sociology of knowledge - , publicado em 1966 e que promoveu a introdução da teoria de espaço vital na sociologia moderna. Ora, esta teoria deixou a sua marca também no método de pesquisa sociológica avançado por Giddens e conhecido como modelo da “dupla hermenêutica”. Neste modelo Giddens que recorre a teoria de acção social de Weber avança que, numa primeira etapa, a pesquisa sociologia deveria focalizar sobre os significados que os actores sociais atribuem as suas condutas, e sobre as motivações e justificações dadas para explicar as suas escolhas e decisões. Tem por consequência que as explicações teóricas sociológicas, que estão produzidas com base destas ‘teorias ingénuas” representam uma forma de racionalização usando conceitos bem definidos. Deste modo as teorias sociológicas constituem uma comunicação meta. Este modelo foi desenvolvido no ensaio sobre “as novas regras de método sociológico” em 1976 e usado de novo na obra-prima de Anthony Giddens (1984) The Constitution of Society, Campus Frankfurt, 1988. xvii Emile Durkheim: Règles relatives a la distinction du normal e du pathologique, in Emile Durkheim (1895) Les règles de la méthode sociologique, PUF, Paris 1990. xviii Por exemplo Jürgen Habermas (1973) Legitimationskrise im Spaetkapitalismus, Suhrkamp, Frankfurt. A teoria de legitimidade de Habermas enquadra se na distinção feita entre ‘sistema; e ‘espaço vital’. A definição legalista de Weber, objecta Habermas, acaba reduzir questões de legitimidade em referência ao funcionamento e a estabilidade do sistema e ignora a relação de dominação que entretêm com ‘os espaços vitais’ que corre o risco de ser colonizado. Jürgen Habermas (1981) Theorie des kommunikativen Handelns, Suhrkamp, Frankfurt xix Habermas (1971), ibid. O modelo da pragmática universal se define sob forma de discurso e, como o discurso, porta somente sobre as regras de comunicação, excluindo qualquer definição em termos de valores morais fora de procedimentos que impõem as regras argumentativas como única autoridade. Quanto nisso, o filosofo linguística Karl Otto Apel, colega na universidade de Frankfurt defende que cada participante numa comunicação argumentativa já deu um consentimento implícito ao reconhecimento destas regras, um

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facto que esta criando um cometimento forte que torna-se difícil de revogar. O reconhecimento das regras de comunicação acabaria portanto criar um efeito de aprendizagem e de socialização moral. Apel chamou isso “a priori da argumentação.” K.O. Apel (1994) Transformation der Philosophie, vol 1: Suhrkamp, Frankfurt. Importa notar que Habermas, numa obra mais recente, realçou esta ideia sobre o carácter imparcial e hostil a qualquer intrusão de poder que fortaleza a pretensão da teoria de comunicação como um modelo de moral universal. Jürgen Habermas (2001) Justification and Application: remarks on discourse ethics. MIT Press, USA xx A obra de Habermas provocou um eco enorme. Alem das críticas mencionadas aqui (anotação xviii): Anthony Giddens: Reason without Revolution, in Anthony Giddens (1996) In defence of Sociology: essays, interpretations and rejoinders, Polity Press, UK, e Stephen Whyte (ed. 1995) The Cambridge Companion to Habermas, Cambridge University Press, UK. Respostas produzidas por Habermas encontram-se entre outros, em Habermas (2001), vide também na anotação i e xvi. xxi Por exemplo o estudo de Pierre Bourdieu sobre a nobreza de Estado que oferece um estudo sobre o campo politico. Pierre Bourdieu (1989) La Noblesse d’Etat, Les Editions du Minuit, Paris, pp 371ff xxii Neste contexto importa notar a distinção de Luhmann entre sistemas interactivas, organizacionais e sociais como sistemas constitutivos de sociedades modernas, caracterizadas por diferentes graus de complexidade e onde primam diferentes formas de comunicação. Embora que nos sistemas interactivas primam comunicações directas e de co-presencia, a comunicação organizacional seria moldada por definições de papeis, programas e de relações hierárquicas por um lado, e por restrições de participação por outro lado. Portanto cumula factores que contrariam o princípio de igualdade entre participantes. Niklas Luhmann: Interaktion, Organisation, Gesellschaft, in Luhmann (1975) Soziologische Aufklaerung, Westdeutscher Verlag, Opladen. Ainda a notar que Luhmann interpretou a emergência de sistemas organizacionais como marca emblemática de sociedades modernas. Mas esta preocupação com o fenómeno organizacional tem a sua origem nas interpretações de Marx, Weber e Durkheim que, cada um na sua maneira, salientou o seu impacto cultural e social. Niklas Luhmann: Interaktion, Organisation, Gesellschaft, in Luhmann (1975) Soziologische Aufklaerung, Westdeutscher Verlag, Opladen. xxiii Por exemplo Richard Münch (1982) Basale Soziologia: Soziologie der Politik, Westdeutscher Verlag, pp. 40 ff. Münch nota que a teoria de agir comunicativo de Habermas parecia ter ignorado a distinção, introduzida por Weber, entre a racionalidade material e formal, a ultima sendo consagrada a implementar as decisões consensuais que impactam sobre as estruturas e a vida social dos actores através de sistemas hierárquicas. (vide também na anotação vxii) xxiv Nikls Luhmann (1969) Legitimation durch Verfahren, Suhrkamp, Frankfurt 1983, pp 55 - 136 xxv O conceito da ‘boa vontade’ que Kant introduziu no ensaio sobre ‘os fundamentos da metafísica de moralidade” pode servir para ilustrar a relação acima estipulada entre uma pergunta filosofia e respostas sociológicas. Por um lado pode ser interpretado como exemplo da racionalidade em valores de Weber tendo em conta que, segundo Kant, o “imperativo categórico” teria validade mesmo se este iria significar de prejudicar os seus

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interesses próprios. Todavia, Kant reconheceu que a ideia da ‘boa vontade’ como pressuposto universal do imperativo categórico é uma construção lógica sem base empírica. Andrew Bowie (2002) Introduction to German Philosophy: from Kant to Habermas, Polity Press, UK. Na teoria de sagrado de Durkheim e a sociedade que assume este papel ‘empírico’. Quanto a Max Weber, o conceito de boa vontade parece ter influenciado a tese sobre a racionalidade em responsabilidade. Por outro lado, a boa vontade representa etapa a mais alta no desdobramento do espírito e da razão conforma a fenomenologia de espírito de Hegel. A ideia da evolução da razão encontra o seu eco na teoria de estádios moral de Lawrence Kohlberg. Ann Colby & Lawrence Kohlberg: Das moralische Urteil: der kognitionszentrierte entwicklungspsychologische Ansatz, in Hans Bertram (ed. 1986) Gesellschaftlicher Zwang und moralische Autonomie, Suhrkamp, Frankfurt. E conveniente de incluir também as observações criticas a filosofia idealista oriundo da teoria social clássica que aborda a questão da boa vontade no contexto da relação entre interesses e ideias. Assim Marx estipula que as ideias se adaptam as condições materiais e, em razão disso, podem se tornar erradas, uma conclusão que lhe levou a constatar que na história de luta de classes, ideias dominantes são ideias da classe dominante; constatação que se aplicasse também as valores morais. Quanto a Weber, percepções e condutas sociais nascem de um conjunto entre ideais e interesses, onde o precedente serve para vincular os interesses, mas na ultimo instancia são os interesses a tornar se decisivo. Quanto a Durkheim a ruptura com a consciência colectiva provocado pela crescente processo de diferenciação social descrito sob forma de divisão de trabalho afecta a possibilidade de uma moral universal tendo em conta que a moral cívica poder entrar em conflito com moral profissional. A socióloga brasileira Barabara Freitag tem o mérito de ter publicado um ensaio sobre a evolução da teoria moral de Kant ate Habermas que faz uma reconstrução das etapas do pensamento teórico onde Durkheim assumiu o papel de ter dada “fundamentação sociológica”, e Jean Piaget e de Lawrence Kohlberg este de uma “fundamentação psicológica”da consciência moral. Barabara Freitag (1989) A questão da moralidade: da razão prática de Kant á ética discursiva de Habermas, Tempo Social, Ver. Sociol. USP, São Paulo, 1/1989. Podia criticar-se a atenção marginal que a autora reservou ao papel de Hegel e a sua desconstrução histórica do sujeito transcendental que cria uma ponto entre a filosofia de sujeito e a teoria social acima mencionada. xxvi Jürgen Habermas (1962) The Structural Transformation of the Public Sphere: An Inquiry into a Category of bourgeois Society, MIT Press, Cambridge USA 1991. O autor defende que “a esfera pública” tornou-se o lugar de comunicação entre Estado e sociedade civil, uma tese que ecoa as ideais de Marx e de Kant. Embora que Habermas atribuiu a génese da esfera publica um potencial de emancipação, esta pode resultar em avanços na emancipação politica de grupos desfavorecidas, como por exemplo a conquista do sufrágio das mulheres, embora que a emancipação social das situações de classe continua depara com as barreiras da sociedade de classe. xxvii Claus Offe (2010) Inequality and the labour market: theories, opinions, models, and practices of unequal distribution and how it can be justified, ZAV no. 43, Institut fuer Arbeits – und Berufsforschung 10/06/2010

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xxviii Talcott Parsons descreveu as sociedades modernas democráticas como sociedades onde a ascensão social e a distribuição de posições e privilégios sociais traduz as diferencias em termos de mérito (achievement) o detrimento do estatuto social herdado (ascription). Mérito vs. Estatuto herdado representa um dos cinco variáveis padrão desenvolvido em Talcott Parsons & Edward Shils (ed. 1951) Towards a general theory of action, Harper Torchbooks, NY 1962 xxix Boudon nota que, ao contrário da ideologia baseada no princípio de mérito, as probabilidades de uma mobilidade social negativa são mais altas que as probabilidades de mobilidade de ascensão social, facto que tem a ver, segundo ele com a estrutura de estratificação social. Raymond Boudon (1973) L’inégalité des chances: la mobilité sociale dans des sociétés industrielles, Armand Collin, Paris 1979, p. 309. xxx Ai o capital educativo e cultural, que entram no capital simbólico tem um papel importante. Bourdieu, in Rolf Becker (2009) Lehrbuch der Bildungssoziologie, VS Verlag, Wiesbaden xxxi O conceito da “racionalidade instrumental” é da autoria de Max Horkheimer e usada para denunciar o só uso das capacidades de “razão”para fins de dominação da natureza primeira (o mundo) e secundara (os sujeitos sociais). Cria um sentimento generalizado d alienação que torna-se num obstáculo no processo histórico da emancipação social da humanidade. O conceito da emancipação da humanidade refere ao ensaio de Marx sobre “a questão judaica’, obra a ser lido no quadro deste seminário. Na emblemática “dialéctica do iluminismo” escrito por Teodoro W. Adorno e Max Horkheimer em 1947 e ainda sob impressão forte dos crimes Nazi, os autores acusaram o progresso técnico científico de, não somente ter ignorado e finalmente ter traído a promessa de emancipação que nasceu na época de iluminismo, mas de representar o seu principal obstáculo. O progresso técnico que antes foi um veículo da emancipação da humanidade e da sua luta contra o mito, acabou se transformando num mito moderno no serviço de perpetuar a sociedade de classe. Theodor W. Adorno & Max Horkheimer (1947) Dialektik der Aufklärung, Fischer Verlag, Frankfurt 1975. Vide tambem Jürgen Habermas (1968) Técnica e Ciência como ideologia, edições 70, Lisboa 1987. xxxii Esta distinção é de Talcott Parsons e do modelo de AGIL. Como notou David Lockwood, as funções de prosseguimento de objectivos e de adaptação que são organizadas em subsistemas político e económico tem como propósito principal a regulação sistémica, embora que as funções de integração social e de manutenção de padrões de valor organizados nos subsistemas sociais e culturais tem por propósito principal a integração social. David Lockwood: Soziale Integration und Systemintegration, in: Wolfgang Zapf (ed.): Theorien des sozialen Wandels, Athenäum 1979. Esta constelação pode ser fonte de vários formas de desarticulações e de conflitos incluindo, como defendeu Habermas, entre os níveis sistémicos e socioculturais causando crises de legitimação política (Habermas 1973), ou, por outro lado, crises identitárias como foi estipulado através da tese sobre a colonização do espaço vital (Habermas 1981). xxxiii Talcott Parsons & Neil J. Smelser (1956) Economy and Society, Taylor & Francis 2005, que apresenta uma ilustração detalhada do modelo de AGIL.

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xxxiv Jürgen Habermas (1973) A crise de legitimação no capitalismo tardio, Edição tempo, Rio de Janeiro, 1980, e também Claus Offe (1972) Problemas estruturais do Estado capitalista, Edição Tempo, Rio de Janeiro 1984 xxxv Jürgen Habermas (1968) Erkenntnis und Interesse, Suhrkamp, Frankfurt/Main 1991. Apel avançou que a predominância da abordagem positiva levou a eliminar a questão sobre os interesses para impor este tipo de pesquisa “científica”que requer aplicar métodos objectivos e neutros e codificadas numa única “lógica de ciência ’ aplicável para objectos naturais ou humanos. K.O. Apel (ed. 1971) Einleitung (Introdução): Hermeneutik und Ideologiekritik, Suhrkamp, Frankfurt Main. xxxvi Hans Alpert: individuelles Verhalten und soziale Steuerung – die ökonomische Theorie und ihr Erkenntnisprogram, in Hans Lenk (ed. 1977) Handlungstheorien interdisziplinär, Wilhelm Fink Verlag, München. Quanto ao utilitarismo, o termo aplica-se a um movimento filosófico que parte do pressuposto que cada indivíduo, a condição que seja livre nas suas decisões, seria levado para objectivo de encontrar a felicidade e isso resultaria na felicidade de todos. O utilitarismo defendido por John Stuart Mill acaba formulando uma concepção moral consequencial: o valor moral de uma acção iria determinar-se em função das suas consequências. xxxvii Importa lembrar que as teoria económica parte do modelo de mercado e defende que através do mecanismo de preços cada mercado acabaria encontrar um justo equilíbrio entre a oferta (mercadorias, produtos ou serviços) e a procura (necessidades). Baseia sobre dois pressupostos: o pressuposto utilitarista que defende a tese da disposição egoísta que levaria as pessoas de querer promover os seus interesses nos trocos sociais, e o pressuposto racional que estipulando que actores sociais tomam as decisões com base de um calculo racional entre custos e benefícios. Embora que o primeiro pressuposto e sistémico ou macroeconómico, o segundo que é microsociológico implica um outro pressuposto, i.e., que actores sociais iriam a possibilidade de fazer as suas escolhas racionais com base de informação completa e sem constrangimento de tempo. A crítica de Herbert Simon & James March acabou demolindo este pressuposto micro – sociológico através do conceito de racionalidade limitada, que quer dizer que a capacidade de calcular custos e benefícios para decisões futuras é aproximativa e incerta. De uma certa forma, a critica de Simon & March revela elementos da tese Marxista sobre a consciência falsa. James March & Herbert Simon (1958) Teoria das organizações, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro 1979. Quanto ao pressuposto macroeconómico resido sobre o modelo cibernético de equilíbrio de mercado, i.e., que as decisões egoístas de indivíduos racionais e autónomos, e tendo os preços como único indicador e como único mecanismo de regulação social iriam criar um resulta racional. Este modelo subiu uma atraque por parte de um outro economista Thomas Schelling que acabou mostrando que o efeito cumulado de decisões “egoístas”e racionais em vez de criar um resultado óptimo, pode resultar em produzir efeitos não – desejadas. Thomas C. Schelling (1978) Micromotives and macrobehavior, W. W, Norton & Company, NY. A crítica de Schelling está ecoando a nível microsociológico a distinção entre funções manifestas e latentes de Robert K. Merton que aborda a problemática no contexto da teoria funcionalista. Robert K. Merton: Manifest and latent functions, in Merton (1949) On theoretical sociology, The Free Press, USA 1967

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xxxviii Daniel Bell: Models and reality in economic discourse, in: Daniel Bell & Irving Kristol (1981) The crisis in economic theory, Basic Books Inc., USA xxxix Conforme a observação clássica de John Stuart Mill que “a vida económica seria mais determinada por costumes de que pela moeda.” Alain Gélédan (dir. 1988), Histoire des pensées économiques – les contemporaines, Editions Sirey, Paris, p. 143f xl Hans Alpert, in Hans Lenk (ed. 1977), ibid. xli O método hermenêutico está a posicionar-se no lado da teoria social e não no lado do modelo positivista, conforme a distinção feita por discípulos ‘neo-Kantianos’ como Wilhelm Dilthey e Heinrich Rickert, entre ciências naturais e ciências de espírito ou culturais. Estipular o uso de método hermenêutico na sociologia coloca-a no lado das ciências culturais. A influência da teoria de conhecimento neo-Kantiana pode observar-se na definição e no conceito de sociologia de Max Weber, nos famosos conceitos básicos da sociologia compreensiva. Mas a influência não era de natureza teórica só, tendo em conta que Rickert foi colega dele na universidade de Heidelberg. Quanto a filosofia Neo-kantiana caracteriza um movimento filosófico diverso que enquadra-se no ‘idealismo transcendental’ e que dominou o pensamento filosófico alemão e europeu bem como os pensamentos sociológicos de Durkheim e de Weber. Na obra de Kant o termo ‘Idealismo transcendental’ descreve uma teoria de conhecimento subjectiva que entende cada acto de conhecimento como sendo fruto de uma construção mental onde o intelecto, com base de categorias a-priori vai sintetizando as sensações causadas por estímulos externos (o mundo exterior) que resulta em criar uma “experiencia” que, por sua vez, torna-se a base de um raciocino não-especulativo. Defende o pressuposto idealista que o conhecimento não pode ultrapassar esta limitação ‘transcendental’ ou fundamental. xlii Jüreg Habermas: Introdução: entradas na problemática de racionalidade, in Habermas (1981) ibid., p. 142 xliii Em que medida o método de construir ideal tipos corresponde com esta norma de evitar julgamentos de valores fica discutível, e pode ser um tópico a discutir no seminário. Quanto a dimensão do conceito de emancipação importa acrescentar que Habermas, desde o inicio dos anos 1970 trabalho de forma extensa sobre o modelo de desenvolvimento cognitivo moral individual de Lawrence Kohlberg, acima mencionado. Como foi dito o estádio pós - convencional tem semelhanças com o conceito de boa vontade de Kant. Num outro campo, a ideia que a ciência deveria ter um papel prático, foi popularizada nos anos 1970, através de métodos de pesquisa – acção. Influenciou modelos de pesquisa que usam-se, ate hoje, na sociologia rural e comunitária, e são conhecidos sob o nome de Rapid Rural Appraisal, seja sob forma de um PRA (participatory rural appraisal) ou de um PPA (participatory poverty appraisal) que e de ser aplicado na sociologia rural e que visa promover também uma auto- reflexão, mas desta vez de forma colectivo e em torno de problemas ‘técnicos e económicos ‘concretos’. Conforme com a definição de Robert Chambers. “A PRA process can focus on an entire community, on particular sectors or stakeholder groups in a community (or across several communities), or on an organization”. Lance Robinson (2002) Participatory Rural Appraisal, a brief introduction, in Peter R. Beck et., al. (2010) Sobreviver com seca, cheias e ciclones: estudo de base sobre a situação actual de gestão de risco de calamidades nas regiões e áreas de apoio do projecto pro-grc,

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GTZ/INGC, Maputo, 03/2010. Assim o que ficou da intenção emancipadora acaba ser absorvida por uma lógica técnica controlado por agentes e agências de desenvolvimento. xliv Ainda a notar que a tradição utilitarista parte do individuo estipulando a capacidade de tomar decisões racionais com base de princípios utilitaristas claras. Explica a génese de constelações colectivas e constrangedoras com o direito e o Estado como sendo resultado de um acordo colectivo baseado sobre considerações utilitaristas. Anthony Kenny (2006) The rise of modern Philosophy, Clarendon, Oxford, UK. Uma critica assassina contra os pressupostos da teoria da acção económica foi apresentada por Herbert Simon & James March, na obra organizações, de 1956 xlv O conceito de dominação patrimonial teve uma bastante carreira e ganhou uma nova actualidade através do conceito derivante de neopatrimonialismo reintroduzido por Eisenstadt para o estudo de regimes políticos no “Terceiro Mundo’. (Shmuel Eisenstadt (1973). Traditional Patrimonialism and Modern Neopatrimonialism. Beverly Hills: Sage Publications). O conceito resistiu a resistência de tempo e foi usado também no âmbito de estudos sobre o regime político em Moçambique; por exemplo em David Brinkerhoff & Arthur Goldsmith (2002) Clientelism, Patrimonialism and Democratic Governance: An Overview and Framework for Assessment and Programming, USAID, 12/2002. Marta Regina Silva dos Santos (2004) O Estado e o poder local em Moçambique: as autarquias locais. Estudo de caso da autarquia da cidade de Maputo, Lisboa. Also, more recently Joseph Hanlon & Marcello Mosse (2010) Mozambique’s Elite – Finding its Way in a Globalized World and Returning to Old Development Models, Working Paper No. 2010/105, UNU Wider, in: Peter R. Beck (2016) A supply side policy paper on national and municipal safety net and activation policies and program implementation in Matola and Maputo municipalities, Draft report, Maputo, World bank, Sept. 2016. xlvi Vide Giddens (1972), Parte 4.