shalom mana 191

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Papo Jovem A verdade sobre o Crepúsculo Entrevista Confissão: o Sacramento da alegria A Voz da Igreja Direitos, deveres e o bem comum Espiritualidade | Trindade revela o segredo das belas relações humanas Raniero Cantalamessa, OFM Cap | Pregador da Casa Pontifícia

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Publicação mensal, editada e organiza pela Comunidade Católic a Shalom.

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Page 1: Shalom Mana 191

Papo JovemA verdade sobre o

Crepúsculo

EntrevistaConfissão: o Sacramento

da alegria

A Voz da IgrejaDireitos, deveres e

o bem comum

Espiritualidade | Trindade revela o segredo das belas relações humanasRaniero Cantalamessa, OFM Cap | Pregador da Casa Pontifícia

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Shalom Maná | Junho/20092

Coordenação Geral RICARDO MOREL LOPES CRISTIAnO TuLI

Coordenação Editorial AnDRéA LunA vALIMELIAnA GOMES LIMA

Equipe de RedaçãoAnDRéA LunA vALIMAnDRéIA GRIPPELIAnA GOMES LIMAJOSé RICARDO F. BEzERRA

RevisãoJOSé RICARDO F. BEzERRASAnDRA vIAnAREJAnE nASCIMEnTO

Editor de ArteAuGuSTO F. OLIvEIRA

Gerente ComercialELIAnA GOMES LIMA

AssinaturasLAnE MARquES

Jornalista ResponsávelEGíDIO SERPA

E X P E D I E N T E

SERVIÇO DE APOIO AO ASSINANTECE 040 - s/n - Km 16 - Divineia - Aquiraz/CE - 60170-000

Para assinar ou renovar: (85) 3091.2420 / 8879.7823Para anunciar: (85) 3308.7402

Para sugestões, dúvidas, reclamações e testemunhos, ligue-nos ou escreva-nos: [email protected] / www.edicoesshalom.com.br / www.comunidadeshalom.org.br

E D I T O R I A L

Educação dos filhos. Sabemos que a realidade é desa-fiante: pais que chegam em casa cansados, estressados... O que fazer para educarmos bem? O que para nós é

educar um criança? O que é preciso para sermos fiéis a esta pri-meira missão enquanto pais e mães?

Nesta edição no Assunto do Mês vamos juntos refletir sobre a importância que você dá aos limites na educação dos seus filhos e a grande riqueza de buscarmos aquilo que é realmente essencial em nossas vidas.

Confissão: O que é mesmo esse Sacramento e o que deve nos levar a ele? Com que frequência devemos vivenciá-lo? Qual a dife-rença entre Confissão e aconselhamento espiritual? Tudo isso você vai conferir na Entrevista com Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Encontraremos ainda nesta edição a mensagem do Papa Bento XVI para a XXIV Jornada Mundial da Juventude: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo”. Mais uma vez, o Santo Padre nos alerta quando nos diz que a experiência demonstra que as qualidades pessoais e os bens materiais não são suficientes para garantir a esperança da qual o coração humano está em busca constante. Cristo é nossa esperança!

“Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a todos os povos”. Como ressoa esse mandato de Cristo hoje em sua vida? Qual a sua resposta diante das necessidades do mundo, que geme e sofre pela “ausência” de Deus? O que você tem feito para evangelizar? Como tem aproveitado as oportunidades para anunciar Cristo? Será que a exemplo de São Paulo está evangelizando oportuna e inoportunamente? Confira no Especial mais um chamado de Deus em sua vida para fazer parte de sua missão.

Na seção Espiritualidade, mergulharemos no mistério da Santís-sima Trindade, conhecendo melhor esse Deus que tem o amor como essência, que não se cansa de dar-se por amor a nós. Deus é amor constante e fiel, modelo também para nossas relações humanas.

Na Palavra do Papa, a bela entrevista do Santo Padre durante a sua ida para África. Perguntas que falam desde sua pressuposta solidão até a perspectiva da Igreja sobre o Continente Africano.

Os livros da série “Crepúsculo” já venderam mais de 25 milhões de cópias em todo o mundo, com traduções em 37 línguas. Você pode descobrir o que está por trás dessa série que virou filme, no Papo Jovem.

Boa Leitura,Shalom!

A importânciA dos limitesnA educAção dos filhos

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SUMÁRIO

EntrevistaConfissão: o Sacramento da alegria

20

EspiritualidadeTrindade revela o segredo das belas relações humanas

40

Formação HumanaEu não sou o Messias!

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Papo JovemA verdade sobre o Crepúsculo

37

09

18 42

44

45

12

22

2814

A Palavra do PapaVou à África comgrande alegria

Fé e RazãoPaulo e a Teologia dos Carismas

Orando com a PalavraQuem é como Deus?

Arte e EspiritualidadeA Virgem Anunciada

Em MissãoGaranhuns-PE celebra cinco anos de missão Shalom

EspecialAtenção! Precisa-se urgente de Missionários!

Assunto do MêsA importância dos limites na educação dos filhos

Atualidade“Pusemos a nossa esperança no Deus vivo”

A voz da IgrejaDireitos, deveres e o bem comum

04

1635

Acontece no Mundo 22.308 novos católicos na

China desce o começo do ano Reconhecido milagre pela

intercessão de Bárbara Maix

Santa Sé denuncia nova corrida armentista nuclear

Divirta-se Mulheres de destaque na

Bíblia O monge mordido

EntrelinhasAna, Simeão e a Juventude

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Shalom Maná | Junho/20094

A PALAvRA DO PAPA

com grande alegriaVou à África

Partilhamos com você essa maravilhosa entrevista concedida pelo Santo Padre Bento XvI a alguns jornalistas durante sua viagem aérea para a África. Foram escolhidas perguntas de jornalistas de diversas nacionalidades – italianos, franceses, alemães, e chilenos – que pudessem apresentar um discurso mais completo sobre essa viagem e que pudessem interessar a todos.

Santidade, há tempos, sobretudo, depois da sua última carta aos Bispos do mundo – muitos jornais falam de “solidão do Papa”. Que pensa sobre isto? Sente-se sozinho?E

com que sentimentos, depois das recentes vicissi-tudes, voa agora para a África conosco?

Na realidade, devo dizer que me vem um pouco vontade de sorrir sobre este mito da minha solidão: de modo algum me sinto sozinho. Todos os dias recebo nas visitas programadas os colaboradores mais estreitos, começando pelo Secretário de Es-tado até à Congregação de Propaganda Fide, etc.; vejo depois todos os chefes das Congregações re-gularmente, todos os dias recebo Bispos em visita “ad limina” – ultimamente todos os Bispos, um

depois do outro, da Nigéria, depois os Bispos da Argentina... Tivemos duas plenárias nestes dias, uma da Congregação para o Culto Divino e a outra da Congregação para o Clero, e depois colóquios amistosos; uma rede de amizade, também os meus concelebrantes de missa da Alemanha vieram recentemente por um dia, para falar comigo... Portanto, a solidão não é um problema, estou re-almente circundado de amigos numa maravilhosa colaboração com Bispos, colaboradores, leigos e por isto estou grato. Vou à África com grande alegria: eu amo a África, tenho muitos amigos africanos já desde os tempos em que era professor até aos dias de hoje; amo a alegria da fé, esta fé jubilosa que se encontra na África. Vós sabeis que o mandato do

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Senhor para o Sucessor de Pedro é “confirmar os ir-mãos na fé”: eu procuro fazê-lo. Mas estou certo de que regressarei eu mesmo confirmado pelos irmãos, contagiado – por assim di-zer – pela sua fé jubilosa.

Vossa Santidade vai em viagem à África no mo-mento em que se está a verificar uma crise eco-nômica mundial que tem reflexos também nos países pobres. Aliás, a África neste momento tem que enfren-tar uma crise alimentar. Gostaria de perguntar três coisas: esta situação encontrará eco na sua viagem? Vossa Santidade apelar-se-á à comunidade internacional para que assuma os problemas da África? E, a terceira coisa, falar-se-á destes problemas também na Encíclica que está a preparar?

Obrigado pela pergunta. Naturalmente, eu não vou à África com um programa político-econômico, para o qual me faltaria a competência. Vou com um programa religioso, de fé, de moral, mas precisamente isto é também uma contribuição essencial para o problema da crise econômica que vivemos neste mo-mento. Todos sabemos que um elemento fundamental da crise é precisamente um deficit da ética nas estru-turas econômicas; compreendeu-se que a ética não é uma coisa “fora” da economia, mas “dentro” e que a economia não funciona se não tiver em si o elemento ético. Portanto, ao falar de Deus e dos grandes valores espirituais que constituem a vida cristã, procurarei dar um contributo precisamente também para superar a crise, para renovar o sistema econômico a partir de dentro, onde está o centro da verdadeira crise. E, natu-ralmente, apelar-me-ei à solidariedade internacional: a Igreja é católica, isto é, universal, aberta a todas as culturas, a todos os continentes; está presente em todos os sistemas políticos e assim a solidariedade é um princípio interno, fundamental para o catolicismo. Naturalmente gostaria de dirigir um apelo antes de tudo à própria solidariedade católica, fazendo-o ex-tensivo contudo à solidariedade de todos os que veem a sua responsabilidade na sociedade humana de hoje. Obviamente falarei disto também na Encíclica: este é um motivo do atraso. Estávamos prestes a publicá-

la, quando se desencadeou esta crise e retomamos o texto para responder mais adequadamente, no âmbito das nossas competências, no contexto da Doutrina Social da Igreja, mas com referência aos elementos reais da crise atual. Assim espero que a Encíclica possa ser também um elemento, uma força para superar a difícil situação presente.

O Conselho especial do Sínodo dos Bispos para a África pediu que o grande crescimento quantitativo

da Igreja africana se torne também um crescimento qualitativo. Por vezes, os responsáveis da Igreja são considerados como um grupo de ricos e privilegia-dos e os seus comportamentos não são coerentes com o anúncio do Evangelho. Vossa Santidade convidará a Igreja na África a um compromisso de exame de consciência e de purificação das suas estruturas?

Tenho uma visão mais positiva da Igreja na África: é uma Igreja muito próxima dos pobres, uma Igreja com os sofredores, com pessoas que têm necessidade de ajuda e, portanto, parece-me que a Igreja é real-mente uma instituição que ainda funciona, quando outras estruturas já não funcionam, e com o seu sistema de educação, de hospitalidade, de ajuda, em todas as situações, ela está presente no mundo dos pobres e dos sofredores. Naturalmente, o pecado original está presente também na Igreja; não existe uma sociedade perfeita e por conseguinte há também pecadores e deficiências na Igreja da África, e neste sentido um exame de consciência, uma purificação interior é sempre necessária, e recordaria também neste sentido a liturgia eucarística: começa-se sem-pre com uma purificação da consciência, e um novo recomeçar na presença do Senhor. E diria, mais do que uma purificação das estruturas, que é sempre também necessária, é preciso uma purificação dos corações, porque as estruturas são o reflexo dos co-rações, e nós fazemos o que é possível para dar uma força renovada à espiritualidade, à presença de Deus no nosso coração, quer para purificar as estruturas da Igreja, quer também para ajudar a purificação das estruturas da sociedade.

Tenho uma visão mais positiva da Igreja na África:

é uma Igreja muito próxima dos pobres, uma Igreja com os sofredores, com pessoas que têm necessidade de ajuda e, portanto, parece-me que a Igreja é realmente uma instituição que ainda funciona, quando outras estruturas já não funcionam, e com o seu sistema de educação, de hospitalidade, de ajuda, em todas as situações, ela está presente no mundo dos pobres e dos sofredores.”

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Shalom Maná | Junho/20096

Quando Vossa Santidade se diri-ge à Europa, fala com frequência de um horizonte do qual Deus parece desaparecer. Na África não é assim, mas existe uma pre-sença agressiva de seitas, existem as religiões tradicionais africanas. Qual é então a especificidade da mensagem da Igreja católica que Vossa Santidade deseja apresen-tar neste contexto?

Então, primeiro reconheçamos todos que na África o problema do ateísmo quase não se apresenta, porque a realidade de Deus é tão presente, tão real no coração dos africanos que não crer em Deus, viver sem Deus não parece uma tentação. É verdade que existem também os problemas das seitas: nós não anunciamos, como fazem alguns deles, um Evangelho de prosperidade, mas um realismo cristão. Estamos convictos de que toda esta sobriedade, este realismo que anuncia um Deus que se fez homem, por conseguinte um Deus profundamente humano, um Deus que sofre, também conosco, dá um sentido ao nosso sofrimento para um anúncio com um horizonte

lutar contra ela é com frequência considerada irrealista e ineficaz. Vossa Santidade enfrentará este tema durante a viagem?

Diria o contrário: penso que a realidade mais eficiente, mais presente na frente da luta contra a SIDA é precisamente a Igreja católica, com os seus movimentos, com as suas diversas realidades. Penso na Comunidade de Santo Egídio que faz tanto, visível e também invisivelmente, pela luta contra a SIDA, nos Camilianos, em todas as outras realidades e em todas as Irmãs que estão à dispo-sição dos doentes... Diria que não se pode superar este problema da Sida só com dinheiro, mesmo se necessário, mas se não há alma, se os africanos não ajudam (assumin-do a responsabilidade pessoal), não se pode resolver o flagelo com a distribuição de preservativos: ao contrário, aumenta o problema. A solução só pode ser dúplice: a primeira, uma humanização da sexualidade, isto é, uma renovação espiritual e humana que tenha em si um novo modo de se compor-tar uns com os outros; a segunda,

Estamos convictos de que toda esta sobriedade, este realismo que anuncia um Deus que se fez homem, por conseguinte um Deus profundamente

humano, um Deus que sofre, também conosco, dá um sentido ao nosso sofrimento para um anúncio com um horizonte mais vasto, que tem mais futuro.”

mais vasto, que tem mais futuro. E sabemos que estas seitas não são muito estáveis na sua consis-tência: no momento pode fazer bem o anúncio da prosperidade, de curas milagrosas, etc., mas após pouco tempo vê-se que a vida é difícil, que um Deus humano, um Deus que sofre conosco é mais convincente, mais verdadeiro, e oferece uma ajuda maior para a vida. É importante também que nós tenhamos a estrutura da Igreja católica. Não anunciamos a um pequeno grupo que depois de certo tempo se isola e se perde, mas entramos após pouco tempo, nesta grande rede universal da catolicidade, não só transtemporal, mas presente sobretudo como uma grande rede de amizade que nos une e nos ajuda também a superar o individualismo para alcançar esta unidade na diversidade, que é a verdadeira promessa.

Santidade, entre os muitos males que atormentam a África, exis-te também, e, sobretudo, o da difusão da SIDA. A posição da Igreja católica sobre o modo de

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uma verdadeira amizade também, e, sobretudo, pelas pessoas que sofrem, a disponibilidade, até com sacrifícios, com renúncias pesso-ais, a estar com os sofredores. E estes são os fatores que ajudam e proporcionam progressos visíveis. Portanto, diria esta nossa dúplice força de renovar o homem inte-riormente, de dar força espiritual e humana para um comportamento justo em relação ao próprio corpo e ao do outro, e esta capacidade de sofrer com os que sofrem, de permanecer presente nas situações de prova. Parece-me que esta é a resposta justa, e a Igreja faz isto e oferece deste modo uma grandís-sima e importante contribuição. Agradeço a quantos o fazem.

Santidade, que sinais de espe-rança vê a Igreja no Continente africano? E Vossa Santidade pen-sa poder transmitir à África uma mensagem de esperança?

A nossa fé é esperança por de-finição: di-lo a Sagrada Escritura. E por isso, quem leva a fé está convencido de levar também a es-

perança. Parece-me, não obstante todos os problemas que conhece-mos bem, que há grandes sinais de esperança. Novos governos, novas disponibilidades de colaboração, luta contra a corrupção – um gran-de mal que deve ser superado! – e também a abertura das religiões tradicionais à fé cristã, porque nas religiões tradicionais todos conhe-cem Deus, o único Deus, mas pa-rece um pouco distante. Esperam

A nossa fé é esperança

por definição: di-lo a Sagrada Escritura. E por isso, quem leva a fé está convencido de levar também a esperança. Parece-me, não obstante todos os problemas que conhecemos bem, que há grandes sinais de esperança.”

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Shalom Maná | Junho/20098

Um problema das religiões

tradicionais é o medo dos espíritos. Um dos bispos africanos disse-me: “uma pessoa converte-se realmente ao cristianismo, torna-se plenamente cristão quando sabe que Cristo é realmente mais forte. Deixa de ter medo.” E também este é um fenômeno em crescimento.”

que se aproxime. É no anúncio do Deus que se fez Homem que elas se reconhecem: Deus aproximou-se realmente. Depois, a Igreja católica tem muito em comum: digamos, o culto dos antepassados encontra a sua resposta na comunhão dos santos, no purgatório. Santos não são só os canonizados, mas todos os nossos mortos. E assim, no Corpo de Cristo realiza-se precisamente também tudo o que o culto dos antepassados intuía. E assim por diante. Há, portanto, um encontro profundo que dá realmente espe-rança. E cresce também o diálogo inter-religioso – falei com mais

de metade dos bispos africanos, e as relações com os muçulmanos, apesar dos problemas que se podem verificar, são muito promissoras, disseram-me eles; o diálogo cresce no respeito recíproco e na colabo-ração nas comuns responsabilidades éticas. E de resto cresce também este sentido de catolicidade que ajuda a superar o tribalismo, um dos grandes problemas, e isto origina a alegria de ser cristão. Um proble-ma das religiões tradicionais é o medo dos espíritos. Um dos bispos africanos disse-me: “uma pessoa converte-se realmente ao cristia-nismo, torna-se plenamente cristão

quando sabe que Cristo é realmente mais forte. Deixa de ter medo.” E também este é um fenômeno em crescimento. Portanto, diria que com tantos elementos e problemas que não podem faltar, crescem as forças espirituais, econômicas, humanas que nos dão esperança, e gostaria de realçar precisamente os elementos de esperança.

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Rômulo dos Anjos SilvaMissionário da Com. Católica Shalom em Pacajus/CE

carismáticohomem

Paulo:

O ponto de partida para compreender-mos a teologia dos carismas é – antes de tudo – notifi-car a existência

de Paulo. Uma existência en-tendida somente à luz de uma vivência não “mais na carne”, mas “no Espírito”, “pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). São Paulo é considerado o “teólogo da graça”, e este reconhecimento é mais que justo e fundamentado em uma verdade, pois das 155 vezes que a palavra “charis” (graça) ocorre no Novo Testamento, 100 ocorrências estão nos escritos paulinos. A palavra “chárisma” (carisma) tem a mesma raiz da palavra charis.

A palavra grega chárisma é um substantivo deri-vado do verbo “charízomai” que significa mostrar-se generoso, presentear algo. Desde já podemos começar a entender o significado geral deste termo, que indica um dom generoso, um presente. Todavia encontramos

Fé E RAzÃO

dos CarismasPaulo e a TeologiaA palavra grega chárisma é um substantivo derivado do verbo “charízomai” que significa mostrar-se generoso, presentear algo. Desde já podemos começar a entender o significado geral deste termo, que indica um dom generoso, um presente. Todavia encontramos na teologia paulina vários significados referentes a este termo.

na teologia paulina vários significados referentes a este termo. Das 17 vezes que este termo é usado no Novo Testamento, 16 vezes é citado por Paulo nas suas Cartas e uma vez por Pedro na sua primeira Epístola (cf. 1Pd 4,10). Podemos, assim, sem hesitação, afirmar também que Paulo é o “teólogo dos Carismas”.

Partindo da teologia paulina percebemos que os cha-rísmas – num sentido mais específico – significam dons particulares distribuídos segundo o beneplácito da Von-tade Divina, para o bem de cada um e para a utilidade de

todos os membros do único Corpo de Cristo que é a Igreja. Desta forma, torna-se evidente que, para falar destes dons, precisamos partir da graça divina, pois é possível falar dos carismas somente partindo de uma “vida no Espírito”, porque os carismas são: uma “manifestação do Espírito Santo” (cf. 1Cor 12,7).

Tanto o apóstolo Paulo como Pedro, exprimem uma íntima relação entre os carismas e a graça de Deus. Os carismas são considerados como

uma manifestação da “multiforme graça de Deus”. Os chárismas são de natureza divina, diferentes dos talentos humanos, pois são manifestações do Espírito Santo: “Mas tudo isso é o único e mesmo Espírito que o realiza, concedendo a cada um diversos dons pessoais, segundo a sua vontade” (1Cor 12,11). Os textos paulinos mais importantes sobre este argumento são os capítulos 12 da Epístola aos Romanos e da primeira carta aos Coríntios.

Os carismas são considerados como

uma manifestação da “multiforme graça de Deus”. Os chárismas são de natureza divina, diferentes dos talentos humanos, pois são manifestações do Espírito Santo.”

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Shalom Maná | Junho/200910

a edificação da IgrejaCarismas:

Finalidade dos

A Igreja primitiva se caracteriza pela fundamental experiência de Pentecostes. Esta experiência assinala o começo de um tempo novo de evangelização e o abundante florescimento dos carismas na vida dos Apóstolos e dos primeiros cristãos. Esta experiência, não sendo simplesmente algo do passado, que marcou a história da Igreja, é uma experiência sempre nova, como afirma Santo Tomás de Aquino, dizendo que o Espírito Santo pode ser enviado muitas vezes na vida de cada um, implicando “um conhecimento mais íntimo e mais vivenciado de Deus presente na alma, um conhecimento que explode num amor mais ardente” (cf. Suma Teológica I, q 43). De fato, o Espírito Santo continua a atuar na Igreja fazendo com que esta experiência repita-se muitas vezes na vida de cada um de nós.

Os carismas têm como origem o próprio Deus, a Santísima Trindade. Nos primeiros versículos da pri-meira carta aos Coríntios, no capítulo 12, o apóstolo evidencia esta verdade afirmando por meio de três palavras: dons, no plural (charismata), serviço (diakonia) e operações (energemata); temos aqui uma fórmula tri-nitária. Deste modo, ele atribui os carismas ao Espírito Santo, os ministérios ao Senhor Jesus Cristo e as ope-rações ou poderes a Deus Pai. Contudo, nele não há a pretensão de indicar ou separar três categorias distintas de dons, mas mostrar a unidade entre ambos e eviden-ciar que os dons da graça (charismata) são destinados ao serviço (diakonia) e que todos manifestam com poder a ação ou operação divina (energemata).

Em 1Coríntios 12, Paulo nos apresenta – sem pretender dar um elenco completo e fechado – uma série de “manifestações do Espírito”: a palavra de sabedoria, a palavra de ciência, a fé, o dom das curas, o dom de milagres, a profecia, o discernimento dos espíritos, o dom de falar em línguas e o dom de as interpretar (cf. 1Cor 12,8-11).

Já no capítulo 12 da Epístola aos Romanos ele nos apresenta uma lista de outros dons (chárismas) do Espírito Santo: o dom de serviço, de ensino, de exor-tação, de distribuição dos bens, da presidência, e até mesmo o dom de exercer a misericórdia (cf. Rm 12, 3ss). São Paulo fala ainda de ministérios hierárquicos (cf. 1Cor 12,28; Ef 4,11), ministérios ordenados (cf. 1Tm 4,14; 2 Tm 1,6) e outros.

Deus livremente dá os seus dons e cada um rece-be o dom do Espírito para a utilidade de todos, ou seja, para o bem comum, e mesmo que exista dom em vista de uma edificação pessoal, como é o caso do dom de línguas (cf. 1Cor 14,4), os chárismas têm uma dimensão eclesial, eles existem para atuar como uma realidade edificante, construtiva no interior de toda a Igreja.

Para entender a teologia dos carismas podemos notar três características importantes que devem ser consideradas: I. Os chárismas são dons provindos da graça de Deus, são uma manifestação do Espírito Santo na vida e na missão da Igreja; II. São dons com caráter de utilidade pública, são dados em vista do bem pessoal, mas sobretudo do bem comum e III. Enfim, são dons do Espírito Santo, a vida do Espírito é uma vida na fé, é uma experiência concreta e real.

os chárismasmedidas de todos

A caridade:

Sem a caridade – nota o Apóstolo – os carismas por mais impressionantes que sejam, não têm nenhuma utilidade (cf 1Cor 13,1-3). Afirma o Catecismo da Igreja: “Os carismas devem ser acolhidos com reco-nhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja, pois são uma maravilhosa riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo, contanto que se tratem de dons que provenham verdadeiramente do Espírito Santo e que sejam exercidos de maneira plenamente conforme aos impulsos autênticos deste mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade, verdadeira medida dos carismas” (cf. Cat. 800).

A Caridade é a verdadeira medida dos chárismas, pois se falta a Caridade “nada vale” e “nada lhe adian-taria” (cf. 1Cor 13,2-3).

instituiçãocarisma e

Igreja

Existem tendências que afirmam haver uma con-traposição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática da Igreja, atribuindo esta última dimensão como sendo característica do apóstolo Paulo. No en-tanto, não há fundamentos no Novo Testamento para justificar uma oposição entre estas duas dimensões,

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como se fossem duas realidades in-dependentes. Ao invés, o conjunto dos textos Neo-Testamentários nos afirmam a existência de uma única Igreja com uma única es-trutura Carismática-Institucional, a qual encontra o seu modelo na instituição dos Doze Apóstolos escolhidos por Jesus Cristo (cf. Mc 3,13 ss) e repletos do Espírito Santo para formar a Igreja de Deus (cf. At 2,4 ss). Na Constituição Dogmática Lumem Gentium do Concílio Vaticano II ao número 12

nos mostra que existe na Igreja de Cristo a presença de dons carismá-ticos e hierárquicos. Enfim, vemos que existe uma plena harmonia entre as duas dimensões da Igreja: a institucional e a carismática.

ConclusãoA Igreja sempre foi assistida

pelas “manifestações do Espírito” e sempre será. Podemos afirmar – cheios de fervor (parresia), sem temor – que vivemos como Igreja, sob o Espírito Santo. Nos tempos atuais, de fato, vivemos um “Novo Pentecostes”, como pediu o nosso caro Papa João XXIII por ocasião do Concílio Vaticano II. Sem negar,

de modo realista, os desafios que vivemos hoje, não podemos deixar de ser “homens de espe-rança”, não podemos esquecer que estamos numa profunda

“Renovação Carismática” no interior da Igreja, que os Movimentos Carismáticos

e as Novas Comunidades são uma graça de Deus para os tempos atuais. É o pró-prio Concílio Vaticano II

que nos convida a estarmos atentos e tomar consciência da

presença permanente e ativa do Espírito Santo na vida e na missão da Igreja. É o Espírito Santo, a força da Igreja que a impele para as rotas do mundo para anunciar o Evangelho da Paz. Somos a Igreja da Esperança, pois Deus não cessa de conceder-nos “dons generosos”, ou seja, chárismas, para com parresia vivermos a nossa fé e anunciá-la ao mundo de hoje.

Façamos então, como nos reco-menda o “teólogo dos carismas”: “Já que aspirais aos dons do Espírito Santo, procurai tê-los em abun-dância, para a edificação da Igreja” (1Cor 14,12).

Bibliografia:• Lexicon, Dizionario TeoLogico encicLope-Dico, Ideazione, direzione editoriale a cura di Lu-ciano Pacomio e Vito Mancuso, Edizioni Piemme Spa, Casale Monteferrato (AL), 1993.• nuovo Dizionario Di TeoLogia BiBLica, a cura di Pietro Rossano, Gianfranco Ravasi e Anto-nio Girlanda, Edizioni San Paulo, Cinisello Bal-samo (Milano), settima edizione, 2001.• caTecismo Da igreja caTóLica, Edição Típica Vaticana, Edições Loyola, São Paulo (Brasil), 2000.• compênDio Do vaTicano ii, Constituições, de-cretos e declarações, Editora Vozes Ltda, Petropo-lis RJ, 29a edição, 1968.• carDeaL suenes, Movimento carismático um novo pentecostes, Coleção Cristianismo aberto, Edições São Paulo, Lisboa, 2a edição, 1996.• D. joão evangeLisTa marTins Terra, SJ, Os Carismas em São Paulo, Edições Loyola, Ipiranga (SP), 1995.

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Shalom Maná | Junho/200912

Quem é como Deus?Diante do orgulho d o s a n j o s m a u s , Miguel e os anjos fiéis continuam submissos a Deus, pois haviam experimentado que nada e nem ninguém se comparava ao que Deus é e realiza. você já constatou esta verdade em sua vida?

José Ricardo Ferreira BezerraMissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

ORAnDO COM A PALAvRA

Como você, leitor antigo da Shalom Maná já sabe, o ob-jetivo desta seção

é levar-nos a ler e meditar com a Palavra de Deus através do antigo e comprovado método da Lectio Divina que consiste em quatro passos: leitura, meditação, oração e contemplação. Caso você ainda tenha dúvidas consulte os outros números ou escreva-nos ([email protected]).

Tomemos hoje o último livro da Bíblia, o do Apocalipse de São João e leia três vezes à meia voz, o capítulo 12, do versículo 7º ao 12º, (Ap 12,7-12). Releia-o agora silen-ciosamente, meditando com ele.

O livro do Apocalipse (ou da Revelação) de São João é cheio de simbolismos. Mas como já disse-mos antes, não pretendemos aqui fazer um estudo aprofundado dos textos e dos seus significados. Isto é feito pelos teólogos e exegetas que têm as condições para isso. Nosso objetivo é simplesmente levá-lo a fazer uma leitura orante com a Palavra de Deus.

O primeiro versículo proposto diz: “Houve uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o Dragão...” (Ap 12,7) A nota de rodapé da Bíblia de Jeru-salém, deste versículo, diz que “se-gundo a tradição judaica, Miguel (cf. Dn 10,12-21;12,1) é o com-

batente de Deus. Seu nome quer dizer: “Quem (é) como Deus?”

Diante do orgulho dos anjos maus, Miguel e os anjos fiéis con-tinuam submissos a Deus, pois haviam experimentado que nada e nem ninguém se comparava ao que Deus é e realiza. Você já constatou esta verdade em sua vida?

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A Igreja venera São Miguel arcanjo como celestial protetor do povo de Deus. Em visita ao santu-ário de São Miguel no monte Gar-gano (Itália) em 1987, o então papa João Paulo II disse: “Estou feliz de encontrar-me entre vocês à sombra deste Santuário de São Miguel Ar-canjo, como já fizeram no passado, tantos dos meus predecessores na Cátedra de São Pedro, eu também vim venerar e invocar o Arcanjo Miguel, para que proteja e defenda a santa Igreja num momento em que é difícil professar um autêntico testemunho cristão com compro-missos e sem acomodações.”

Convido-o, portanto a medi-tar hoje sobre as maravilhas que Deus já operou em sua vida e a não desanimar na sua luta contra o Maligno – “o grande Dragão, a antiga serpente, Diabo, Satanás, sedutor da terra inteira” (Ap 12,9). Você tem pedido a ajuda de São Miguel?

Comece fazendo uma oração de Renúncia como esta ou outra que você saiba:

“Em nome de Jesus Cristo, pelo poder do Seu Sangue, pelas Suas Santas Chagas, pela intercessão da Virgem Maria, de todos os Anjos e Santos de Deus e com a proteção de São Miguel Arcanjo, eu RENUNCIO a Satanás, a todas as suas seduções e ciladas, às suas mentiras, aos seus seguidores; RE-NUNCIO ao espiritismo e a toda a sua malignidade; RENUNCIO a todo tipo de ocultismo e a toda forma de superstição; a todas as falsas filosofias e falsas religiões e seitas como a Nova Era e outras, que não têm Jesus como único Mestre e Senhor; RENUNCIO a tudo que ponha em dúvida a presença viva de Jesus na Sagrada Eucaristia, onde Ele se encontra inteiro, em Corpo, Sangue, Alma

e Divindade; RENUNCIO a todo vício de pecado, a toda escravidão pelos meus sentidos, a todo o mal contra mim e contra o meu próxi-mo; RENUNCIO a todo espírito de confusão, de distúrbio nos meus sentimentos, de agressividade, de ódio e rancor, de vingança e de ira, de ressentimento e mágoa, de tristeza e de prostração, de rejeição por parte das pessoas, de descrença em Deus e no seu amor, de decep-ção e desespero; RENUNCIO a todo espírito de morte e desejo de morte dos outros, de autoflage-lação e suicídio, de angústia e de esgotamento, de cansaço e torpor; RENUNCIO a todo espírito de maldição, de blasfêmia e de xin-gamento, de fofoca e mentiras, de ironia e deboche, de palavrões; RENUNCIO a todo espírito de promiscuidade, de prostituição e adultério, de desregramento sexual, de práticas homossexuais, de vício de masturbação e de excitação por pornografia; RENUNCIO a todo espírito de seitas secretas, de idolatria, de falsas religiões, de ma-gias e esoterismo, de bruxaria, de feiticismo e espiritismo, de agouros e encantamentos, de adivinhação e sortilégios, de evocação dos mor-tos; RENUNCIO a todos os es-píritos que foram invocados sobre mim ou sobre minha família.

Senhor Jesus Cristo, peço que quebres todo julgo hereditário que

Convido-o, portanto a meditar hoje

sobre as maravilhas que Deus já operou em sua vida e a não desanimar na sua luta contra o Maligno – “o grande Dragão, a antiga serpente, Diabo, Satanás, sedutor da terra inteira” (Ap 12,9). “

pesa sobre mim, todas as maldi-ções, taras, tendências para o mal, que tudo o que me foi comunica-do pelos meus antepassados seja tocado pelo Teu sangue redentor. Destrói, Senhor, todos os efeitos de consagrações, pactos, batismos e outros sinais de consagração feitos da minha pessoa no espiritismo, na magia ou em qualquer seita. Definitivamente, clara e conscien-temente, com toda a força do meu coração ACEITO a Jesus Cristo, como o meu Salvador, meu Rei e meu único Senhor e aceito a Vir-gem Maria, como minha querida Mãe e Rainha! Amém!”

Reze a seguinte Oração do Papa Leão XIII: São Miguel Ar-canjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemen-te o pedimos e vós, príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.

Depois de um forte momento de louvor a Deus, tome um dos seguintes salmos que proclamam: “Senhor Deus dos Exércitos, quem é como tu?” (Sl 89,9) Ou: “Quem é como o Senhor nosso Deus?” (Sl 113,5). Ou ainda junte-se a Moi-sés no seu cântico de vitória, após atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto tendo o povo hebreu sido salvo dos egípcios: “Quem é igual a ti, ó Senhor, entre os fortes? Quem é igual a ti, ilustre em santidade? Terrível nas façanhas, hábil em maravilhas?” (Ex 15,11).

Para concluir sua lectio, não se esqueça de anotar em seu caderno as maravilhas que o Senhor fez em sua vida e o seu compromisso de vida nova.

Shalom!

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Shalom Maná | Junho/200914

AnunciadaARTE E ESPIRITuALIDADE

Cassiano Rocha AzevedoMissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

Interpretação

Toda a obra está ba-seada em Lc 1,26- 38. A jovem que vemos é Maria de

Nazaré e o nome da obra se refere ao mistério da Anunciação, “A Anunciada”, ou seja, Antonello a representou justo no momento da anunciação. A túnica vermelha representa a humanidade, e o véu azul, a divindade.

Maria está meditando nas Es-crituras. A representação da Bíblia e do suporte vieram do século XVI, pois na época de Nossa Senhora os livros sagrados eram em papiros ou pergaminhos.

A aparição do anjo se dá jus-tamente quando ela ora com a Palavra. A Bíblia não diz especifi-camente como se deu a aparição. A Bíblia está aberta com duas páginas que ainda vão virar. A página da história vai virar com o seu sim.

A Virgem

Toda a obra está baseada em Lc 1,26- 38. A jovem que vemos é Maria de nazaré e o nome da obra se refere ao mistério da Anunciação, “A Anunciada”, ou seja, Antonello a representou justo no momento da anunciação. A túnica vermelha representa a humanidade, e o véu azul, a divindade.

Nesta obra, Antonello enfatiza a intervenção do Anjo em visão in-telectiva. Este tipo de visão só pode vir de Deus, pois age no intelecto (uma área nobre do homem que não se corrompeu com o pecado). Já a visão imaginativa e a física podem vir de Deus, do próprio homem ou do demônio.

O seu olhar vago está centrali-zado num ponto fixo que se situa não fora de si, mas em seu interior. Os homens veem as aparências, Deus vê o interior do homem. Tudo acontece no interior.

E é no interior que ela vê e escuta o anjo: “Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo”. Ela ficou intrigada com a saudação, re-colhe o véu para melhor captar ao que tudo indica, não uma voz exte-rior, mas uma locução interior.

“Não temas, Maria, pois encon-traste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Fi-lho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.”

Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não co-nheço homem?”

Respondeu-lhe o anjo: “O Espí-rito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.”

Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo afastou-se dela.

Nesse momento, vemos o Espíri-to Santo a iluminá-la clareando o véu, pois a sombra do Altíssimo é luz.

A palma de sua mão direita se ergue suavemente num sinal de fé assumindo a graça, pois para Deus nada é impossível.

A cor azul do véu significa a divindade que cobre a sua huma-nidade representada pelo vermelho da túnica.

O azul e o vermelho nesta tona-lidade indicam também a realeza.

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Maria é livre enquanto serva do Senhor e também dos homens, pois logo em seguida, viaja às pres-sas para servir sua prima Isabel. No reino de Deus quem serve reina.

A ausência de qualquer paisa-gem no fundo escuro nos mostra que o mundo estava em densas trevas quando surge uma luz – “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz.” (Mt 4,16) – Antonello não pinta nada além

A Virgem Anunciada (1475) por Antonello da Messina, em madeira (34 x 46 cm ).Museu Nacional de Palermo.

DescriçãoVemos nesta obra de

arte uma jovem com tú-nica vermelha e um véu muito tênue e suave em azul sobre sua cabeça, que cobre inteiramente os seus cabelos. Com a mão esquerda ajusta o véu e a mão direita tem a palma suavemente erguida. Seu olhar vago parece atraído por um ponto fixo, não visível fisicamente. Seu rosto é de uma impressio-nante limpidez, clareza e pureza.

Ela parece estar senta-da ou acabou de erguer-se. Há uma mesa diante de si com um suporte de livros em madeira. Sobre o suporte, um livro aberto com duas páginas ainda a abrir-se totalmente.

A luz que vem do noroeste a sudeste ilu-minando o véu, o rosto, o pescoço, mãos, mesa, o suporte e o livro. O fundo é totalmente escuro.

do fundamental para que não nos distraiamos, pois o essencial está no interior do homem.

A luz é a da graça, que quando encontra um sim na humanidade é irradiada a todos os homens, pois uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro.

Maria ao receber o anúncio do Pai estava em oração, assim como Jesus também estava ao receber o batismo de João e ao ouvir a voz

do Pai (Cf. Lc 3,21-22): “Tu és o meu Filho, Eu hoje te gerei”.

Te peço Senhor a graça de permanecer na tua palavra em amizade contigo, acolhendo o teu amor e a minha missão pessoal qual a tua Mãe para que no meu sim, o teu reino aconteça no meu interior e exterior.

Ó Maria concebida sem peca-do, rogai por nós que recorremos a vós!

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Shalom Maná | Junho/200916

EM MISSÃO

Garanhuns-PEcelebra cinco anos de missão Shalom

Dentro desta cidade das flores existe o mais belo dos jardins, criado há pouco mais de

90 anos, chamada de Diocese de Garanhuns. Para compor este imenso jardim chegaram

no dia 5 de abril de 2004 os primeiros missionários da Comunidade Católica Shalom,

a pedido do Sr. Bispo Dom Irineu.

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Diz a sabedoria po-pular de um povo que vive no co-ração do agreste

pernambucano que, quem beber da água de Garanhuns, um dia volta. Não é para menos: Conhe-cida como a “Cidade das Flores” e a “Suíça Pernambucana”, não tem como não se encantar: Com clima frio e ar europeu, quem poderia imaginar? Chegar aqui em qualquer época é ser caloro-samente bem acolhido pelo povo aqui presente.

Dentro desta cidade das flores existe o mais belo dos jardins, cria-do há pouco mais de 90 anos, cha-mada de Diocese de Garanhuns. Para compor este imenso jardim chegaram no dia 5 de abril de 2004 os primeiros missionários da Comunidade Católica Shalom, a pedido do Sr. Bispo Dom Irineu.

A partir deste dia inicia-se um tempo novo, novo para a cidade, novo para a Diocese e para os missionários. Tempo de conheci-mento, adaptação, tempo de amar, lançar as sementes, cultivar, regar e no tempo certo deixar os verdadei-

ros frutos aparecerem. Começam os trabalhos de evangelização, a formação de adultos e evangeliza-ção em um dos bairros mais po-bres, missão primeira que nos foi confiada por D. Irineu. Porém não paramos aí, mas lançamos nossas redes em águas mais profundas e vamos ao encontro dos primeiros jovens através do Seminário de Vida no Espírito Santo e ali vidas são mudadas e transformadas por inteiro. Estes primeiros jovens são pioneiros de uma nova forma de ser e viver, participam fervo-rosamente dos grupos de oração e, nesta obra ofertam suas vidas e assim vão sendo atraídos por Deus, pela vocação, pela radicalidade e testemunho de outros jovens que deixaram tudo para seguir Jesus num amor incondicional e sem restrições.

Dá-se início ao grupo voca-cional, alguns desejam se com-prometer mais com o Carisma, surgem os primeiros ingressos na Comunidade de Vida e na Comu-nidade de Aliança, pessoas que vão descobrindo a vontade de Deus para suas vidas.

A comunidade vai se estabele-cendo e se firmando, mesmo em meio aos desafios, que são muitos, próprios de uma fundação, porém a graça de Deus não nos deixa paralisar, mas nos convida a ou-sarmos cada vez mais. Agora não são mais os jovens, mas crianças e adultos são atingidos pela força do carisma. Foi no sim de cada dia, no ordinário, na fidelidade ao carisma que o Senhor foi realizando o extraordinário e edificando a sua obra. Hoje, cinco anos depois, não somente Garanhuns, mas outras cidades da Diocese encontram na comunidade uma resposta aos desafios do mundo de hoje.

É verdade, “muito pouco ou quase nada fizemos”, portanto há muito o que celebrar, pois o Senhor “presenteia esta cidade com mais uma manifestação do seu poder criador”. Damos hoje a vida por Ti, muitos já deram a vida nesta mis-são e muitos ainda darão seu sim que frutificará cada vez mais.

Parabéns, Missão de Gara-nhuns, porque neste jardim tão florido começas a exalar teu perfume.

Ronylson Soares CoelhoMissionário da Com. Católica Shalom em Garanhuns/PE

A comunidade vai se estabelecendo e se firmando, mesmo em meio aos desafios, que são muitos, próprios de uma fundação, porém a graça de Deus

não nos deixa paralisar, mas nos convida a ousarmos cada vez mais. “

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Shalom Maná | Junho/200918

ESPECIAL

Pessoas que vivam o seu batismo, no qual receberam o manda-to de Jesus: “Ide por

todo mundo e pregai o Evangelho a todos os povos”.

Pessoas que não vivam centrali-zadas em si mesmo. Que uma vez chamadas, abram mão, por amor a Deus e aos homens, do conforto do seu lar, da segurança adquirida ao longo da vida, do aconchego da família, do trabalho, do estudo.

Pessoas que tenham um grande amor por Jesus Cristo, a ponto de tudo perder, tudo dar por causa desse incomparável amor.

Também é fundamental um amor pelos homens, consequência natural do amor incondicional a Jesus.

Pessoas que, a exemplo de Jesus, vão ao encontro dos pecadores,

Atenção!Precisa-se urgente de

missionários!Deixemos que o grande testemunho deste pequeno nos encoraje a evangelizar cada vez mais com ousadia, indo ao encontro daqueles que estão afastados de Cristo.

Vanilton LimaMissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

dos pobres, dos jovens e excluí-dos. Dos tantos sem rumo, que se encontram vagando nas ruas de nossa cidade.

Pessoas que tenham um coração desejoso do Céu, da eternidade. Que não absolutizem as dores e os sofrimentos presente, mas façam deles um meio para se aproximarem de Cristo, o Servo Sofredor.

Pessoas que conheçam, amem e se submetam a Santa mãe Igreja, que sigam o exemplo da Mãe de Deus e tentem imitar as virtudes de Maria, que estejam dispostas a partirem para qualquer lugar do Brasil ou além fronteiras.

Como é importante encontrar pessoas que não fiquem preocupa-das com o dia de amanhã, com as coisas que ainda hão de acontecer, confiando assim, na Providência

Divina. Que estejam, de fato, dis-postas a remar contra a maré do mundo, com suas mentalidades pagãs, contrárias ao Evangelho.

Pessoas que não fiquem tardan-do sua conversão para amanhã, e esse amanhã nunca chega. Que abracem a Graça da conversão diária, hoje, no sim de cada dia.

Pessoas carismáticas, abertas à condução do Espírito Santo. Abertas aos dons para a edificação e salvação de muitos.

Pessoas que reconheçam suas fraquezas, limites e imperfeições. Que reconheçam o seu lugar dian-te do Senhor. Que por entender e acolher seus limites e fraquezas, não se escandalizam com as fra-quezas dos outros.

Por fim, pessoas alegres, violen-tas de coração, humildes, simples.

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Senti-me maravilhosamente bem! É uma paz tão grande... Sem falar na coragem para evangelizar. Lá têm jovens emos, góticos, de-pendentes químicos, bêbados e até que dizem adorar satanás. Só a galera que mais precisa conhecer o amor de Deus em suas vidas... No final, aliás, na hora em que você escuta essas pessoas, você percebe as causas de estarem ali... A maio-ria são filhos de pais alcoólatras, jovens que brigaram com suas namoradas, com sérios problemas familiares e muitas outras coisas.

É uma experiência maravilhosa! Agora eu irei todos os meses e fi-carei rezando por aquelas pessoas, para que encontrem o caminho de Deus!

Vou sempre lembrar dessa noite como o meu melhor presente de aniversário...”

aniversário!presente de

Meu melhor

Zenon Ribeiro

“Hoje aconteceu a minha maior experiência no

Shalom: pela primeira vez fui evangelizar a galera nos quiosques, aliás, na verdade, essa foi a primeira vez que fui evangelizar!

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Homens e mulheres, e não anjos. Que vivam o perdão e a reconci-liação entre si. Enfim, abertas ao diálogo.

Para terminar, pessoas orantes. Homens e mulheres de uma au-têntica vida de oração. Que não se deixem escravizar pelo ativismo.

Pessoas que tenham um co-ração como o de Zenon, uma criança de 12 anos que participa de grupo de oração na obra Shalom de Teresina, no Piauí, que, como presente de aniversário, pediu aos pais para participar de uma vigília de evangelização.

Deixemos que o grande teste-munho deste pequeno nos enco-raje a evangelizar cada vez mais com ousadia, indo ao encontro daqueles que estão afastados de Cristo.

Como é importante

encontrar pessoas que não fiquem preocupadas com o dia de amanhã, com as coisas que ainda hão de acontecer, confiando assim, na Providência Divina.”

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Shalom Maná | Junho/200920

EnTREvISTA

Confi ssão:o Sacramento da alegriaA Confi ssão é o sacramento pelo qual os fi éis obtêm o perdão dos pecados cometidos depois do Batismo. Para falar um pouco mais sobre esse Sacramento, entrevistamos Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Confissão, reconci-liação, sacramento da penitência ou sacramento do per-

dão. Estes são alguns dos nomes com os quais é conhecido um dos mais belos sinais visíveis e efi cazes da graça de Deus em nossa reali-dade temporal.

Este sacramento é um dos canais instituídos por Cristo para que a salvação que Ele conquistou

com a sua morte e ressurreição seja comunicada a todos os homens. Como os outros seis sacramentos da Igreja (Batismo, Confi rmação, Eucaristia, Unção dos enfermos, Ordem sacerdotal e Matrimô-nio), a Confi ssão é efi caz em si mesma, porque nela Cristo atua diretamente.

A Confi ssão é o sacramento pelo qual os fi éis obtêm o perdão dos pecados cometidos depois do

Batismo. Nele o sacerdote, agindo in persona Christi, perdoa o pecado quando o pecador, arrependido, com o coração contrito, diz as suas faltas, de forma auricular, e se submete à satisfação ou pena que lhe são dadas.

Para falar um pouco mais sobre esse Sacramento, entrevistamos Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Por Andréa GrippMissionária da Com. Católica Shalom no Rio de Janeiro/Rj

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O que deve nos mover a procurar a confissão?Dom Wilson – Em primeiro lugar devemos

entender quem somos, nós pessoas humanas, que procuramos seguir a Deus, que procuramos viver o Evangelho. Nós reconhecemos no Evangelho um tipo de vida que gostaríamos que fosse o nosso, só que vive-mos de forma diferente, somos inconseqüentes, muitas vezes, agimos exatamente de modo contrário.

E pecamos...Sim. Queremos viver o amor, mas buscamos as

nossas coisas; queremos viver em harmonia e acaba-mos prejudicando o outro. Esse é o pecado. Quando nós não agimos de acordo com aquilo que Deus quer. Isso nos faz mal. O pecado é exatamente aquilo que faz da nossa vida uma contradição. E como reverter isso? Com a graça de Deus. É Deus quem pode nos perdoar. É nEle que vamos ser fortes para de novo buscar viver de forma consequente aquele ideal que o Evangelho nos coloca, que é a vida em Deus.

Qual o meio que dispomos para isso?O meio que Jesus nos deixou é o Sacramento da

Confissão. Por isso, não podemos ver na Confissão algo que nos humilha, que nos apequena, que é um aborrecimento na nossa vida. Na realidade é um grande dom que Ele nos dá para nos colocarmos novamente em sintonia com Deus.

E como acontece isso tudo?Por ação de Deus na nossa vida. Na Confissão

Deus nos perdoa os nossos pecados, aquilo que se opõe a Ele. Porque nos arrependemos Deus tira essa culpa. Então, estamos novamente em harmonia com Deus. E não por uma ação humana, mas por uma ação direta dEle. Essa é uma coisa grandiosa que deve nos atrair. Por isso, a Confissão não é o Sacramento da tristeza, da chateação, mas é o Sacramento da alegria, da reconciliação, mesmo. Sabemos que por ação de Deus “eu” que era pecador, que me opunha a Ele, agora sou cheio da graça de Deus. E é nessa graça que procuramos viver. Tenho certeza de que se vivo na graça de Deus, vou buscar as suas coisas com a sua ajuda. Vou buscar amar o próximo, ter disposição de me ocupar com as coisas de Deus, com a oração, em escutar a sua Palavra. A minha natureza estará mais

disposta a isso, porque Deus se faz presente em nós nesse sacramento.

Com que frequência devemos buscar o Sacramento?O princípio é esse: cada vez que me sinto em pe-

cado vou buscar a Confissão. A Igreja diz ‘ao menos uma vez por ano’ e muitas vezes se faz na Quaresma para celebrar a Páscoa. Esse é o mínimo, como dizer: ‘se você relaxar não passe disso’. Quando buscamos nos unir a Deus vamos nos confessar sempre que sintamos necessidade. Deus sempre está disposto a nos perdoar, a nos acolher.

Qual a distinção entre Confissão e aconselhamento espiritual?

Na Confissão eu confesso meu pecado e o sacer-dote me dá o perdão em nome de Deus. Quando o padre absolve, não é uma pessoa que está fazendo isso; é Deus que está perdoando o pecado. Já outra coisa que também é muito boa, mas não se trata de Confissão, é o aconselhamento. Muitas vezes temos situações na vida em que precisamos escutar pessoas. Às vezes a vida está pesada e só de falarmos com alguém já muda todo o horizonte dela. Outras vezes uma pessoa vê as coisas de outro ângulo, e passando isso faz bem a quem procura. Aconselhamos viva-mente que se faça, mas isso não é Confissão. O que acontece é que as pessoas aproveitam esse momento para também pedir conselhos.

Como podemos fazer um bom exame de consciência antes da Confissão?

Primeiro é preciso me colocar sempre diante de Deus em oração e deixar passar, como que um filme, toda a minha vida. Depois, permito que minha consci-ência me aponte o que na minha vida não foi de acordo com a proposta de Deus. Diante do pecado constatado existe algo que é essencial: estar arrependido. Quando se procura viver para Deus, começa a se perceber as coisas que não estão bem. Essa sensibilidade diz-se ser “a voz da consciência”. Por exemplo: se por acaso criticar injustamente alguém, mais tarde estando sozi-nho, terei consciência de que essa não é uma boa ação. Se prejudiquei de outra forma, se fui violento, tenho consciência de que não é dessa forma que devo conviver com as pessoas. Esse é o exame de consciência.

No tumulto das paixões terrenas e das adversidades, surge a grande esperança da misericórdia inexorável de Deus. Corramos confiantes ao tribunal da

penitência onde Ele, com ansiedade paterna, espera-nos a todo instante.” (Padre Pio)

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Shalom Maná | Junho/200922

ASSunTO DO MêS

Estamos vivendo numa sociedade onde temos experimentado uma avançada tecnologia, o que tem facilitado em muito a nossa vida:

telefone celular, eletrodomésticos, internet, etc. Nos supermercados temos diversidade de pro-dutos que visam facilitar o nosso trabalho em casa, outros inúmeros serviços são oferecidos para economizarmos tempo e energias. Mara-vilhoso! É importante e necessário economi-zarmos tempo e energias em favor daquilo que consideramos mais essencial.

A questão é percebermos: O que tem sido essencial em nossa vida? Uma sociedade de consumo precisa gerar sempre mais consumo em vista do crescimento e movimentação da economia, a fim de gerar emprego, renda e desenvolvimento.

Em vista disto, criam-se cada vez mais ne-cessidades e facilidades de consumo. E por causa disso, também, para acompanhar esta corrida de-senfreada da sociedade, temos que trabalhar cada vez mais e melhor, o que implica em capacitação profissional, horas a mais de trabalho ou outras atividades que complementem a renda familiar.

Com isto, temos também experimentado algumas dificuldades: doenças decorrentes do stress, falta de tempo adequado para conviver com a família, com os filhos, etc. No entanto, vamos levando esses prejuízos em vista até da boa intenção de dar mais conforto à família.

Como está a família brasileira nesse contexto?A realidade é desafiante: pais que chegam

em casa cansados, estressados e em muitos ca-sos, ainda, as mães têm que trabalhar o terceiro expediente nos serviços de casa, nas tarefas dos filhos, entre outros afazeres.

Essa realidade tem gerado no coração dos pais também certa inquietação, uma certa culpa por não ter tempo para os filhos. Começa então um mecanismo de compensação, que é utili-zado para sanar este sentimento desagradável: permissividade! Tentamos cobrir com presentes e outros bens de consumo os filhos, ou somos permissivos, deixando que façam suas vontades, o que nem sempre é o melhor para eles: ficar até mais tarde vendo filme ou na internet, ou nos jogos, comprometendo os horários para acordar, estudar, comer e dormir. E agora já tem até o corujão (deixar a criança virar a noite na internet, como recompensa de alguma negociação feita com os pais).

A alimentação também sofre com isso, pois deixamos às vezes adquirirem hábitos alimen-tares errados. Tudo em vista de agradá-los, de manifestar nosso amor, de suprir as ausências, a irritação e a impaciência. E assim, não damos limites às atitudes e escolhas dos filhos.

Somos fruto de nossa época, deste tempo onde predomina o consumismo e forte hedo-nismo, ou seja, a busca do prazer pelo prazer, sem reflexão crítica que gere certo autodomínio

A importância dos limites naeducação dos filhosTorna-se mais fácil dar limites quando temos convicção de nossos objetivos e sabemos que eles são essenciais.

Ana Laura Wanderley Diniz MartinsMissionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

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em favor daquilo que é o melhor, o certo, o mais saudável.

Sem convivência familiar ade-quada, nossos filhos não vivem al-gumas experiências familiares que são fundamentais à vida quando adolescentes, jovens ou adultos, como por exemplo: o espírito de partilha, o respeito pelas diferen-ças, a experiência do conflito (que tem começo, meio e solução), do diálogo, do perdão, do amor. O exercício da tolerância, da renúncia ou do sacrifício inerente ao conví-vio humano, em favor da paz nos relacionamentos.

Uma vida familiar “light”Vamos vivendo, enquanto dá,

uma vida familiar “light”, deixando as coisas acontecerem ou se resol-verem com o tempo, sem maiores esforços, colocando panos quentes.

O filho hedonista, sem limites, começa a mentir, coisa à toa, depois começa a sair com a turma, não

cuida de suas coisas, deixa tudo desorganizado, não tem muito compromisso com sua aprendiza-gem, não tolera receber um não, não tolera desafios, entre outras situações do gênero.

E nós não vamos corrigindo muito, porque, afinal, já passamos tanto tempo fora de casa, traba-lhando, que não podemos estragar o pouco tempo de convívio com sermões, correções, castigos, etc. Não queremos dizer não, só em último caso.

Não demora muito para come-çarmos a perceber que nosso filho está dando trabalho na escola com indisciplina, brigas, tarefas não realizadas, notas baixas, até chegar a situações mais difíceis como be-bida, drogas, gangues, e outras.

É possível que muitos de nós, sem intenção e sem o sabermos, estejamos preparando adultos frá-geis emocionalmente, que não con-seguem tolerar um chefe exigente

Siga os caprichos dele e ele deixará você triste”.Eclo 30,9

e ele trará surpresas desagradáveis para você...“Dê muito mino a seu filho

e mal humorado, ou uma pequena briga do casal – pois querem logo se separar, não têm capacidade de ceder para o outro, de perdoar, de tolerar os defeitos. Aliás, poderão até concluir que não conseguem se relacionar com as diferenças do sexo oposto e decidem pelo caminho mais fácil, que pode ser a solteirice ou, às vezes, relações ocasionais ou com parceiro do mesmo sexo. Outras vezes, nas primeiras dificul-dades da vida querem desistir, não suportando o fracasso, preferem fugir nas drogas, no álcool...

Na minha experiência como psicopedagoga em escola e como assistente social em uma comuni-dade terapêutica, pude observar largamente essa realidade que sofre a família deste tempo. Pude constatar que aproximadamente 90% dos jovens e adolescentes internados para tratamento da dependência química são filhos sem limites, mimados e carentes

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Shalom Maná | Junho/200924

Autoritarismo pode gerar: com-portamento inseguro, dificuldades de expressão, bloqueios emocio-nais, introversão.

Negligências e omissões podem gerar: Carência afetiva, necessidade exagerada de chamar atenção e de autoafirmação, rebeldia, baixa au-toestima, relacionamentos afetivos negativos.

É importante evitar os “rótulos” que desanimam os filhos, gerando baixa estima, e inseguranças. “Pais, não irriteis vossos filhos para que não desanimem”, diz a Palavra de Deus.

As drogas podem entrar na vida do adolescente quando: ele não suporta sua realidade de vida e busca meios de fuga dela; quer buscar novos prazeres diante da sensação de saturação hedonista; quer experimentar riscos para se auto afirmar diante do grupo, ou chamar a atenção dos pais.

O que deve ser proporcionado aos filhos para que possam ter uma vida saudável? Como dar limites?

Numa sociedade que favorece o hedonismo – a busca do pra-zer pelo prazer –, a corrupção, o individualismo, o materialismo, é

de afeto e atenção familiar de qualidade.

“Quem mima o próprio filho, depois terá que lhe curar as feridas” (Eclo 30,7).

É melhor dizer um não, per-dendo por um tempinho, o afeto do filho, do que deixá-lo entregue a si mesmo, para sofrer muitíssimo mais futuramente.

“O cavalo xucro se torna intra-tável e o filho entregue a si mesmo se torna teimoso” (Eclo 30,8)

Situações familiares que dificultam o bom desenvolvimento dos filhos

Permissividade e mimos em ex-cesso geram: falta de limites, crian-ças consumistas, dificuldades de relacionamento com o grupo (não gostam de ceder em favor do outro), crianças que não sabem lidar com a frustração, relações interesseiras com os pais e com os outros, desrespeito às normas, adultos autoritários e cruéis.

na frente dos conhecidos”Eclo 30,2-3

depois terá satisfação e ficará feliz por ele,“Quem corrige o próprio filho,

necessário que a família tenha uma âncora para o seu barco, a fim de acioná-la e não deixá-lo afundar nos momentos das tempestades que todos passamos.

É necessário que o barco tenha uma bússola que norteie o rumo a seguir, a fim de não deixá-lo o barco à deriva, sujeito a acidentes e outros perigos. Qual é essa bússo-la? Deus. Os valores do evangelho que são fundamentais a qualquer sociedade e qualquer homem. Qual é essa âncora? A fé que se fortalece na oração, na Palavra de Deus, na vida em comunidade.

Precisamos estar conscientes do bem e do mal, seguros daquilo que é melhor para nossa família, não se deixando levar pela men-talidade do mundo capitalista que escraviza o homem ao trabalho e ao consumo.

Buscar viver de forma equili-brada, elegendo os valores que são fundamentais à paz e à felicidade do ser humano: escolher lazeres que tragam gratificação emocional e afetiva, como esportes, passeios, jogos de salão, refeição familiar destinada a um convívio mais

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intenso, fi lme que todos possam assistir juntos...

Torna-se mais fácil dar limites quando temos convicção de nossos objetivos e sabemos que eles são essenciais.

Atitudes que podem ajudar Que teu sim seja sim e que teu

não seja não. Parceria entre o casal e comunhão de men-talidade na forma de educar. Diálogo conjugal: comunhão e unidade do casal nas decisões, nas orientações aos fi lhos, sem desautorizar o cônjuge.

Firmeza e afeto na clareza de orientações, fundamentando os “porquês”.

Parceria com a escola. Ela quer ser apoio e ajuda para os pais, precisa dizer o que não vai bem com seu fi lho. Não tem a intenção de julgar, de culpar alguém, mas de iluminar uma necessidade ou mais necessidades de seu fi lho.

É difícil para os pais serem chamados na escola para falar sobre o fi lho, pois isso fere um pouco o nosso orgulho. Que-reríamos ser perfeitos e que nossos fi lhos também o fos-sem. É preciso humildade para educar segundo o coração de Deus. Também evitar atitudes defensivas na relação com a es-cola, como: desconsiderar o que está acontecendo, diminuindo a importância real do ocorrido com o fi lho, ou irar-se e descon-tar em casa de forma agressiva nos fi lhos, ou culpar a escola.

É indispensável o diálogo do casal (sobre os fi lhos) e o diálogo com os fi lhos (em perfeita comu-nhão com o cônjuge). Também é muito importante: Expressar afeto, Ressaltar as qualidades e con-

quistas do fi lho,

Vigiar-se para não expressar preferências por algum fi lho, evitando comparações,

Não emitir pré-julgamentos, Escutar primeiro, Dizer a verdade sobre o que está

errado e considerar a gravidade ou não do ato, para que seja, inclusive, reparada sua conse-quência, com tranquilidade,

Ser firme nas orientações e decisões tomadas, até o fi m.

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FORMAÇÃO HuMAnA

Eu não sou oEu não sou o

Messias!“Eu não sou o Messias, mas sou enviado diante dele” (Jo 3,28). ver, assimilar a verdade, deixar-se por ela libertar e plasmar para alcançar a liberdade, eis a marca registrada de São João Batista, o precursor de nosso Senhor. Sendo enviado diante do Messias, em nenhuma hipótese arvorou-se assumir a identidade ou o papel do Cristo de Deus.

Por mais que pareça óbvio e ululante, é de suma importância cada qual reconhecer

o seu lugar e lá permanecer, na convicção profunda, deste ser o ca-minho a ser tomado. As tentações de querer ser o messias na vida das pessoas, das comunidades, institui-ções e, por conseguinte, da Igreja

ou mesmo do mundo, sempre perpassaram os corações em sua humana fraqueza. A humildade, que é a verdade, quando é sólida, não dá espaço para ilusões. O hu-milde não se engana, nem engana. Sabe muito bem que por meio de uma evangelização ousada e de uma fé que opera na caridade, não deve se permitir omitir em fazer

das pessoas seguidoras do único Cristo Messias. Sem buscar atrair ou formar discípulos para si, ao máximo será, na vida das pessoas, um ponto de passagem e nunca um ponto de chegada. A desobe-diência, a presunção, o orgulho, a vaidade, a soberba e todo o triste cortejo de consequências nefastas das corrosivas ações na vida das

Pe. Marcos ChagasMissionário da Com. Católica Shalom em Quixadá/CE

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pessoas, fatalmente levá-las-á ao engano profundo.

Cada qual procure conhecer e viver no melhor dos modos e na mais vívida verdade, a missão confi ada a si por Deus. Ele nos dará tudo quanto precisamos para o exercício deste ministério-serviço. Efetivamente, lembra-nos São João: “Um homem nada pode receber a não ser que lhe tenha sido dado do céu” ( Jo 3,27). Noutras palavras, tudo recebemos do Senhor, nosso único benfeitor e supremo provedor. Esta visão de fé inspirou Santo Agostinho a dizer em suas “Confi ssões”: “Dá-me aquilo que pedes e pede-me aquilo que quiseres” (Livro X, n. 10). As criaturas, as instituições, os aconteci-mentos acabam, de um jeito ou de outro, assumindo um papel de seus ministros, seus canais e seus instrumentos a fi m de que os divinos favores ou a divina correção cheguem a nós. O zelo grande deve ser o de amar a Deus. Quem ama a Deus está sempre em vantagem, no lucro certo, na felicidade garantida. Quem no-lo assegu-ra é Paulo quando afi rma: “Tudo contribui para o bem daquele que ama a Deus” (Rm 8,28). Ninguém com isso, deve se sentir autorizado, em nenhuma hipótese, a fazer o mal, nem a se acomodar em não fazer o bem, podendo e devendo fazê-lo.

Não somos marionetes nas mãos de Deus! Ele, em sua sabedoria e providên-cia, sabe dispor de tudo e de tudo tira um bem Maior. Permanece a missão de cons-truirmos com diligência e reta intenção, o Reino de Deus.

Sim, é preciso querer, mas o querer deve ser amor e nada mais é amor senão viver a caridade da Trindade que ao revelar sua vontade, exalta ao máximo nossa liberdade e nos plenifi ca com sua eternidade!

Certamente, alegrar-se-á o amigo do esposo, ao ouvir deste esposo a voz.

Agostinho a dizer em suas “Confi ssões”: Agostinho a dizer em suas “Confi ssões”: “Dá-me aquilo que pedes e pede-me “Dá-me aquilo que pedes e pede-me aquilo que quiseres” (Livro X, n. 10). As aquilo que quiseres” (Livro X, n. 10). As criaturas, as instituições, os aconteci-criaturas, as instituições, os aconteci-mentos acabam, de um jeito ou de outro, mentos acabam, de um jeito ou de outro, assumindo um papel de seus ministros, assumindo um papel de seus ministros, seus canais e seus instrumentos a fi m de seus canais e seus instrumentos a fi m de que os divinos favores ou a divina correção que os divinos favores ou a divina correção cheguem a nós. O zelo grande deve ser o cheguem a nós. O zelo grande deve ser o de amar a Deus. Quem ama a Deus está de amar a Deus. Quem ama a Deus está sempre em vantagem, no lucro certo, na sempre em vantagem, no lucro certo, na felicidade garantida. Quem no-lo assegu-felicidade garantida. Quem no-lo assegu-ra é Paulo quando afi rma: “Tudo contribui ra é Paulo quando afi rma: “Tudo contribui para o bem daquele que ama a Deus” (Rm para o bem daquele que ama a Deus” (Rm 8,28). Ninguém com isso, deve se sentir 8,28). Ninguém com isso, deve se sentir autorizado, em nenhuma hipótese, a fazer autorizado, em nenhuma hipótese, a fazer o mal, nem a se acomodar em não fazer o o mal, nem a se acomodar em não fazer o

Messias!

Nesta voz, está a Palavra. A alegria de contemplar este Cristo que desposa a Igreja é prenúncio das núpcias eternas da feliz eternidade.

No rastro desta alegria “é necessário que ele cresça e que eu diminua” ( Jo 3,30). Desafi o grande para o orgulho humano é diminuir, apequenar-se. Sem esta humil-de disposição, a evangelização está fadada a reduzir-se a uma triste orquestração de vanglória do evangelizador. Pode até existir efi ciência e exuberância nos meios, mas a fecundidade está comprometida. Ele dará a si mesmo, ao invés de dar Cristo. Esta liberdade de saber aparecer e desaparecer, de estar aqui ou ali, de fazer esta ou aquela tarefa, não sentir-se neces-sário, mas ser disponível, tudo isso é saber diminuir. Assim, Cristo crescerá!

Sem confundir-se com o complexo de inferioridade, a humildade é uma vir-tude de maturidade humana e espiritual que leva à ousadia apostólica por crer na sublimidade da causa e sobrenaturalidade dos meios. O humilde, ao invés de olhar para si, contempla quem o chamou, ungiu e enviou. Conhecerá, valorizará e utilizará no melhor dos modos as ferramentas que Deus a ele disponibilizou. O que foi dado aos outros, bem, isso não é da sua conta. Naquilo que Deus doa e não doa, concede ou nega a cada um de nós, uma visão de fé é sempre uma inesgotável fonte de paz. Mantendo fi xo o seu olhar em Deus, ele segue rumo à meta! Seguindo os pas-sos do apóstolo Paulo, o evangelizador, vocacionado a ser também o precursor, prosseguirá para ver se alcança Cristo, pois que foi conquistado por Ele. Deste modo, esquecendo-se o que fica para trás, avançando para o que está adiante, prosseguirá para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus (cf. Fl 3,12-14).

Quem ama a Deus está sempre em vantagem, no lucro certo, na felicidade garantida. Quem no-lo assegura é

Paulo quando afi rma: “Tudo contribui para o bem daquele que ama a Deus” (Rm 8,28).”

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ATuALIDADE

“Pusemos a nossa esperança no

Deus vivo”Fazei escolhas que manifestem a vossa fé; mostrai que compreendestes as insídias da idolatria do dinheiro, dos bens materiais, da carreira e do sucesso, e não vos deixeis atrair por estas quimeras falsas. não cedais à lógica do interesse egoísta, mas cultivai o amor ao próximo e esforçai-vos por colocar a vós mesmos e as vossas capacidades humanas e profissionais ao serviço do bem comum e da verdade, sempre prontos a responder “a quem vos perguntar a razão da vossa esperança!”

Mensagem do Papa Bento XVI para a XXIV Jornada Mundial da Juventude5 de abril de 2009

Queridos amigos!Penso de novo com profunda gratidão ao Senhor no encontro que se realizou em Sidney, em

julho do ano passado: encontro inesquecível, durante o qual o Espírito Santo renovou a vida de numerosíssimos jovens que se reuniram de todo o mundo. A alegria da festa e o entusiasmo espiritual, experimentados durante aqueles dias, foram um sinal eloquente da presença do Espíri-to de Cristo. E agora estamos nos encaminhan-do para Madrid, em 2011, que terá como tema as palavras do Apóstolo Paulo: “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf. Cl 2,7). Em vista deste Encontro Mundial dos Jovens, queremos realizar juntos um percurso formativo, refletindo em 2009 sobre a afirmação de São Paulo: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1Tm 4,10), e em 2010 sobre a pergunta do jovem rico a Jesus: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10,17).

A juventude tempo da esperançaEm Sidney, a nossa atenção concentrou-se

sobre o que o Espírito Santo diz hoje aos crentes, e em particular a vós, queridos jovens. Durante

a Santa Missa conclusiva, exortei-vos a deixar-vos plasmar por Ele para serdes mensageiros do amor divino, capazes de construir um futuro de esperança para toda a humanidade. A questão da esperança está, na realidade, no centro da nossa vida de seres humanos e da nossa missão de cristãos, sobretudo na época contemporânea. Todos sentimos a necessidade da esperança, não de uma esperança qualquer, mas sim de uma esperança firme e de confiança, como eu quis ressaltar na Encíclica Spe Salvi. Em particular, a juventude é tempo de esperanças, porque olha para o futuro com várias expectativas. Quando se é jovem alimentam-se ideais, sonhos e proje-tos; a juventude é o tempo no qual amadurecem opções decisivas para o resto da vida. E talvez também por isto é a estação da existência na qual emergem com vigor as perguntas fundamentais: Por que estou na terra? Qual é o sentido do viver? Que será da minha vida? E ainda: Como alcançar a felicidade? Por que o sofrimento, a doença e a morte? O que existe depois da morte? Perguntas que se tornam insuportáveis quando devemos nos confrontar com obstáculos que por vezes parecem insuperáveis: dificuldades

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nos estudos, falta de trabalho, incompreensões na família, crises nas relações de amizade ou na construção de um entendimento conjugal, doenças ou defi ciências, carência de recursos adequados como consequência da atual difundi-da crise econômica e social. Então perguntamos: de onde haurir e como manter viva no coração a chama da esperança?

Na raiz da “grande esperança”A experiência demonstra que as qualidades

pessoais e os bens materiais não são sufi cientes para garantir a esperança da qual o coração hu-mano está em busca constante. Como escrevi na citada Encíclica Spe salvi, a política, a ciência, a técnica, a economia e qualquer outro recurso material sozinhos não são sufi cientes para ofe-recer a grande esperança que todos desejamos. Esta esperança “só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir” (n. 31). Eis

por que uma das consequências principais do es-quecimento de Deus é a evidente desorientação que marca as nossas sociedades, com consequ-ências de solidão e violência, de insatisfação e perda de confi ança que não raro terminam no desespero. É clara e forte a chamada que nos vem da Palavra de Deus: “Maldito o homem que confi a noutro, que da carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor. Assemelha-se ao cardo do deserto que, mesmo que lhe venha algum bem, não o sente” ( Jr 17,5-6).

A crise de esperança atinge mais facil-mente as novas gerações que, em contextos socioculturais privados de certezas, de valores e de sólidos pontos de referência, enfrentam difi culdades que são maiores do que as suas forças. Penso, queridos amigos, em tantos ir-mãos vossos, feridos pela vida, condicionados por uma imaturidade pessoal que muitas vezes é consequência de um vazio familiar, de opções educativas permissivas e libertárias e de expe-riências negativas e traumáticas. Para alguns e infelizmente não são poucos a saída quase obrigatória é uma fuga alienante com compor-tamentos de risco e violentos, na dependência

A experiência demonstra que as qualidades pessoais e os

bens materiais não são sufi cientes para garantir a esperança da qual o coração humano está em busca constante.

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de drogas e álcool, e em muitas outras formas de mal-estar juvenil. Contudo, também em quem se vem a encontrar em condições difíceis por ter seguido conselhos de “maus mestres”, não se apaga o desejo de amor verdadeiro e de autêntica felicidade. Mas como anunciar a esperança a estes jovens? Nós sabemos que só em Deus o ser humano encontra a sua verda-deira realização. O compromisso primário que interpela todos é portanto o de uma nova evan-gelização, que ajude as novas gerações a redes-cobrir o rosto autêntico de Deus, que é Amor. A vós, queridos jovens, que estais em busca de uma esperança firme, dirijo as mesmas palavras que São Paulo dirigia aos cristãos perseguidos na Roma de então: “Que o Deus da esperança vos encha plenamente de alegria e de paz na vossa crença, para que abundeis na esperança pela virtude do Espírito Santo” (Rm 15,13). Durante este ano jubilar dedicado ao Apóstolo das Nações, por ocasião do bimilênio do seu nascimento, aprendamos dele a tornar-nos testemunhas credíveis da esperança cristã.

São Paulo testemunha da esperança Encontrando-se imerso em dificuldades e

provações de vários tipos, Paulo escrevia ao seu fiel discípulo: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1Tm 4,10). Como tinha nascido nele esta esperança? Para responder a esta per-gunta devemos partir do seu encontro com Jesus ressuscitado no caminho de Damasco. Nessa época Saulo era um jovem como vós, com cerca de vinte ou vinte e cinco anos, seguidor da Lei de Moisés e decidido a combater com todos

os meios quantos ele considerava inimigos de Deus (cf. At 9,1). Quando estava a caminho de Damasco para prender os seguidores de Cristo, foi envolvido por uma luz misteriosa e ouviu chamar pelo nome: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Caindo por terra, perguntou: “Quem és Tu, Senhor?”. E aquela voz respon-deu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues!” (cf. At 9,3-5). Depois daquele encontro, a vida de Paulo mudou radicalmente: recebeu o Batismo e tornou-se apóstolo do Evangelho. No caminho de Damasco, ele foi interiormente transformado pelo Amor divino que encontrou na pessoa de Jesus Cristo. Um dia escreverá: “A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gl 2,20). De perseguidor, tornou-se portanto testemunha e missionário: fundou comunidades cristãs na Ásia Menor e na Grécia, percorrendo milhares de quilômetros e enfrentando toda a espécie de peripécias, até ao martírio em Roma. Tudo por amor a Cristo.

A grande esperança está em CristoPara Paulo a esperança não é só um ideal

ou um sentimento, mas uma pessoa viva: Jesus Cristo, Filho de Deus. Persuadido intimamen-te desta certeza, poderá escrever a Timóteo: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo” (1Tm 4,10). O “Deus vivo” é Cristo ressusci-tado e presente no mundo. É Ele a verdadeira esperança: Cristo que vive conosco e em nós e que nos chama a participar na sua própria vida eterna. Se não estamos sozinhos, se Ele está conosco, aliás, se é Ele o nosso presente e

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o nosso futuro, por que temer? A esperança do cristão é, portanto, desejar “o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a confi ança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (Catecismo da Igreja Católica, 1817).

O caminho rumo à grande esperança Assim como um dia encontrou o jovem Pau-

lo, Jesus deseja encontrar também cada um de vós, queridos jovens. Sim, antes de ser um nosso desejo, este encontro é um desejo profundo de Cristo. Mas alguns de vós poderiam perguntar: como posso eu, hoje, encontrá-lo? Ou também, de que modo Ele se aproxima de mim? A Igreja ensina que o desejo de encontrar o Senhor já é fruto da sua graça? Quando na oração expres-samos a nossa fé, também na obscuridade já O encontramos porque Ele se oferece a nós. A oração perseverante abre o coração para O acolher, como explica Santo Agostinho: “O Senhor nosso Deus quer que nas orações se exercite o nosso desejo, de modo que nos tor-nemos capazes de receber o que Ele pretende dar-nos” (Cartas 130, 8, 17). A oração é dom do Espírito, que nos torna homens e mulheres de esperança, e rezar mantém o mundo aberto a Deus (cf. Enc. Spe salvi, 34).

Dai espaço à oração na vossa vida! Rezar sozinho é bom, mas ainda melhor e mais proveitoso é rezar juntos, porque o Senhor garantiu que está presente onde estiverem dois ou três reunidos no seu nome (cf. Mt 18,20). Existem muitas formas de se familiarizar com Ele; existem experiências, grupos e movimentos, encontros e itinerários para aprender assim a rezar e a crescer na experiência da fé. Participai na liturgia nas vossas paróquias e alimentai-vos abundantemente da Palavra de Deus e da par-ticipação ativa nos Sacramentos. Como sabeis, ápice e centro da existência e da missão de cada crente e comunidade cristã é a Eucaristia, sacra-mento de salvação na qual Cristo se faz presente e doa como alimento espiritual o seu próprio Corpo e Sangue para a vida eterna. Mistério deveras inefável! Em volta da Eucaristia nasce e cresce a Igreja, a grande família dos cristãos, na qual se entra com o Batismo e nos renova-mos constantemente graças ao sacramento da Reconciliação. Depois, os batizados, mediante a Crisma, são confi rmados pelo Espírito Santo para viver como autênticos amigos e testemu-nhas de Cristo, enquanto os Sacramentos da Ordem e do Matrimônio os tornam preparados para realizar as suas tarefas apostólicas na Igreja e no mundo. A Unção dos enfermos, por fi m, faz-nos experimentar o conforto divino na do-ença e no sofrimento.

Para Paulo a esperança não é só um ideal ou um sentimento, mas uma pessoa viva: Jesus Cristo, Filho de Deus. Persuadido

intimamente desta certeza, poderá escrever a Timóteo: “Pusemos a nossa esperança em Deus vivo.”

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Shalom Maná | Junho/200932

Agir em sintonia com a esperança cristã

Queridos jovens, se vos alimen-tardes de Cristo e viverdes imersos nele como o apóstolo Paulo, não podereis deixar de falar dele, de O fazer conhecer e amar por tantos vossos amigos e irmãos. Tendo-vos tornado seus fiéis discípulos, sereis assim capazes de contribuir para formar comunidades cristãs im-pregnadas de amor como aquelas das quais fala o livro dos Atos dos Apóstolos. A Igreja conta convosco para esta imperativa missão: não vos desencorajem as dificuldades e as provas que encontrardes. Sede pacientes e perseverantes, vencendo a natural tendência dos jovens para a pressa, para querer tudo e já.

Queridos amigos, como Pau-lo, testemunhai o Ressuscitado! Fazei-O conhecer a quantos, vos-sos coetâneos ou adultos, estão em busca da “grande esperança” que dê sentido à sua existência. Se Jesus se tornou a vossa esperança, dizei-o também aos outros com a vossa alegria e com o vosso compromisso espiritual, apostólico e social. Ha-bitados por Cristo, depois de ter posto nele a vossa fé e de lhe ter dado toda a vossa confiança, difun-di esta esperança ao vosso redor. Fazei escolhas que manifestem a vossa fé; mostrai que compreen-destes as insídias da idolatria do dinheiro, dos bens materiais, da carreira e do sucesso, e não vos dei-xeis atrair por estas quimeras falsas. Não cedais à lógica do interesse egoísta, mas cultivai o amor ao próximo e esforçai-vos por colocar a vós mesmos e as vossas capaci-dades humanas e profissionais ao serviço do bem comum e da ver-dade, sempre prontos a responder “a quem vos perguntar a razão da vossa esperança!” (1Pd 3,15). O

cristão autêntico nunca está triste, mesmo quando tem que enfrentar provas de vários tipos, porque a presença de Jesus é o segredo da sua alegria e da sua paz.

Maria, Mãe da EsperançaModelo deste itinerário de vida

apostólica seja para vós São Paulo, que alimentou a sua vida de fé e esperança constantes seguindo o exemplo de Abraão, do qual es-creve na Carta aos Romanos: “Ele mesmo, contra o que podia esperar, acreditou que havia de ser pai de muitas nações” (Rm 4,18). Por estas mesmas pegadas do povo da esperança formado pelos profetas e pelos santos de todos os tempos nós prosseguimos rumo à realiza-ção do Reino, e no nosso caminho acompanhe-nos a Virgem Maria, Mãe da Esperança. Aquela que encarnou a esperança de Israel, que doou ao mundo o Salvador e permaneceu, firme na esperança, aos pés da Cruz, é para nós modelo e amparo. Sobretudo, Maria inter-cede por nós e guia-nos na escu-ridão das nossas dificuldades para

o alvorecer radioso do encontro com o Ressuscitado. Gostaria de concluir esta mensagem, queridos jovens amigos, fazendo minha uma bela e conhecida exortação de São Bernardo inspirada no título de Maria Stella maris, Estrela do mar: “Tu que na instabilidade contínua da vida presente, te vês mais a flu-tuar entre as tempestades do que a caminhar na terra, mantém fixo o olhar no esplendor desta estrela, se não quiseres ser aniquilado pelos furacões. Se insurgem os ventos das tentações e te encalhas entre as rochas das tribulações, olha para a estrela, invoca Maria... Nos perigos, nas angústias, nas perplexidades, pensa em Maria, invoca Maria... Seguindo os seus exemplos não te perderás; invo-cando-a não perderás a esperança; pensando nela não cairás no erro. Amparado nela não escorregarás; sob a sua proteção nada recearás; com a sua guia não te cansarás; com a sua proteção alcançarás a meta” (Homilias em louvor da Vir-gem Mãe, 2,17).

Maria, Estrela do mar, sê tu a guiar os jovens do mundo inteiro ao encontro com o teu Filho divino Jesus, e sê ainda tu a celeste guarda da sua fidelidade ao Evangelho e da sua esperança.

Ao garantir a minha recordação quotidiana na oração por todos vós, queridos jovens, abençoo de coração a vós e às pessoas que vos são queridas.

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Shalom Maná | Junho/200934

POESIA

O Senhor não faz acepção de pessoasA todos trata igualmenteTodos recebem a mesma graçaSomos chamados à sua intimidade

Aqueles que se apossam desta graçaE buscam o Senhor além do naturalEncontram-nO, experimentam seu amorAlcançam a realidade sobrenatural

Uns acordam bem mais cedoOutros almoçam bem mais rápido,Outros ainda fazem toda sorte de sacrifíciosPara poder estar com seu Senhor

Aquilo a que todos somos chamadosSer almas esposas do Filho de DeusEntrar no círculo restrito de sua intimidadeNão se consegue sendo só natural

Para receber tão grande prêmioÉ preciso não se acomodarSacrifi car algo que nos custa muitoPassar por uma muralha de fogo

É preciso buscar a oraçãoRomper com o pecadoAcolher as provações de DeusPassar por uma noite escura

Quem se contenta com o normalO equilibrado, o racional.Pode vir a fi car sem o extraordinário,O milagroso, o sobrenatural.

Pode fi car sem experimentarA doçura do amor de DeusSem escutar sua voz suave e fi rmeInsistentemente seu nome a chamar

Paulo Roberto

com DeusIntimidade

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A vOz DA IGREJA

e o bem comumDireitos, deveresO Concílio Ecumênico vaticano II diz que os cristãos “devem distinguir-se pelo exemplo, porquanto estão obrigados por consciência a desenvolver em si o senso de responsabilidade e do devotamento ao Bem Comum”. E por isso “o Sínodo vaticano exorta a todos (...) que se esmerem por formar homens que, por reflexão própria, (...) organizem suas atividades com senso de responsabilidade”.

Nos noticiários do dia-a-dia, percebe-se um fogo cruzado de acusações recípro-

cas. Muitos possuem grande acuidade em constatar as deficiências materiais e morais na administração da vida pública, esquecendo, contudo, que repetidas vezes cometemos falhas semelhantes. Todos somos, também, responsáveis pela construção do Bem co-mum. Aliás, essa tarefa compete a todos e não apenas aos que ocupam funções diretivas.

Relendo o documento conclusivo Conferência de Puebla, de 1979, “A Evangelização no presente e no futuro da América Latina”, capítulo IV, intitulado “Ação da Igreja em favor da Pessoa na Sociedade Nacional e Internacional”, encontro uma diretriz im-portante sobre o assunto. Ao falar que a Igreja “deve ser a voz daqueles que não têm voz (...) decorrência e serviço em prol da comunhão e da participação” (nº 1.268), e após enumerar os “direitos individuais, direitos sociais e direitos emergentes”, acrescenta (nº1274): “Entretanto, a Igreja também ensina que o reconhecimento desses direitos supõe e exige sem-pre, ‘no homem que os possui, outros tantos deveres. Direitos e deveres encontram na lei natural que os outorga ou impõe, sua origem, seu sustentáculo e sua força indestrutível’” (Pacem in Terris, nº 28).

Nós todos somos indulgentes conosco e severos com o próximo. Essa tendência é tão antiga e generali-zada que se encontra retratada na frase do Evangelho:

Uma atitude pessoal

verdadeiramente evangélica nos faz observar os

deveres a serviço de Deus e da pátria

e não apenas exige direitos.

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Shalom Maná | Junho/200936

Cardeal Dom Eugenio SalesArcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro/RJ

“Por que olhas o cisco no olho do teu irmão e não percebes a trave que há no teu (...) Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás bem, para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6,41-42).

Aplicando esse texto à nossa vida, duas questões devem ser levantadas, quando afirmamos alguém, simples cidadão ou homem público, ser desonesto: primeiro a validade da assertiva, pois há um orde-namento de Deus que proíbe o falso julgamento e a calúnia; segundo, se, ao acusar, estamos isentos de falhas semelhantes. Por exemplo, será que pagamos o imposto devido? Caso contrário, também espoliamos a coletividade de recursos destinados ao bem comum. Uma dívida por nós contraída e não saldada é uma apropriação indébita: a justificativa da inexistência de meios para solver compromissos é enganosa, quando se deixa de suprimir o não-essencial à sobrevivência. E isso ocorre por falta de sensibilidade para com o cum-primento de nossas obrigações. Há os que clamam justamente por direitos e outros o fazem por querer abafar a consciência perante a omissão dos próprios deveres. Estas deformações prejudicam a comunidade e, por isso, se equiparam a uma iniquidade similar aos que administram mal os assuntos referentes ao Estado. Isto não exclui a afirmação de que o abuso é tanto mais grave no âmbito político quanto maior for o alcance coletivo de seus malefícios.

O Concílio Ecumênico Vaticano II diz que os cristãos “devem distinguir-se pelo exemplo, porquanto estão obrigados por consciência a desenvolver em si o senso de responsabilidade e do devotamento ao Bem Comum” (Gaudium et Spes, nº 75). E por isso “o Sínodo Vaticano exorta a todos (...) que se esmerem por formar homens que, por reflexão própria, (...) organizem suas atividades com senso de responsabi-lidade” (Declaração Dignitatis Humanae, nº 8).

Existem razões para esta advertência, pois “não poucos, por diversas formas de fraude e de dolo, não têm escrúpulo de sonegar os impostos justos ou outras contribuições devidas à sociedade. (...) Que todos considerem como sagrada obrigação enumerar as

relações sociais entre os principais deveres do homem de hoje e observá-las” (Gaudium et Spes, nº 30).

Na apreciação das sombras e luzes da realidade em que nos encontramos, há dois elementos valiosos e indis-pensáveis: as diretrizes oriundas dos princípios expostos pela Igreja em nome do Evangelho, pois ela tem o direito de “emitir juízo moral, também sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exigem os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas” (Gaudium et Spes, nº 76). O outro é o questionamento de nossa conduta. Diz o Concílio: “É preciso lembrar o dever de prestar à nação os serviços materiais e pessoais exigidos pelo Bem comum” (Gaudium et Spes, nº 75).

Com que autoridade moral um pai ou uma mãe de família, que é infiel na observância de suas obrigações, inclusive a fidelidade conjugal, pode recriminar a fraude cometida por quem fere a Ética em suas tarefas admi-nistrativas? Soa hipócrita o protesto feito diante dos desvios na aplicação do dinheiro público, se tal reação parte de alguém que afronta com o esbanjamento e o luxo desmedido a miséria de irmãos que vivem ou tentam sobreviver na mesma coletividade. Na verdade, as deficiências de uma conduta não impedem a fisca-lização das falhas existentes na condução da vida po-lítica de um país. Contudo, os desmandos particulares invalidam ou enfraquecem essas críticas.

Os descalabros financeiros merecem enérgica re-provação. Esta, entretanto, não exclui esse exame de consciência. Pelo contrário, exige-o em nome de uma autenticidade que caracteriza o verdadeiro cidadão. Tais considerações não absolvem os erros cometidos pelos dirigentes, mas abrangem, na solução dos mesmos, todos que, por pertencerem à mesma nação, estão igual-mente comprometidos na superação dos problemas.

O profundo amor à Verdade nos possibilita sobre-viver ao torvelinho que brota das paixões. Uma atitude pessoal verdadeiramente evangélica nos faz observar os deveres a serviço de Deus e da pátria e não apenas exige direitos. Uma luta autêntica questiona sempre a execução das diretrizes corretas e justas na vida priva-da e social, sabendo que nunca será uma obra acabada, mas uma busca sempre nova que envolve cada geração (cf. Papa Bento XVI, Spe Salvi, 25).

Com que autoridade moral um pai ou uma mãe de família,

que é infiel na observância de suas obrigações, inclusive a fidelidade conjugal, pode recriminar a fraude cometida por quem fere a Ética em suas tarefas administrativas?”

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PAPO JOvEM

Os livros da série “Crepúsculo” já venderam mais de 25 milhões de cópias em todo o mundo, com traduções em 37 línguas. Assim como a saga Harry Potter, Crepúsculo também tem como inspiração o ocultismo e têm atingido uma quantidade enorme de adolescentes, principalmente garotas.

Carmadélio SouzaMissionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

Numa noite de verão de junho de 2003, enquanto dormia com o marido e os três fi lhos em sua casa no subúrbio de Phoenix, nos Estados Unidos,

Stephenie Meyer, então com 29 anos, sonhou com o encontro romântico entre uma adolescente e um vampiro num anoitecer chuvoso. Na manhã seguinte, segundo seu relato, deixou de ser uma típica dona de casa para se tornar escritora.

Em três meses, escreveu as 416 páginas de “Cre-púsculo”, primeiro de quatro volumes da saga, maior fenômeno literário desde Harry Potter, o “menino bruxo”.

Nos livros da saga, a fórmula de Stephenie é con-verter histórias de terror em romances adocicados. Seus vampiros não têm dentões pontiagudos, não mordem e não há sangue no canto da boca. A ação é desacelerada para dar lugar ao drama humano que conduz à narrativa. Tudo apimentado pela tensão erótica velada entre os dois personagens.

Os livros da Série “Crepúsculo” já venderam mais de 25 milhões de cópias em todo o mundo, com traduções em 37 línguas diferentes. Assim como a saga Harry

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O problema de obras como essa e como Harry Potter é o rompimento da luz e das trevas. Não existe mais a separação do mundo sobrenatural e natural, tudo é uma coisa só; verdade e mentira não existem, é minha “crença e o uso desta crença” que faz as coisas serem boas ou más.

tanto sucesso revela o que nós já sabemos: os jovens têm sede de Deus, embora procurem em lo-cais tão variados, como as drogas, participação em tribos exóticas ou leituras como essa.

Por outro lado percebe-se a superação da fronteira que antiga-mente existia entre o bem e o mal, aquela fronteira que tínhamos de forma mais ou menos clara quando éramos crianças, que nos protegia, mesmo que mais por medo do que por convicção cristã.

O relativismo tem comprome-tido o sentido da verdade e tem conduzido a juventude a buscar experiências esvaziadas de sentido “mas que emocionam” e que pren-dem pelo suspense e aventura.

É verdade que a grande maioria não vê nenhum problema em uma obra de fi cção que tem como per-sonagem um “vampiro”, até porque, como ouvi em recente pregação sobre o assunto de algumas jovens, que me cercaram pós ensino: “Vam-piro não existe… é só um roman-ce… todo mundo tá lendo...”

A autora é americana, mórmon, casada com um pastor desta deno-minação não cristã. Sua a obra é mais uma que vai na mesma dire-ção de negar o mal do ocultismo

Potter, Crepúsculo também tem como inspiração o ocultismo e têm atingido uma quantidade enorme de adolescentes, principalmente garotas.

Esse fenômeno nos deixa re-fl exivo: o fato de uma obra que mexe com o sobrenatural fazer

É verdade que a grande maioria

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esvaziando-o de religiosidade e apresentando personagens simbo-licamente e culturalmente associa-dos a ocultismo, como vampiros e lobisomens, quase humanos, que interagem com personagens nor-mais e que amam!

Na pregação citada acima, per-guntei aos jovens se eles sabiam quem eram os vampiros e a maioria não sabia. Perguntei-lhes porque os vampiros não suportam a luz nem símbolos cristãos como o crucifi xo, porque dormem de dia e saem só à noite. Porque dormem em caixões mortuários. Nenhum sabia.

Pela perca do sentido da fé, isso não tem nenhuma importância para a maioria dos jovens. Não faz muita diferença que existam tribos de jovens identificados com os vampiros, que existam hoje espe-cialistas em vampiros, veja: http://www.contonoturno.hpg.com.br/entrevista/robertogoldkorn.html. Que, paralelamente à compreensão sensata de que, de fato, os vampiros sejam fi guras mitológicas, existe também, de fato, o tal do “vampi-rismo real”, vivenciado por pessoas que “se descobrem vampiros”, que gostam de sangue. E o bebem!

Se tiver estômago, coloque no Google “vampirismo real” e encontrará 808 mil respostas! É inacreditável, porém REAL! Se quiser ler algum link, prepare-se!

Esse “glamour” por vampiros é demoníaco e um jovem verdadeira-mente cristão não pode nem deve perder seu tempo lendo “Crepúscu-lo”, embora não exista nada demais em ler algumas obras de ficção, desde que fi que clara a separação da verdade e da mentira e que não mexam com realidades associadas ao Mal, de forma tão explicita ou não neguem positivamente os valo-res de nossa cultura cristã.

A visão mais antiga dos vampi-ros, no nosso tempo de criança, era

mais “honesta”, pois falava dessas fi guras míticas, morando em caste-los europeus, (hoje eles são ameri-canos, “fi lhos” da matriz cultural do mundo, exportadora de halloweens e conceitos anti evangélicos) eram seres malignos, porém sempre der-rotados no fi nal, pela força da cruz ou da estaca no peito. Tínhamos medo! Os vampiros de hoje, pelo menos os da TV e cinema não ge-ram medo. Não são maus…

O problema de obras como essa e como Harry Potter é o rompi-mento da luz e das trevas. Não existe mais a separação do mundo sobrenatural e natural, tudo é uma coisa só; verdade e mentira não existem, é minha “crença e o uso desta crença” que faz as coisas serem boas ou más.

No caso do Harry Potter, por exemplo, os seus defensores dizem que a bruxaria no fi lme tem dois la-dos e que a questão não é a bruxaria, mas é o uso da bruxaria que a torna boa ou má, esquecendo que a bru-xaria, intrinsecamente é um conceito mau, anti evangélico, mesmo que se tenha a intenção de usá-la para o bem, já que, sabemos, o fi m bom não justifi ca o uso de um meio mal.

Crepúsculo é apresentado den-tro de um romance, muito bem escrito, que enriquece a autora e

empobrece os leitores. A luz e as trevas são uma coisa só, não existe mais a fronteira defi nida, funda-mental para um posicionamento crítico e cristão.

É engraçado que para o mundo de hoje ter conceito sobre a verdade e mentira é visto sempre como um sinal de “pré“ conceito ou exagero. Em um mundo onde a “verdade” vai de um lado para o outro segun-do as conveniências, ter fi rmeza de opinião é ser “fanático”.

Na realidade, como cristãos, precisamos ter conceitos defi nidos e claros, alicerçados na revelação, nas Sagradas Escrituras e no Ma-gistério da Igreja. Não podemos ser vítimas fáceis das modas de “Potter´s” – já sendo esquecido, porém deixando o rastro de aber-tura para “Crepúsculos e afi ns”.

Talvez até, para quem nos ler, o assunto “vampirismo” pareça marginal. Entretanto, faça uma experiência e coloque no Google a palavra “vampiro” e você verá três milhões e oitocentos mil resul-tados de busca com essa palavra. Se somar “vampiros reais” com “vampiros imagens” teremos mais de seis milhões de resultados. O termo “vampiro” tem mas resul-tados no Google do que o termo “Jesus Cristo”, com três milhões trezentos e quarenta mil!

E nossos jovens, o que fazer? Bem... Eles estão à procura... São belos em sua busca da verdade, precisam que lhes apresentem Jesus Cristo como resposta para os seus anseios de eternidade e de sentido.

São pegos pela cultura circun-dante, que os atingem no vazio da ausência de formação cristã; de nossas famílias que pecam pela ignorância e de nossa incapacidade de acompanhar “as novidades”, não tão novas assim, deste mundo, que continua caminhando desorienta-do em busca da verdade.

Crepúsculo é apresentado

dentro de um romance, muito bem escrito, que enriquece a autora e empobrece os leitores. A luz e as trevas são uma coisa só, não existe mais a fronteira defi nida, fundamental para um posicionamento críticoe cristão.”

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ESPIRITuALIDADE

Por que os cristãos acre-ditam na Trindade? Já não é bastante difícil crer que existe Deus,

para podermos aí então, acrescen-tarmos o enigma de que é “Uno e Trino”? Frequentemente aparecem aqueles que deixariam de lado a Trindade, também para poder assim dialogar melhor com judeus e muçulmanos, que professam a fé em um Deus rigidamente único.

A resposta é que os cristãos acreditam que Deus é trino porque creem que Deus é amor! Se Deus é amor, deve amar alguém. Não exis-te um amor vazio, sem ser dirigido a ninguém. Interrogamos-nos: a quem ama Deus para ser definido amor? Uma primeira resposta po-deria ser: ama os homens! Mas os homens existem há alguns milhões de anos, não mais. Então, antes, a

quem amava Deus? Não pode ter começado a ser amor desde certo momento, porque Deus não pode mudar. Segunda resposta: antes de então amava o cosmos, o universo. Mas o universo existe há alguns milhões de anos. Antes de então, a quem amava Deus para poder ser definido como amor? Não pode-mos dizer: amava a si mesmo, por-que amar a si mesmo não é amor, mas egoísmo, ou, como dizem os psicólogos, narcisismo.

Está aqui a resposta da reve-lação cristã. Deus é amor em si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre tem em si mesmo um Filho, o Verbo, a quem ama com amor infinito, que é o Es-pírito Santo. Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama um que é amado e o amor que os une. Ali onde Deus

é concebido como poder absoluto, não existe necessidade de mais pessoas, porque o poder pode ser exercido por um só; mas não é assim se Deus é concebido como amor absoluto.

A teologia tem-se servido do termo natureza, ou substância, para indicar em Deus a unidade, e o termo pessoa para indicar a distinção. Por isso, dizemos que nosso Deus é um Deus único em três pessoas. A doutrina cristã da Trindade não é um retrocesso, um pacto entre monoteísmo e politeísmo. Ao contrário: é um passo adiante que só o próprio Deus poderia fazer que a mente humana desse.

A contemplação da Trindade pode ter um precioso impacto em nossa vida humana. É um mistério de relação. As pessoas divinas são

das belas relações humanasTrindade revela o segredoA contemplação da Trindade pode ter um precioso impacto em nossa vida humana. é um mistério de relação. As pessoas divinas são definidas pela teologia como “relações subsistentes”. Significa que as pessoas divinas não têm relações, mas que são relações.

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definidas pela teologia como “rela-ções subsistentes”. Significa que as pessoas divinas não têm relações, mas que são relações. Os seres humanos têm relações – entre pai e filho, marido e mulher... –, mas não nos esgotamos nestas relações; existimos também fora e sem elas. Não é assim com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A felicidade e a infelicidade na terra dependem em grande medida, sabemos, da qualidade de nossas relações. A Trindade nos revela o segredo para ter belas relações. O que faz bela, livre e gra-tificante uma relação é o amor em suas diferentes expressões. Aqui se vê quão importante é contemplar a Deus antes de tudo como amor, não como poder: o amor doa, o po-der domina. O que envenena uma relação é querer dominar o outro,

possuí-lo, instrumentalizá-lo, em vez de acolhê-lo e entregar-se. Devo acrescentar uma observação importante. O Deus cristão é uno e trino! Esta é, portanto, desta forma, a solenidade da unidade de Deus, não só por ser trino! Nós, cristãos, também cremos “em um só Deus”, só que a unidade na qual cremos não é uma unidade de número, mas de natureza. Parece mais a unidade da família que a do indivíduo, mais a unidade da célula que a do átomo.

A primeira leitura da Soleni-dade nos apresenta o Deus bíblico como “misericordioso e clemen-te, lento para a cólera e rico no amor e na fidelidade”. Este é o traço que mais reúne o Deus da Bíblia, o Deus do Islã e o Deus (melhor dito, a religião) budista, e que se presta mais, por isso, a

um diálogo e a uma colaboração entre as grandes religiões. Cada sura do Alcorão começa com a invocação: “Em nome de Deus, o Misericordioso, o Compassivo”. No budismo, que desconhece a ideia de um Deus pessoal e cria-dor, o fundamento é antropológi-co e cósmico: o homem deve ser misericordioso pela solidariedade e a responsabilidade que o liga a todos os viventes. As guerras santas do passado e o terrorismo religioso do presente são uma trai-ção, não uma apologia, da própria fé. Como se pode matar no nome de um Deus ao qual se continua proclamando “o Misericordioso e o Compassivo”? É a tarefa mais urgente do diálogo inter-religioso que juntos, os fiéis de todas as religiões, devem buscar a paz e o bem da humanidade.

Raniero Cantalamessa, OFM CapPregador da Casa Pontifícia

A felicidade e a infelicidade na terra dependem em grande

medida, sabemos, da qualidade de nossas relações. A Trindade nos revela o segredo para ter relações belas. O que faz bela, livre e gratificante uma relação é o amor em suas diferentes expressões.”

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ACOnTECE nO MunDO

Numerosos es-tudos indicam há anos : a

China vive um “despertar das religiões”. Um artigo recentemente publicado pelo jornal católico “Xin-de” (“A fé”), citado por Eglises d’Asie, informa que a Igreja Católica não se mantém à margem desta tendência e indica que o número de batismos está em alta, dado que a Igreja sabe mostrar-se empreendedora no campo da evangelização.

Onde as catástrofes naturais, tais como o ter-remoto de Sichuan, fazem estragos, o número de

22.308 novos católicosna China desce o começo do ano

catecúmenos está também em crescimento.

Em um artigo publicado em 22 de abril, Xinde, que se edita em Shijiazhuang (Hebei), indica que, desde

o começo deste ano, 22.308 pessoas foram batizadas na fé católica na China.

Este cálculo recolhe dados proporcionados por 90 das 97 dioceses da

parte “oficial” da Igreja e, portanto, não leva em conta os batismos admi-nistrados na parte “clan-destina” da Igreja.

O número de batiza-dos aumentou este ano cerca de 40% em compa-ração com os números do ano passado.

Concretamente, pa-rece estranho que uma catástrofe natural, como o terremoto que arrasou uma parte de Sichuan, em maio de 2008, contribua para levar novos fiéis à Igreja. Mas o jornal informa que, com 390 batizados, o nú-mero de novos católicos se duplicou neste ano na diocese de Chengdu.

Na diocese vizinha de Chongging, também duramente atingida pelo sismo, foram realizados 1.400 batismos na Páscoa, o que supõe um número três vezes superior ao do ano passado.

Este cálculo recolhe dados proporcionados por 90 das 97 dioceses da parte “oficial” da Igreja e, portanto, não leva em conta os batismos administrados na parte “clandestina” da Igreja.

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A Santa Sé de-nunciou que neste momen-

to acontece uma nova corrida de armamentos nucleares e exigiu a apli-cação do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

Porta-voz da posição vaticana foi o arcebis-po Celestino Migliore, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, ao intervir nesta terça-feira em um Co-mitê de preparação da Conferência de Revisão desse Tratado que a ONU realizará em 2010.

Depois de quatro déca-das de vida “e de bons servi-ços à comunidade interna-

O Congresso dos Teólogos de Roma reco-

nheceu no dia 22 de abril um milagre pela inter-cessão da venerável serva de Deus Bárbara Maix, religiosa austríaca que viveu no Brasil; informa a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Trata-se da cura do menino Onorino Ecker, quatro anos. Segundo a CNBB, a comissão foi unânime em reconhecer esta ação como milagro-sa, uma etapa decisiva no processo de beatificação.

Reconhecido milagre pelaintercessão de Bárbara Maix

Santa Sé denuncianova corrida armentista nuclear

os valores duradouros são tão desacreditados, onde tudo é provisório; como modelo de vida religiosa consagrada que ilumina a vida da Igreja e nos ser-ve de exemplo na busca da verdadeira santida-de”, afirmam as freiras da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.

Bárbara Maix é fun-dadora da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Nas-ceu em Viena, na Áustria, em 27 de junho de 1818.

Colaborou no acolhimen-to aos pobres, desenvolveu intensas atividades sociais no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, atendendo o clamor dos mais neces-sitados.

“Os teólogos apre-sentam a serva de Deus Bárbara Maix como mo-delo de vida e virtude para um mundo no qual

Segundo a CnBB, a comissão foi unânime em reconhecer esta ação como milagrosa, uma etapa decisiva no processo de beatificação.

cional – declarou o núncio apostólico –, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares continua sendo a pedra angular do desarmamento nuclear e da não proliferação de regimes nucleares, assim como um instrumento chave para fortalecer a paz e a segu-rança internacionais”.

A Santa Sé reafirma seu firme e contínuo apoio ao Tratado e faz um convi-te a uma adesão universal e completa, assim como a seu cumprimento.

À luz de seu valor e importância, o Tratado constitui um urgente ape-lo a todos os Estados a unirem esforços para al-cançar um mundo limpo de armas nucleares.

A Santa Sé também fez na ONU um convite aos Estados que contam com armas nucleares a assumirem uma valente li-derança e responsabilidade política, salvaguardando a integridade do Tratado e criando um clima de confiança, transparência e

autêntica cooperação, com o objetivo de realizar con-cretamente uma cultura da vida e da paz.

Em um esforço por estabelecer prioridades e uma hierarquia de va-lores em seu justo lu-gar, deve-se realizar um maior esforço comum para mobilizar os recur-sos para um desenvolvi-mento ético, cultural e econômico, de maneira que a humanidade possa dar as costas à corrida armamentista.

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DIvIRTA-SE

HORIZONTAIS1- A mãe de Jesus (Lc 1,26-27)2- Primeira cristã de Filipos (At 16,14)3- Rainha que salvou os judeus (Est 2,7)4- Mãe de João Batista (Lc 1,36)5- Mãe de José e Benjamin (Gn 35,24)6- Encontrou Jesus no poço de Sicar (Jo 4,9)7- Ela servia a Jesus com seus bens (Lc 8,3)8- Mãe de Salomão (2Sm 12,24)9- Derrotou Holofernes (Jt 13,10)10- Irmã de Lázaro e Marta (Jo 11,1)11- Mãe de Samuel (1Sm 1,20)12- Juíza em Israel (Jz 4,4)13- Mãe de Tiago e João (Mt 27,56; Mc 15,40)

VERTICAIS1- Primeira a ver o Ressuscitado (Jo 20,16)2- Escrava de Sara, mãe de Ismael (Gn16,15)3- Mãe de Isaac (Gn 21,3)4- Profetisa de Jerusalém (Lc 2,36)5- Mulher de Isaac (Gn 25,16)6- A amada nos Cânticos (Ct 7,1)7- Profetisa, irmã de Aarão (Ex 15,20)8- Esposa de Áquila (At 18,2)9- Irmã de Maria e Lázaro (Jo 11,1)10- Esposa de Joaquim salva por Daniel (Dn 13,65)11- Esposa de Booz e avó de Davi (Rt 4,13.17)12- Primeira esposa de Jacó (Gn 29,23)13- Mãe dos viventes (Gn 3,20) Horizontais1. Maria de nazaré/ 2. Lidia/ 3. Ester/ 4. Isabel/ 5. Raquel/ 6. Samaritana/ 7. Joana/ 8. Betsabeia/9. Judite/ 10. Maria de Betania/ 11. Ana/ 12. Débora/ 13. Salomé.Verticais1. Maria Madalena/ 2. Agar/ 3. Sara/ 4. Ana/ 5. Rebeca/ 6. Sulamita/ 7. Maria/ 8. Priscila/ 9. Marta/10. Suzana/ 11. Rute/ 12. Lia/ 13. Eva.

Um m o n g e e seus discípu-l o s i a m p o r uma estrada

e, quando passavam por uma ponte, viram um es-corpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem, to-mou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e

o salvou. Voltou o monge e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assis-tido à cena e o receberam perplexos e penalizados.

– Mestre, deve estar muito doente! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogas-se! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda, picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!

O monge ouviu tran-quilamente os comentários e respondeu:

– Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha.

O mongemordido Bruno, de oito anos de idade, é o fi lho protegido de um ofi cial nazista cuja promo-

ção leva toda família a deixar sua confortável casa em Berlim para seguir para uma área desolada onde o menino solitário não tem o que fazer e nem com quem brincar. Muito entediado e movido pela curiosidade, Bruno ignora as insis-tentes recomendações da mãe de não explorar o jardim dos fundos e segue para a fazenda que ele viu a certa distância. Lá ele encontra Shmuel, um menino da sua idade que vive uma existência paralela e diferente do outro lado da cerca de arame farpado. O encontro de Bruno com o menino do pijama listrado o leva da inocência a uma profunda refl exão sobre o mundo adulto ao seu redor conforme seus encontros com Shmuel se transformam em uma amizade com conseqüências devastadoras.

Horizontais

por José Ricardo Ferreira Bezerra

Mulhres de destaque na Bíblia

Filme:O Menino doPijama Listrado

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Ana, Simeão e a JuventudeMas quem foram estes dois discretos personagens, anciãos, servos bons e fi éis, quem sabe amigos de longa data, no templo em Jerusalém, têm nos braços o Menino Jesus?

Não creio que encontremos no Brasil um jovem que se chame Simeão, ou mesmo alguém que de este nome a um fi lho, pois, este personagem bíblico citado

somente em S. Lucas (capítulo 2, 22-40), era um an-cião. Simão até vai, por causa de S.Pedro, mas Simeão é nome de velho. Ana não fi cou com a mesma fama, e continua sendo um nome belíssimo e muito popular em todas as culturas e idiomas. Esta senhora bastante idosa em seus 84 anos, testemunha uma rara longevidade, principalmente tratando-se da Antiguidade, servia a Deus noite e dia, nos falam as Escrituras.

Mas quem foram estes dois discretos personagens, anciãos, servos bons e fi éis, quem sabe amigos de longa data, no templo em Jerusalém, têm nos braços o Menino Jesus? O que podemos com eles aprender, além do evidente louvor, fruto de vida de oração, e da fé nas promessas do Senhor, em suas palavras? Quem são esses dois que abordam José e Maria nos átrios do templo e reconhecem na criança recém-nascida o Messias que havia de vir?

Quem nos falou a respeito foi o biblista Gregorio Vivaldelli, nosso amigo e irmão, da comunidade irmã Shalom de Riva del Garda na Itália, na festa da Apre-sentação de Jesus no Templo, no dia 2 de fevereiro, em Nazaré, na Terra Santa.

Ana em sua velhice representa todos os estados de vida que servem o Senhor, em oração, à espera do Senhor que vem, nos ensinou o Gregório. Ela repre-senta todas as faixas etárias e estados civis, acrescento eu, pois o evangelista faz questão de dizer que ela era viúva. E quantas milhares de mulheres viúvas,

separadas, divorciadas reconstroem a própria vida ‘nos átrios do templo’, na vida comunitária, paroquial, nos apostolados?

Ana nos ensina o valor de encontrar Jesus, nas rea-lidades ordinárias da missão cotidiana de nossas vidas. Reconhecer Jesus onde Ele está e onde Ele se esconde. Se Ana não tivesse esta sensibilidade espiritual dada pelo Espírito Santo e pelo contato com os profetas, com a Palavra de Deus, não reconheceria o Menino no braço de sua Mãe, pois Maria e José eram um casal igual a todos os outros que passavam pelo templo em meio à multidão. Quem já teve a alegria de ir à Jerusalém sabe como aquele espaço é imenso e se não fosse pelo Espírito Santo eles passariam despercebidos. Mas Ana reconheceu Jesus e o teve em seus braços, diante de seus olhos. Deve tê-lo abraçado e dado “um cheir”’ contemplando-o com toda ternura e emoção. Ela sabia que carregava e via o Libertador da humanidade!

Já Simeão além de erguer a voz em ação de graças, testemunhando publicamente sua fé e amor pelo Senhor, e de profetizar o que aconteceria aos pais daquela criança, em especial à Virgem Imaculada, nos aponta um outro caminho surpreendente: o da esperança e da confi ança nas novas gerações! Disse-nos o Gregório que “o Evan-gelho nos transmite toda a comovente confi ança de um homem ancião no pequeno Jesus. Essa imagem que nos é apresentada na festa da Apresentação do Senhor é verdadeiramente bela, mais ainda se considerarmos com que facilidade ao longo da história adultos e anciãos consideram os jovens como motivo de lamentação”. E para ilustrar, nosso amigo biblista nos surpreendeu com algumas citações que pareciam ter sido colhidas das conversas que circulam nas escolas,

EnTRELInHASpor Elena Arreguy Sala | Missionária da Comunidade Católica Shalom em Haifa – ISRAEL

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Shalom Maná | Junho/200946

nas ruas, nas famílias e em quase todos os ambientes e publicações na atualidade, preocupadas e afl itas com a juventude, e não há centenas de anos atrás:

“A juventude agora um triste lixo. Não tem mais uma gota de bom humor e não faz outra coisa a não ser protestar”1.

“Nossa juventude vive na abundân-cia, no luxo. Mal educada, despreza toda autoridade e não demonstra qualquer respeito pelos mais velhos. Nossos fi lhos são verdadeiros egoístas que frequente-mente se rebelam contra os pais” 2.

“Não há mais nenhuma esperança para o futuro do nosso país quando a ‘desmiolada’ juventude de hoje tiver o poder em mãos, no amanhã. Esta juventude é indomável, sem freio e presunçosa”3.

“O nosso mundo chegou a uma situação crítica. Os fi lhos escarnecem seus pais, são insubordinados é só querem se divertir”4.

“A nossa juventude está corrompida até a medula e é muito pior que as ge-rações passadas, esta juventude não terá condições de salvar nossa cultura”5.

A assembléia de consagrados reunida em Nazaré se sentiu apanhada, rindo meio sem graça, se reconhecendo na murmuração e no temor perante a juventude do século XXI. Fazemos hoje a mesma coisa que faziam ou fazem os pagãos! Os santos como S.João Bosco e o amadíssimo servo de Deus Papa João Paulo II nunca temeram a juventude e deposita-

ram sobre ela toda a sua esperança, vendo-a com os olhos da esperança e do amor, do potencial a ser desa-brochado e formado.

O mesmo podermos dizer do nosso também amado e respeitado fundador, Moysés Azevedo, que sendo jovem ofertou sua juventude aos pés de João Paulo II em 9 de ju-lho de 1982, para evangelizar outros jovens levando-os a conhecer Jesus Cristo, o Shalom do Pai, o Ressusci-tado que passou Cruz, a única fonte da verdadeira alegria, paz e sentido de vida. Em suas próprias palavras, na Carta escrita à Comunidade na Páscoa de 2005, na introdução, refere-se aos jovens com estas pala-vras: “Saúdo em particular os jovens, alegria de Deus e minha”.

Quem conhece Jesus não teme a juventude, mas, passa a amá-la como Ele ama. Ao colocarem o Menino nos braços e louvarem a Deus, Ana e Simeão nos ensinam a colocar Nele a confi ança, guardan-do um olhar positivo sobre a reali-dade, pois Deus se fez criança. Há esperança para o futuro exatamente por causa dos jovens, das novas gerações. Acrescenta o Gregorio:

“Não se trata de nos tornarmos pessoas iludidas e incapazes de reconhecer o drama que cerca a vida de milhões de jovens, na violência desconcertante, nas drogas, na banalidade viciante da internet, na vida sem sentido, ou no vazio dos ídolos escolhidos como modelo da existência”.

Jesus e Maria ao apresentarem o Menino no templo nos apresentam Nele a novidade que está presente na vida de cada criança e jovem. Um velho e uma anciã abraçam um bebê, mas naquele Menino abraça o futuro, o futuro de suas vidas doa-das a Deus! A esperança é pequena como é pequena cada criança, porém é uma esperança fecunda de vitali-dade e de potencialidade. Simeão e Ana se alegram porque alguém vem depois deles e continuará a obra que eles começaram. Tem a coragem de se alegrar com a própria decadência que dá espaço ao novo, ao que vem a seguir. E isso não é fácil, ‘deixar que o velho que há em nós acolha o Menino’, ou o menino, ou seja, tudo aquilo que é novo e que Deus nos apresenta, muitas vezes de maneira imprevi-sível e inesperada, no tumulto dos átrios por onde nossas vidas passam e por onde tantos passam também por nós.

Contato com autora:[email protected]

Notas:1 Walter von Vogelweide, 1200 d C2 Sócrates, 420-395 a C3 Esíodo, 720 a C4 Hieróglifo de 2000 a C5 Escrito cuneiforme de 3000 a C

Ana nos ensina o valor de encontrar

Jesus, nas realidades ordinárias da missão cotidiana de nossas vidas. Reconhecer Jesus onde Ele está e onde Ele se esconde.”

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