lapada poética zine
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Fanzine colaborativo; Data de publicação: Dez/11 Gênero: poesiaTRANSCRIPT
Ano 1, nº 1
POESIA
Caro leitor,
Você tem aqui o zine “Lapada Poética”, que
surgiu da vontade de circular os textos de
alguns participantes das oficinas de poesia do
Projeto Tantas Letras!. 2011.
Aproveitando a filosofia do “faça você mesmo”,
e com o desejo de ter uma produção palpável,
colocamos agora nas suas mãos um trago de
poesia, uma bofetada estonteante, sem contra-
indicações, mas cheio de efeitos colaterais.
Esperamos não parar nesta primeira edição.
Tome uma!
Decepção
Você chegou inesperadamente...
Me trouxe promessas e esperanças de felicidades,
de realizações
Meus olhos brilhavam...
Prometeu diversão, conforto, viagens...
Uma vida melhor, alegria...
Um mundo de coisas boas e agradáveis
Enfim, um pequeno paraíso particular...
E eu acreditei nas suas promessas
Mas fui iludido por você
Sim, obtive muito do que você prometeu
Mas hoje você me cobra caro por tudo o que me
proporcionou
E sempre vem sua lembrança, que me persegue
cada vez mais feroz
Fico angustiado quando apareces na minha vida
Quando me manda suas cartas...
Perco o sono, perco o apetite, perco a paz...
Mas um dia ainda te parto no meio
Maldito cartão de crédito!
Fábio Rodrigues do Nascimento
A ODE
Eras minha e confesso jamais imaginá-la Em braços de outrem Cada sentido Tomada de ti remete-me à um canto Terreno e triste Neste chão plantei o que há de mim Corremos juntas Tornamos paisagem Parceiras de travessas - Cúmplices de travessuras- bem sabes que cresci E você ainda mais -Cidade amiga! Agora nos rasgamos Em duas partes, somente Digamo-nos Adeus -Não, fique. quanto a mim Fujo Para tornar-me estranha.
Jémina Diógenes
A NÁUSEA TEM ETAPAS?
A primeira etapa é um trator sobre a sua cabeça.
Todos os rostos são os de Francis Bacon.
Todos os andares são os de Nosferatu.
Todos os balançares de cabelo são os da Medusa.
Todas as gesticulações são as de Alien.
Todas as palavras são as de Augusto dos Anjos.
Todos os sons são os da ambulância.
Todos os cheiros são os do esgoto.
Da segunda etapa em diante o choque já não vem mais,
[apesar do horror aumentar e ficar agudo.
A boca ainda está cheia de dentes?
A cabeça ainda tem fios?
As mãos ainda carregam o fardo?
Os pés ainda suportam tudo?
As narinas ainda puxam o veneno?
Os olhos ainda não se fecharam?
O sexo ainda reverbera?
Graças a Deus, assim veio o silêncio milagroso.
Graças a Deus, assim veio o cheiro de flores.
Graças a Deus, assim veio a cera chorosa das velas.
Graças a Deus, assim veio o alívio da Morte.
Elaine Camilo
ATEMPORAL
A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra
(Eduardo Galeano)
De Cabral a Obama Da Família Real a Eike Batista Atemporal submissão massiva ao Capital e seus dominados dominantes
De Portugal à multinacional Do roubo do Pau-Brasil ao roubo da Vale
Atemporal exploração destrutiva da terra rica
a seu povo pobre
De Pero Vaz a William Bonner Dos jesuítas ao God-business Atemporal manipulação massiva Uns escravizam quando escrevem Outros em seu Santo Nome vão escravizando
De seu avô a seu pai De seu pai a você Atemporal observação passiva concordância silenciosa com a ordem vigente.
Lucas Bronzatto (www.outroscantostortos.blogspot.com)
De Conselheiro a Marighella Dos quilombos às ocupações do MST
A necessária subversão ativa da ordem vigente
propositadamente silenciada
A lama sangrenta
encobriu o bri lho das estrelas
E o coro dos pássaros feridos
quebrou a s infonia dos mestres
Pasmos!
Diante da passividade do f i lho
ouvindo o lamento choroso materno.
Que buscava encontrar
entre grãos de areia,
o branco vazio das palavras
Mortas!
Ouçam a explosão de fogos
queimando por dentro da pele,
esti lhaçando os ossos,
disparando um coração
que insiste em pulsar.
Atento. . .
Às transformações do mundo.
REUNIÃO Su
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O céu parece estar sempre triste.
Coração de carne desfalece,
ama e adoece com a mesma intensidade.
Ilusões, culpa e trauma.
Sentimento encarnado grita por vida,
agarra-se na esperança dos dias seguintes.
Nenhum esforço fará diferença,
tudo o que existe e acontece está submetido
aos olhos do seu criador.
Liberdade,
a vida desperta de um sono profundo,
as escolhas compõem uma tela maior,
o tempo gasto passou pela porta.
O obscuro vem à tona,
outras formas tem sentido,
tudo se esclarece.
A vida recomeça,
o sol vem surgindo.
Aproximação à maturidade C
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TEU PEI TO
Ainda me é de desejo teu órgão perplexo, ao sexo Ainda me é de desejo teu órgão anexo ao meu.
Às vezes sonho com teu peito macio e sem roupa Às vezes lembro como era secar tua boca.
Permito sim, que me seduzas, Por que ainda quero o peito macio e sem blusa!!
Natália Pacheco
(www.nuesuasintimidades.blogspot.com)
Edifício São Vito
Finalmente demoliram o velho edifício Depois de meio século O estorvo de 27 andares foi ao chão Liberaram um pedaço de céu Um facho de sol Um ponto de vista Muitos pontos de fuga Enterraram o feio prédio E espalharam sua gente feia A poeira subiu E com ela as histórias A poeira dissipou-se As histórias ainda estão no ar Talvez até a próxima construção Talvez para sempre.
Airton Mendes
(www.poesiapoisepoisvamos.blogspot.com)
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? Quem nasceu primeiro
o carrovo Ou o homem galinha
Ro g é r i o C a b e ç a
O galinha do homem Não pensa nem se locomove Sem o seu ovocar
Vai do caixote casa Para o caixote Trabalho – shopping – consultório – estacionamento - posto
Acidentes de percurso
Quebram a casca-cara tiro no focinho Parado aí seu moço Qualidade do ar 174 Mg péssima
Do poema-duvidosa Prá que praça-árvore-sapato-calçada
Penas prá todo lado Que meu motor é de avião
CÚPULA DO TERROR
Em cada fila De ônibus Os aparelhos de mp3, e celulares Com fones de ouvidos Contam e cantam segredos
As televisões gritam bombas Enquanto os sofás se estendem (preguiçosos) Nos cantos das salas.
Os jornais espirram vírus (e doenças) E com suas tintas Tatuam nos dedos e peles [tatuam revólveres e presídios, Foices que se esgoelam por latifúndios].
Os noticiários estapeiam cada figura Cada figa de ponta cabeça Que as portas barram Para o lado de fora
empanturrado, o tempo palita os dentes depois da carnificina maquiada.
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Sacomã cruzam se os olhares Ipiranga a aproximação é inevitável os olhos prendem se de forma magnética o espaço torna se escasso a cada momento imigrantes klabin e o olhar não se desgruda ao chegar na ana rosa ambos percebem que não há mais o que fazer a entrega as mãos que a seis minutos estavam guardadas se entrelaçam no paraíso o movimento é para poucos mas agora já não importa as mãos fazem pequenas caricias os membros tocam-se em euforia desligados do mundo um beijo que não dura mais que três centésimos de segundo ninguém nota e continuam brigadeiro trianon e o espaço começa a vagar os corpos desembarcam e os dois acompanham cada um pro seu lado cada qual com sua vida esse obsceno amor acaba na consolação
Jorge F.
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A cidade cresce com pressa E devagar atravessa o semáforo No contar dos segundos corridos Um corrimão moribundo De carros atrasados E transeuntes que se embaralham. A cidade cresce com fome E devora as ladeiras de barro Que molham e caem com a chuva Avalanche de casas Corpos ensopados no meio fio. A cidade cresce pra cima Arranha o céu Entope as ruas de prédios grandes e Apartamentos minúsculos Escritórios de luxo e pombais coloridos Abrigam e empregam sonhos Façam sua inscrição, preencham o cadastro. A cidade cresce pra baixo Subterraneamente se expande Desenterra caminhos Promete atalhos velozes Os homens andam em bueiros modernos Toupeiras de primeiro mundo. A cidade cresce pros lados Na diagonal das correntes Perifericamente e constante Como um polvo desgovernado Que se espreguiça A cada manhã
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ZINE LAPADA POÉTICA
Ano 1, nº 1.
Capa: Galo
Autores: Elaine Camilo, Lucas Bronzatto,
Sueli Rodrigues, Carol Campoy, Natália
Pacheco Gomes, Rogério Cabeça, Letícia
Mendonça, Airton Mendes, Karin Hessel,
Jorge Fernando, Fábio Rodrigues do
Nascimento e Jémina Diógines.
Concepção editorial: os autores
Apoio: Projeto Tantas Letras!
Dezembro de 2011.
Contato: [email protected]