lapada poética zine

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Ano 1, nº 1

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Fanzine colaborativo; Data de publicação: Dez/11 Gênero: poesia

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Page 1: Lapada poética Zine

Ano 1, nº 1

Page 2: Lapada poética Zine

POESIA

Caro leitor,

Você tem aqui o zine “Lapada Poética”, que

surgiu da vontade de circular os textos de

alguns participantes das oficinas de poesia do

Projeto Tantas Letras!. 2011.

Aproveitando a filosofia do “faça você mesmo”,

e com o desejo de ter uma produção palpável,

colocamos agora nas suas mãos um trago de

poesia, uma bofetada estonteante, sem contra-

indicações, mas cheio de efeitos colaterais.

Esperamos não parar nesta primeira edição.

Tome uma!

Page 3: Lapada poética Zine
Page 4: Lapada poética Zine

Decepção

Você chegou inesperadamente...

Me trouxe promessas e esperanças de felicidades,

de realizações

Meus olhos brilhavam...

Prometeu diversão, conforto, viagens...

Uma vida melhor, alegria...

Um mundo de coisas boas e agradáveis

Enfim, um pequeno paraíso particular...

E eu acreditei nas suas promessas

Mas fui iludido por você

Sim, obtive muito do que você prometeu

Mas hoje você me cobra caro por tudo o que me

proporcionou

E sempre vem sua lembrança, que me persegue

cada vez mais feroz

Fico angustiado quando apareces na minha vida

Quando me manda suas cartas...

Perco o sono, perco o apetite, perco a paz...

Mas um dia ainda te parto no meio

Maldito cartão de crédito!

Fábio Rodrigues do Nascimento

Page 5: Lapada poética Zine

A ODE

Eras minha e confesso jamais imaginá-la Em braços de outrem Cada sentido Tomada de ti remete-me à um canto Terreno e triste Neste chão plantei o que há de mim Corremos juntas Tornamos paisagem Parceiras de travessas - Cúmplices de travessuras- bem sabes que cresci E você ainda mais -Cidade amiga! Agora nos rasgamos Em duas partes, somente Digamo-nos Adeus -Não, fique. quanto a mim Fujo Para tornar-me estranha.

Jémina Diógenes

Page 6: Lapada poética Zine

A NÁUSEA TEM ETAPAS?

A primeira etapa é um trator sobre a sua cabeça.

Todos os rostos são os de Francis Bacon.

Todos os andares são os de Nosferatu.

Todos os balançares de cabelo são os da Medusa.

Todas as gesticulações são as de Alien.

Todas as palavras são as de Augusto dos Anjos.

Todos os sons são os da ambulância.

Todos os cheiros são os do esgoto.

Da segunda etapa em diante o choque já não vem mais,

[apesar do horror aumentar e ficar agudo.

A boca ainda está cheia de dentes?

A cabeça ainda tem fios?

As mãos ainda carregam o fardo?

Os pés ainda suportam tudo?

As narinas ainda puxam o veneno?

Os olhos ainda não se fecharam?

O sexo ainda reverbera?

Graças a Deus, assim veio o silêncio milagroso.

Graças a Deus, assim veio o cheiro de flores.

Graças a Deus, assim veio a cera chorosa das velas.

Graças a Deus, assim veio o alívio da Morte.

Elaine Camilo

Page 7: Lapada poética Zine

ATEMPORAL

A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra

(Eduardo Galeano)

De Cabral a Obama Da Família Real a Eike Batista Atemporal submissão massiva ao Capital e seus dominados dominantes

De Portugal à multinacional Do roubo do Pau-Brasil ao roubo da Vale

Atemporal exploração destrutiva da terra rica

a seu povo pobre

De Pero Vaz a William Bonner Dos jesuítas ao God-business Atemporal manipulação massiva Uns escravizam quando escrevem Outros em seu Santo Nome vão escravizando

De seu avô a seu pai De seu pai a você Atemporal observação passiva concordância silenciosa com a ordem vigente.

Lucas Bronzatto (www.outroscantostortos.blogspot.com)

De Conselheiro a Marighella Dos quilombos às ocupações do MST

A necessária subversão ativa da ordem vigente

propositadamente silenciada

Page 8: Lapada poética Zine

A lama sangrenta

encobriu o bri lho das estrelas

E o coro dos pássaros feridos

quebrou a s infonia dos mestres

Pasmos!

Diante da passividade do f i lho

ouvindo o lamento choroso materno.

Que buscava encontrar

entre grãos de areia,

o branco vazio das palavras

Mortas!

Ouçam a explosão de fogos

queimando por dentro da pele,

esti lhaçando os ossos,

disparando um coração

que insiste em pulsar.

Atento. . .

Às transformações do mundo.

REUNIÃO Su

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Page 9: Lapada poética Zine

O céu parece estar sempre triste.

Coração de carne desfalece,

ama e adoece com a mesma intensidade.

Ilusões, culpa e trauma.

Sentimento encarnado grita por vida,

agarra-se na esperança dos dias seguintes.

Nenhum esforço fará diferença,

tudo o que existe e acontece está submetido

aos olhos do seu criador.

Liberdade,

a vida desperta de um sono profundo,

as escolhas compõem uma tela maior,

o tempo gasto passou pela porta.

O obscuro vem à tona,

outras formas tem sentido,

tudo se esclarece.

A vida recomeça,

o sol vem surgindo.

Aproximação à maturidade C

aro

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Page 10: Lapada poética Zine

TEU PEI TO

Ainda me é de desejo teu órgão perplexo, ao sexo Ainda me é de desejo teu órgão anexo ao meu.

Às vezes sonho com teu peito macio e sem roupa Às vezes lembro como era secar tua boca.

Permito sim, que me seduzas, Por que ainda quero o peito macio e sem blusa!!

Natália Pacheco

(www.nuesuasintimidades.blogspot.com)

Page 11: Lapada poética Zine

Edifício São Vito

Finalmente demoliram o velho edifício Depois de meio século O estorvo de 27 andares foi ao chão Liberaram um pedaço de céu Um facho de sol Um ponto de vista Muitos pontos de fuga Enterraram o feio prédio E espalharam sua gente feia A poeira subiu E com ela as histórias A poeira dissipou-se As histórias ainda estão no ar Talvez até a próxima construção Talvez para sempre.

Airton Mendes

(www.poesiapoisepoisvamos.blogspot.com)

Page 12: Lapada poética Zine

IM

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IB

IL

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ID

AD

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? Quem nasceu primeiro

o carrovo Ou o homem galinha

Ro g é r i o C a b e ç a

O galinha do homem Não pensa nem se locomove Sem o seu ovocar

Vai do caixote casa Para o caixote Trabalho – shopping – consultório – estacionamento - posto

Acidentes de percurso

Quebram a casca-cara tiro no focinho Parado aí seu moço Qualidade do ar 174 Mg péssima

Do poema-duvidosa Prá que praça-árvore-sapato-calçada

Penas prá todo lado Que meu motor é de avião

Page 13: Lapada poética Zine

CÚPULA DO TERROR

Em cada fila De ônibus Os aparelhos de mp3, e celulares Com fones de ouvidos Contam e cantam segredos

As televisões gritam bombas Enquanto os sofás se estendem (preguiçosos) Nos cantos das salas.

Os jornais espirram vírus (e doenças) E com suas tintas Tatuam nos dedos e peles [tatuam revólveres e presídios, Foices que se esgoelam por latifúndios].

Os noticiários estapeiam cada figura Cada figa de ponta cabeça Que as portas barram Para o lado de fora

empanturrado, o tempo palita os dentes depois da carnificina maquiada.

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Page 14: Lapada poética Zine

Sacomã cruzam se os olhares Ipiranga a aproximação é inevitável os olhos prendem se de forma magnética o espaço torna se escasso a cada momento imigrantes klabin e o olhar não se desgruda ao chegar na ana rosa ambos percebem que não há mais o que fazer a entrega as mãos que a seis minutos estavam guardadas se entrelaçam no paraíso o movimento é para poucos mas agora já não importa as mãos fazem pequenas caricias os membros tocam-se em euforia desligados do mundo um beijo que não dura mais que três centésimos de segundo ninguém nota e continuam brigadeiro trianon e o espaço começa a vagar os corpos desembarcam e os dois acompanham cada um pro seu lado cada qual com sua vida esse obsceno amor acaba na consolação

Jorge F.

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Page 15: Lapada poética Zine

A cidade cresce com pressa E devagar atravessa o semáforo No contar dos segundos corridos Um corrimão moribundo De carros atrasados E transeuntes que se embaralham. A cidade cresce com fome E devora as ladeiras de barro Que molham e caem com a chuva Avalanche de casas Corpos ensopados no meio fio. A cidade cresce pra cima Arranha o céu Entope as ruas de prédios grandes e Apartamentos minúsculos Escritórios de luxo e pombais coloridos Abrigam e empregam sonhos Façam sua inscrição, preencham o cadastro. A cidade cresce pra baixo Subterraneamente se expande Desenterra caminhos Promete atalhos velozes Os homens andam em bueiros modernos Toupeiras de primeiro mundo. A cidade cresce pros lados Na diagonal das correntes Perifericamente e constante Como um polvo desgovernado Que se espreguiça A cada manhã

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Page 16: Lapada poética Zine

ZINE LAPADA POÉTICA

Ano 1, nº 1.

Capa: Galo

Autores: Elaine Camilo, Lucas Bronzatto,

Sueli Rodrigues, Carol Campoy, Natália

Pacheco Gomes, Rogério Cabeça, Letícia

Mendonça, Airton Mendes, Karin Hessel,

Jorge Fernando, Fábio Rodrigues do

Nascimento e Jémina Diógines.

Concepção editorial: os autores

Apoio: Projeto Tantas Letras!

Dezembro de 2011.

Contato: [email protected]